terça-feira, 15 de dezembro de 2009

EXCALIBUR

Chegou o final da guerra
e o silêncio amplia os campos.

Na beira do oceano
sem nenhum cavalo ou dragão
sinto o peso de Excalibur pela última vez.

Ela
quer
o
mar.

Deixo-a ir.

Seu vôo de giros e brilhos
parece lento e musical.

As águas se abrindo para recebê-la
levam também
(lavam também)
minha alma.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DE NÚBIA

núbia de nuvens
       de nuvens todos
 os nossos sonhos
        somos núcleos de nuvens imaginárias
                        leves leves tão leves
              que a sombra da pena da asa
do mais leve pássaro
   passando rente
desmancharia em chuva
       ou em choro
             toda a sua branquidão

                          (dilúvio)

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

POESIA CONCRETO

O concreto do caminhão
mata o mato
em tábuas.

Plantas de todas as regiões
cada vez mais
mortas
moldam prédios
mortos
só até a massa acordar.

Vida cinza.

O homem concreto vai sério
ocupado
carrega consigo
numa mala preta e quadrada:
pressa, não ser, não saber e não poder.

Vida longa minimizando riscos:
cresce, reproduz os pais
e morre na paz de nosso senhor Jesus Cristo.

(Fabio Rocha)

domingo, 6 de dezembro de 2009

LIBERA

Quantas libélulas
é possível tossir?

Pintassilgos silvam
em silveiras e silvas e lulas sem dedo...

Políticos roubam
e pessoam se reproduzem.
Simples.
É a ordem das coisas em ordem...

Tanta coisa a mim muitíssimo interessante...

Quantas libélulas
é possível tossir?

Não estou bem não, não é?

Será meu colesterol?
Meus triglicerídeos?
Onde estão os doutores de branco
cheios de respostas?

Esse ano não tive ainda glaucoma
mas cuspi libélulas
pensando em centopéias
mês sim
mês não.

(Será a fibromialgia psicossomática? Eram os deuses astronautas?)

O poeta é um psicossomatizador, Pessoa...
Psicossomatiza tão completamente
que chega a fingir que é cor
a mor que deveras sente.

(Fabio Rocha)