domingo, 29 de abril de 2012

ansiolítico 45

ofegante e oprimido
sonolento e vencido

num caminho entre

a guerra e a paz
a sã e a louca
amante e amigo
sentindo na boca
as águas por mim
retiro (sem gelo)
um poema do rim

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

da celeste pergunta

de quantos infernos precisamos
para ver o céu
sobre nossas cabeças?

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Paul Klee

se Heráclito pintasse
se chamaria
Paul Klee

(Fabio Rocha)

OBS.: Eis um dos melhores filmes sobre arte, pintura e filosofia que vi na vida: Paul Klee - O Diário de um Artista. Assistam:

quarta-feira, 18 de abril de 2012

poema à estudante

estuda na biblioteca
depois do almoço

silêncio

o pescoço cansa
a barriga pesa
a cabeça dança

dorme sobre os livros
porque precisa passar

(sem saber
que precisamos apenas
precisar)

(Fabio Rocha)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Dicas para novos escritores e poetas: Quer saber se o que escreve está bom, como publicar, se vale a pena participar de concursos literários?

São essas as perguntas que mais vejo na internet. Tentarei responder com o que aprendi vida afora.
Primeiro, é preciso que você leia, como bem lembrou um leitor desse site de Luanda, “o aspirante a poeta ou novelista deve primar pelo domínio da língua (gramática) e possuir um certo grau de vocabulário, que lhe advém de muita leitura.” (José Luís Mendonça) Sem isso, é impossível escrever realmente bem. Correndo o risco de parecer óbvio, lembro também a importância de reler o que você mesmo escreveu.
Dito isto, para saber o valor do seu texto, acho o mais importante você mesmo gostar dele. Vai ter sempre gente que vai gostar e gente que não vai gostar, mas o que importa mais é a sua própria opinião. Além disso, ninguém sabe direito o que é ou não é arte. Logo, não valorizo os críticos profissionais, assim como muitos poetas. Também questiono o valor do conhecimento teórico para escrever poesia. Acho que podemos criar muito bem sem saber escandir, o que é uma redondilha, poesia concreta, a diferença entre haikai e poetrix, ou quem foi Bashô. Fazer uma faculdade de Letras também não me parece uma condição necessária.
Uma dica que me deram quando comecei e acho interessante é não se prender muito à forma do poema, principalmente nos seus primeiros poemas. Temos a tendência a encher de rimas ou se preocupar demais com a métrica quando começamos a escrever poesia. E o essencial é a mensagem, o que você quer passar, o que tem a dizer.
Além disso, como bem disse Bukowski em seu poema “Então queres ser escritor”, é preciso ter o que dizer. O essencial é isso. E ter paixão por escrever. Rilke, em seu “Cartas a um jovem poeta” diz que “Basta sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.” Leminski dá outras dicas boas nesses vídeos. E Quintana, nesta carta. Não deixe de ler também essas cartas de Caio Fernando Abreu que fala sobre o que é ser escritor.
Quanto a escrever um livro, buscar editoras, revistas e concursos literários, falo mais nesse post, onde também deixo um conselho de Rilke pra quem quer ser poeta. Bukowski também fala bem disso aqui. Em resumo, recomendo que faça um blog em vez de publicar um livro, que aproveite a liberdade que a internet proporciona. Mas, se tiver aquele sonho de um livro em papel, tome cuidado com editoras que só visam o lucro. Há várias hoje em dia que não cobram nada de novos autores, se acreditarem em suas obras. Antes de tudo, porém, registre seu livro na Biblioteca Nacional (Escritório de Direitos Autorais – EDA), como sempre fiz com meus livros e e-books. Quanto aos concursos literários, hoje em dia acho a mesma coisa do que os críticos… Vale mais é a importância do escrever para você mesmo. Mas se quiser participar, atualmente há um blog sem fins lucrativos que está organizando e divulgando muito bem os concursos literários: http://concursos-literarios.blogspot.com.br/
Se tiver mais alguma dúvida, deixe um comentário que tento ajudar mais.
Um abraço e boa sorte!

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

idiocracia No 4

(poema em homenagem a Globo Frases e ao site Pensador)

com a escrita, perdemos a memória
com a memória de uns gigas do PC, perdemos a capacidade de ler
textos com mais de três linhas
e de reconhecer, ansiosos,
tanta incompetência e estupidez

(temos pressa)

(Fabio Rocha)

terça-feira, 10 de abril de 2012

todo santo dia

se o poema me foge
rasgo a pele da palavra
saio de mim e tranco a porta
rimo impossível com cambalhota
caço o espaço de silêncio
com metralhadoras suicidas
e escrevo o indizível
como missão cumprida

(Fabio Rocha)

sábado, 7 de abril de 2012

na_morada

as pessoas repetem
os mesmos papéis
os mesmos anéis

moram no apesar
e, com pesar,
fecham janelas

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

geminiano

vejo todas as cores infindas
vejo os mares de flores
vejo amares, amores de rima
delícias divinas, belezas extremas, decisivos ardores…
vejo atores cansados, chagas, latrinas
restos de fogo e de mágoa
numa outra mesma menina
(pois começas sempre
e nunca terminas)

(Fabio Rocha)

fogo fátuo

o desejo não tem fundo.
mas é fogo. é fato:
no fundo, te desejo

(Fabio Rocha)

UM POEMA PARA CAMILA COM 3 MESES

(para minha sobrinha)

embalando Camila pro sono
com carinho
em seu carrinho
Camila pisca
quase dorme
quase acorda
vem e vai
mas não sai
dos meus olhos

(Fabio Rocha)

Borboletas Negras

(A Ingrid Jonker)

as palavras
batem
com a cabeça
na realidade
tremem as mãos das palavras
e todos os seus rostos
ensangüentados
choram vermelho

a palavra sorve álcool e vidro quebrado
a palavra é o último dente da agonia,
fome do justo
mordendo o ventre
que só pare
sem parar

a mesma África
o mesmo mundo
vasto mundo
a palavra está cansando
mas não morre!

(Fabio Rocha)

um anjo

(Para Rebeca dos Anjos)

me deixou um beijo bom
e batom na bochecha
entrou no ônibus
para nunca mais
ah, meu Deus
certo ou errado,
que eu tenha deixado algo bom
mais do que tirado

(Fabio Rocha)

o oito deitado

tentamos o fim e o início. tentamos tanto… como pode não bastar o que era?
outono. não era pra estar frio? suo. ligo o ar? estou distante de tudo. ligo o ar? sempre estive distante de tudo. lembro que eu precisava perguntar a meus pais se estava frio, para ligar ou não o ar. o ar me desliga.
o cabelo preto no sofá branco. a agonia e o terror do cabelo preto no sofá branco que tanto incomodava, agora fazer eu quase querer deixar o cabelo preto no sofá branco.
a casa branca. tão branquinha que nem precisou de empregada essa semana. o blindex do banheiro sem respingos, a pasta de dente fechada, a pia sem milhares de cremes, o quarto onde se pode caminhar… a casa toda branca como as nuvens do céu. silenciosa e branca. fria e branca. terror branco.
(quando penso em meditação, rio caudaloso.)
a casa está pronta pra receber a rainha da Inglaterra, só não há espaço para ser feliz nela.
encho as garrafas de água que sempre se esvaziam. como pouco o dia todo. guardo a louça que você lavou e sempre se suja. mantenho a ilusão de colocar ordem nas coisas para que, com as coisas arrumadas, eu possa descansar. mas nunca estão arrumadas em definitivo. e nunca descanso. nem durmo direito.
(quando virei um metódico?)
há infinitos textos por fazer. se eu não fizer, vou esquecer. há contas a pagar, problemas com empresas a sanar, matérias a estudar, prosas a rimar… arrumando as almofadas manchadas lembro dos morangos mofados de Caio: “O caminho é in, não out.” Vontade de viajar. há tudo e não há você.
há também os poemas não publicados, que agora não publico da mesma forma. há os segredos que nunca houve. e a pergunta imensa: o que diabos eu queria fazer e não podia?
hoje tem curso o dia todo no trabalho. mas é sobre o gerenciamento de projetos, não é sobre o amor.
e se o amor for simples demais para mim? talvez eu precise complicar a fera para fugir da pantera… talvez eu devesse voltar pra terapia.
guardo, enfim, a foto na gaveta.

(Fabio Rocha)

bailarina

a bailarina
é um anjo
de asa fina

(Fabio Rocha)

torci-colo

o pescoço aperta
afasta o sono
afasta escrever
afasta sorrisos
e modos de ser
mais leves
o pescoço alerta:
olhe
apenas
pra frente!


(Fabio Rocha)