quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MÍSTICA

O que eu busco
é o mistério
a surpresa
o encantamento
a empolgação
a superação
a vontade
o desejo...

(Mas o que tenho mesmo é o mesmo,
e o medo de sair do mesmo
me mantém mesmo
no mesmo.)

No caminho
sonhei apenas comunhões
onde havia distâncias
e afastei muitos próximos
muito próximos
nos intervalos comerciais...

Percorri vulcões ortodoxos cheios de gentes
gargarejando nada
e cuspindo metas
a ditar caminhos...

Senti o grande martelo
quebrar algum sentido
e uns e outros mundos...

Sacolejei em vícios lúdicos
rastejei por ouro e futuro
sofri pelo passado deitado...

E hoje me vejo parado
e hoje me vejo sozinho
e hoje vejo
que talvez nunca
tenha conseguido ver
algo que não seja eu...

Afora isso,
sigo parado e sozinho,
com a quase certeza,
mesmo parado e sozinho,
de nada estar além do agora,
de tudo o que preciso
morar no instante,
no entanto,
intocável de tão perto.

(Fabio Rocha)

7 comentários:

Onishiroi disse...

Raro. Um poema seu longo e com a primeira pessoa. Adorei a marcação dos versos e o tempo. O poema me passou uma sensação de solidão quase dolorosa. Talvez até tenha sido dolorosa de fato, no momento estou entorpecido demais para sentir dor mesmo lol.
Ja-ne. Como tá a UERJ, sabes?

Cosmunicando disse...

morar no instante... acho que é o mais difícil.
gostei muito desse poema ;-)
beijos

Adrianna Coelho disse...


oi, fabio!

depois de um afastamento desse (estive viajando), encontrar um poema como o seu, assim tão bom, tão verdadeiro e tão profundo... isso é tbm uma experiência mística, para mim... :)

beijos

Fabio Rocha disse...

Shonin, te mandei email, mas acho que não leu... Antes, tinha te ligado, mas fora de área... :) Queria desejar um feliz 2009!! A UERJ tá 100% de volta! Quando puder me ligue! Ja-ne.

Meninas, que prazer agradar vocês duas com um poema só [:)], poetas blogueiras favoritas! :) Acho que há um dilema nesse tema... Talvez seja algo impossível estar totalmente satisfeito com o instante, o agora, e produzir arte... (Isso após ver o documentário sobre a vida de Daniel Johnston na HBO...) Falei disso no poema novo, pois agora acho que faltou nesse. Talvez morar no instante não seja para nós. Que acham? :) Beijos

Stella disse...

Lindo o longo poema. Trajetória!
Profundo e pouco usual.
Acho que vc não precisa viver o instante todo o tempo e não se indignar. Alguns melhores minutos te querem ali. E só. E o tempo é infinito nos prazeres. Nesses momentos fique, curta, sinta, respire devagar.
Nos outros dias mortais sim, pode ser instisfeito, revoltar-se e fazer sua arte. :-)

beijos

Anônimo disse...

fiquei honrada com teus comentários!

pq acho vc um excelente poeta, que sabe escrever tão bem até as mais complexas sensações do indivíduo. esse poema é um exemplo!

"Mas o que tenho mesmo é o mesmo,
e o medo de sair do mesmo"

me sinto assim agora...rs

um grande abraço!

Ígor Andrade disse...

Eu gosto quando você prolonga essa mística toda. Morar no instante não é pra você.

Abraço!