sexta-feira, 6 de abril de 2012

o oito deitado

tentamos o fim e o início. tentamos tanto… como pode não bastar o que era?
outono. não era pra estar frio? suo. ligo o ar? estou distante de tudo. ligo o ar? sempre estive distante de tudo. lembro que eu precisava perguntar a meus pais se estava frio, para ligar ou não o ar. o ar me desliga.
o cabelo preto no sofá branco. a agonia e o terror do cabelo preto no sofá branco que tanto incomodava, agora fazer eu quase querer deixar o cabelo preto no sofá branco.
a casa branca. tão branquinha que nem precisou de empregada essa semana. o blindex do banheiro sem respingos, a pasta de dente fechada, a pia sem milhares de cremes, o quarto onde se pode caminhar… a casa toda branca como as nuvens do céu. silenciosa e branca. fria e branca. terror branco.
(quando penso em meditação, rio caudaloso.)
a casa está pronta pra receber a rainha da Inglaterra, só não há espaço para ser feliz nela.
encho as garrafas de água que sempre se esvaziam. como pouco o dia todo. guardo a louça que você lavou e sempre se suja. mantenho a ilusão de colocar ordem nas coisas para que, com as coisas arrumadas, eu possa descansar. mas nunca estão arrumadas em definitivo. e nunca descanso. nem durmo direito.
(quando virei um metódico?)
há infinitos textos por fazer. se eu não fizer, vou esquecer. há contas a pagar, problemas com empresas a sanar, matérias a estudar, prosas a rimar… arrumando as almofadas manchadas lembro dos morangos mofados de Caio: “O caminho é in, não out.” Vontade de viajar. há tudo e não há você.
há também os poemas não publicados, que agora não publico da mesma forma. há os segredos que nunca houve. e a pergunta imensa: o que diabos eu queria fazer e não podia?
hoje tem curso o dia todo no trabalho. mas é sobre o gerenciamento de projetos, não é sobre o amor.
e se o amor for simples demais para mim? talvez eu precise complicar a fera para fugir da pantera… talvez eu devesse voltar pra terapia.
guardo, enfim, a foto na gaveta.

(Fabio Rocha)

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