segunda-feira, 9 de maio de 2011

SP

(Para Núbia Costa)

bruto
e rápido
e ríspido
respira-se o cinza
vive-se em luto apressado
e o silêncio desassossega o plexo

*

resta o luto
de tantos desencontros
resoluto
parto o peito
(parto
e nada nasce)

*

sampa sem samba

terra minha tripartida
língua cinza
tudo cinza fast
brigam-amam alto e sempre
nada como o esperado, amiga
como a pizza mais triste da vida
minutos depois do melhor omelete:
dor de barriga

saudade do mar
da paz do mar

se amar é isso
tenho orgulhosamente
medo de amar

*

não fode:

mão estendida apenas
quando a outra mão
foge

*

é um absurdo
nos obrigarem a tirar férias

farei piquetes
construirei fábricas
me acorrentarei a escritórios

*

fui até são paulo
encontrar o pior de mim.

amor,
nada
absolutamente nada
funcionou como deveria
(do início ao fim)
e nenhum dos dois
está minimamente disposto
a quaisquer contratempos.

(no entanto teve o melhor omelete)

voltei voando sobre uma dor inexplicável
enquanto me ofereciam amendoim
e não sei se isso tem algo a ver com o supracitado

(lástimas e lágrimas)

que bosta, Costa:
amar não basta.

não me ame
pelo amor desse deus filha da puta
nem depois de todas as cervejas do mundo
me ame

como pode tão já
tanto extremo
bom e ruim?
50 anos em 5 dias?

não me toque.
a noite é longa demais.
não me acorde apenas pra te ver dormir!

o sonho rápido demais em pesadelo
o colo rápido demais em abismo
fere.
não desperte o pior de mim!

nosso filme
(comédia nonsense)
só teve inícios
nunca terá o devido meio
nem fim

fume em paz:
aqui jaz o que seremos
(nesses versos ridículos)

perante tanta tristeza
estou com saudade
de minha ansiedade solitária

vou entrar nesse apartamento
e só vou sair
depois de dormir pelo menos uma noite inteira
quando a vida deixar de ser um lamento triste e sem sentido
após você me esquecer perto do celular e dos óculos
e mesmo assim não vou entender o que houve
nem por que choro

cuspo reto na palavra amar

(por favor, me ame)

(Fabio Rocha)

Um comentário:

Ígor Andrade disse...

Eita!

Quando o poema estica eu fico com medo de ler.

Abraço!