quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

UIVO


(Para Allen Ginsberg)

caminhamos

os poetas se escondem
entre pratas roubadas e pulgas
em apartamentos ínfimos abaixo dos metrôs
em comportamentos íntimos expostos
em manicômios e alucinações auto-impostas
tomando choques de realidade constantemente
batendo de automóvel em comportamentos estabelecidos
sofrendo na solidão dos eternos inícios entre bocas nos cinemas
um milhão de promessas de amor fodidas, todas sagradas, tudo sagrado
presos por cimento e concreto na literalidade azul de Alcatraz
presos na pobreza da prosa monetária auto-ajuda sem sangue nem presas
rebelam-se voando em cores de telhados
suicidas agarrando a vida pela camisa só pra gritar na sua cara: "Estou vivo!"
fortalecidos ou mortos
fortalecidos ou mortos pelo poema da vida
derramam-se hidroterapeuticamente doces em bueiros porcos
dão aulas de educação moral e cívica em puteiros
sobrevivem nos cantos
têm epifanias na última porta fechada com perfume às quatro da manhã
sob o peso do belo mais pútrido
sem nenhuma visão da Eternidade além da pele feminina
só por causa dos cantos
de sua própria garganta
(gargalo de prantos e planos)
seguimos nos arrastando lindamente pro alto, aranhas de poucas pernas
seguimos além do muro
além
da
palavra
sonho

(Fabio Rocha)

5 comentários:

Rafael Castellar das Neves disse...

E só pulando tudo isso para conseguir, ao menos, a esperança de continuar andando para estes sonhos..rs

[]s

Cintia Mara disse...

isso diz tudo
tudo que observamos hoje, as pessoas só não diz porque esta distante, tudo distante, até sonha um sonho distante. E ninguém fala nada fica trancado em seus rostos tristes.
Foi o que entendi

Iacione Cristina P. Ramos disse...

Nossa,conheço alguns poetas,alguns poemas,mas poucos sabem-se e você é,e sabe SER...

Fabio Rocha disse...

Obrigado!

Ígor Andrade disse...

Um dos melhores que já li!