segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ansioso
lembro de todos os sonhos.

Volto a dormir.

O vento vem
e bate a persiana
suja.

Balança
mas não cede.

O peito aperta.

Volto a dormir.

Almoço.
Volto a dormir.
Tarde.

O peito bate.

Dentre quatro paredes
eu sou a quinta...

Não ouço o som
da minha voz.

O peito pede mais.

Nada tem uma cor
diferente
do desprazer.

Noite.

Como demais:
mais vazio.

Só um poema.


um
poema...

Só um poema
pode me salvar.

(Fabio Rocha)

9 comentários:

Onishiroi disse...

Geez... pare de escrever assim ou vou acabar chorando, e isso não seria bom para minha reputação.
Esse poema me pareceu velhp, por parecer algo que repito todos os dias a mim mesmo. Eu me lembro dos sonhos, seguindo de um momento à outro apenas por essa lembrança de um sonho de algo bom, ou talvez nem mesmo necessariamente bom. Meu peito bate, mas como apenas um fato, um fato distante, um bater que não sinto, que não ouço, e que frequentemente não acredito.
Ontem a tarde, eu escrevi um poema, o primeiro poema em meses. Quase fiquei feliz, quase me senti vivo uma vez mais. Um amigo me disse, com a sabedoria dos ébrios, que sou um poeta, e não um mártir.
Pois que seja. Se o mundo tornar-se branco e cinza, um poema há de me salvar. Há de salvar todos nós. Seja um poema épico como os Lusíadas, seja um poema curto como Erro, haverá um poema nos esperando, mesmo que seja um que esteja gritando em nossas mentes para ser liberto.
Ja-ne. Que poema te descreve?

Nadine Granad disse...

Busquei poesia... encontrei! ;D

Gostei desse poema... na verdade, me identifiquei com ele... Engraçado como algumas idéias encontram abrigo no discurso alheio sem esperarmos... sem premeditações...

Tomei a liberdade de adicionar seu blog no meu... É novo...ainda está em fase de amadurecimento... é minha explosão de idéias, sem pretensões grandiosas...

Abraços! Parabéns!

Fabio Rocha disse...

Mosés, que bom te ver escrevendo de novo! Muito legal! E bela análise do meu poema deprê também, valeu... :)

Nadine, obrigado! Vou te retribuir a visita agora. :)

Fabio Rocha disse...

Nadine, bela homenagem pra Giselda. Mas os comentários no seu blog acho que não funcionam...

Stella disse...

Nossa, que lindo poema
onírico :-)
doído
fechado

Você que se sente a quinta parede, aqui é janela, é vento sussurrando palavras e sonhos a leitores do mundo. Ouvimos sua voz e até sentimos teu peito pulsar.

Prazer

"marcaria" rs

beijos, poeta

Kely Cristina S. Felício disse...

Que lindo, qu sejamos todos janelas do possível, escancaramento para uma vida-hausto-largo, caudalosos de cores, prenhes de paisagens, que o sol nos lamba as voragens, as paixões, a humildade de janela imersa na grande jorragem de luz que é viver. Bjs.

Fabio Rocha disse...

Stella, minha janela, que lindas palavras, obrigado! Me fizeram um bem danado... :) Beijos

Kely, obrigado também pela visita e carinho!

Marcelino disse...

" Dentre quatro paredes/ eu sou a quinta" Essa imagem é belíssima e muito eficiente, na medida em que consegue representar quase visualmente o que acontece com o homem do século XXI: tornar-se uma parede, mimetizar-se em objeto sólido, em barreira para si mesmo e para o outro que, às vezes, quer lhe estender a mão. A solução como parece sugerir o desfecho do texto é, mais que a escritura, a leitura da poesia, o reencontrar-se com outras formas de sensibilização via palavra escrita ( ou dita).

Fabio Rocha disse...

Marcelino, nossa, profunda sua interpretação do poema, eu mesmo não tinha chegado a tanto no meu consciente, acho. Obrigado pela leitura e comentário.