sábado, 30 de dezembro de 2006

FORÇA

Tenho me afastado da força
tenho me afastado da forca
(como palavra
no café da manhã).

Tenho procurado o caminho fácil
mas minha paixão é o difícil
e um palavrão - PORRA!
é necessário
sempre
para manchar meu poema no estômago
antes que ele levemente rime
fraqueza com pureza
dor com amor.

(Fabio Rocha)

DESPERTAR

Acordar do total silêncio
na curva da lua nova
sombra da lua nua:
palma da mão
do espaço
que somos
acarinhando
suave o teu seio.

                       Acordar
                       sem pressa
                         para o infinito.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

terça-feira, 21 de novembro de 2006

ROTINA TURNER

e debaixo da mesma mesa
no mesmo horário
na mesma tristeza fria
me escondo do mesmo

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

PARTÍCULAS-ONDAS: UM POEMA FÍSICO-QUÂNTICO

Para Ingrid

Somos todos ondas
de um mesmo (a)mar...

Busquemos, então
interferências construtivas.

(Fabio Rocha)

domingo, 19 de novembro de 2006

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

DE NOVO (DIMINU-INTUITIVO)

Braços apertos
em expansão horizontal
girando girando
unhas disparando agulhas
facas matando vacas inocentes
farpas de cercas brancas
nas mãos macias

(Dor como vingança
da dor que cultivamos
no maldito mesmo)

(Fabio Rocha)

VERMELHO

Enquanto a chuva não cai
enquanto a casa não cai
e o planeta não explode
rastejemos unidos
voando sobre as inundações
rastejemos contentes
enquanto o sinal não abre.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

POEMA-DOCE PARA STELLA

Sinuosa
a idade vem
se instalando

(sibilando
seriedades
sutis)

Por sorte escapa
Stella
escápula aérea
mesmo que sem capa
no sorriso-menino
de amar

(Fabio Rocha)

sábado, 11 de novembro de 2006

O DE SEMPRE

Sê bem-vindo
ao frio castelo
que te diminui.

Entra
com a tua própria
chave...

Senta no sofá
branco como o nunca
silencioso como o nada
e aguarda
o se arrepender
com o pescoço tenso...

(Um dia
esse dia
vai acabar).

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

ENTREMENTES

Para Nietzsche

O mundo não basta.

Incomoda.
Não acomoda.

E
além deste grande cômodo
a incômoda verdade
do caos
onde vemos a lenda da ordem
com olhos de medo individualizados.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

FOLHA BRANCA

Nasce leve
a palavra
(e muda)
penso, logo insisto
podo as inutilidades
mordo os excessos de eu
limo os cantos
e tento voltar tudo
para o centro
para o céu do poema
para o principal
para o alvo.

(Fabio Rocha)

ONDE ESTÁ O QUE PROCURAVA?

Algo em mim
quer ver meu extrato bancário
enquanto faço este poema.

Algo de método, planos e medo
que nada e nada e nada sabe do todo
nada sente do todo oceânico.

Todo esse outro que arde
na outra parte
de mim mesmo.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

MORNO

Para Lucimara Hayoama

Olho com modorra
os olhos meus sem vida
igual ao de todos nessas formas
nessas formas de (sobre)viver
padronizadamente seguros
calculando riscos e lucros e dias
pro futuro mais feliz que chegará de certo
na estrada mesma de sempre, mesma de todos, maleficamente mesma
nascendo, crescendo, reclamando, reproduzindo-se, morrendo.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

DAS RESPONSABILIDADES

Ó, fúteis seres reclamantes
conformados
estagnados
preocupados em manter...

Saibam que tuas almas
têm diamantes
e um mundo inteiro
para moer!

(Fabio Rocha)

ANTI-BUDISTA

Eu queria muito
muitas vezes
fazer só poemas muito bonzinhos
visando o bem geral do todo
e a harmonia plena do lindo universo...

Mas não é sempre.

(Diga ao povo que minto.)

Às vezes, poema
é uma atividade mórbida
de transmover dentes e raivas e garras
redemoinhos de plexos solares borbulhantes
de dias inteiros, vidas inteiras de desprazer total
em palavras.

Para que te firam, não a mim.

(Fabio Rocha)

PROTEÇÃO

Meu desabafo é na tela
já que me falta coragem
de abrir na alma
uma janela.

(Fabio Rocha)

FINS MEDICINAIS

Um poema
para evitar o suicídio...

Uma pena
a vida
esta vida esta
cheia da possibilidade de aquelas...

Um desperdício
de tempo
de ar respirado
de mãos em teclados...

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

AMAR: QUEIMAR AMARRAS

tempestade tátil das mãos
(in)vento susurros certeiros
pele com fogo de dragão
e sabor dos nevoeiros...

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

SONHARTE

Senhor, senhor
por que me abandonaste
nestes campos pétreos
toda noite a sonharte?

Tão tranquilos os que não sonham
tão conformes os que não sonham
tão seguros os caminhos dos que não sonham...

No entanto eu
sonharte
e toda parte de mim
arde.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 3 de outubro de 2006

ODE A MOEDA

E se deslizar
esguio
inotado
transparente
entre as paredes dos dias?

E se escapar
evitando a luta
embromando o sonho e o mal
prevenindo estar desprevenido?

E se adiar o Dia
indefinitivamente?

(equação irresolvível
tendendo ao risível)

Sim, terei perdido apenas
a calma vida
a calma
e a vida.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

UM MAIS QUE TODO MAIS QUE UM

Ah, cinza manhã
de corpos sem alma...

Manhã de cheiros apagados
de incêndios controlados...

Sonhos de morte esquecidos
sonhos de amores incertos
sonhos sem vontade.

Ah, saudades
dolorosas
de quem fui.

Bandeira,
o que fazer
com a estrela possível
com a estrela alcançável?

Bandeira,
deves ter sido
outro imbecil...

(Fabio Rocha)

sábado, 16 de setembro de 2006

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

EVANGENAZISMO

Amai-vos uns aos
trancos
aos apontamentos
dos céus fechados
para quem não é
como
nós.

Amém.

(Fabio Rocha)

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Onde estarei daqui a 5 anos?
No presente.
E você?

(Fabio Rocha)

domingo, 10 de setembro de 2006

ESCOLHER

À nuvem charmosa e diversa
que zumbe depressa
em torno de versos
prefiro
o um.

O um maior que o todo.

Não
não sou eu
meu eu-lírico.

(Sou mais
ou menos).

Prefiro a sinceridade
do hoje
às promessas de amanhã.

Prefiro a realidade
do sorriso único
à todas as libertarieades.

Prefiro o presente!

Escolho
não só por mim
mas também assim
porque amor.

(Fabio Rocha)

sábado, 9 de setembro de 2006

DA POLÍTICA NOSSA DE CADA DIA

Como é fácil
ser honesto
quando a propina é baixa...

(Fabio Rocha)

SÓCRATES ESTAVA CERTO

Eu não sei mais nada.

Não me perguntem porra nenhuma.

Estou aqui.

Você está aí.

E nada pode mudar
o espaço intransponível
que separa eu de mim
e você de você.

Imagine entre nós...

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

PEDAÇO DO HINO NACIONAL

nossos postos de gasolina
vendem álcool para carros e pessoas
ó patriamada idolatrada salvesalve

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

PERSPECTIVA

quanto mais alto vôo
melhor percebo
a gaiola

(Fabio Rocha)

SEM MAIS

concedo à folha
o silêncio
que concebo

(Fabio Rocha)

BATALHÃO DE CHOQUE

preciso achar um tempo
no meio do tiroteio
pra falar daquelas flores
daquelas flores caídas
daquelas flores abertas
nas calçadas da favela
colorindo rosa-choque

(sim, apesar de tudo, é primavera)

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

PAZ: A CHEGADA

A luz faz
muito silêncio
mas
a escuridão traz
revoluções e incêndios.

A luz celestial templária faz
ascensão de almas inexistentes
num céu de anjos tortos
e deuses julgadores mortos.

No entanto,
sozinho
no silêncio da luz da casa simples
além do tempo crono-lógico
a escuridão crepitante brilha
(perdida e recuperada).

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

ESTRELA DO CÉU DA BOCA

É tarde...

Lá fora as horas passam
no escuro.

Dentro em mim um anjo puro
deixa tudo claro.

(Fabio Rocha)

DESISTIDOS TÍTULOS

Vende 7 selos
grita no vermelho
sente o teu silêncio...

Sente o teu silêncio
olha quem vem nele
pára de correr.

Sente teu silêncio
no banco da pressa
olha o que se passa
natureza morta.

Sobe o teu olhar
sabe o teu olhar
sábio teu olhar
pra dentro.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

(ME)

amaldiçoo o silêncio
que me leva a
(me) criar

(Fabio Rocha)

MICROHIPOCRISIA

eu não vivo de comer alface
pelo bem dos animais
porque as planárias
também têm ideais

(Fabio Rocha)

DA INTERPRETAÇÃO DO SONHO

Era eu num barco.

Ao lado, uma baleia preta
enorme como meu desejo.

Cientistas tentavam
contê-la, entendê-la, estudá-la.

Eu a admirava.

E ela mergulhou
livre
se foi lentamente.

Virou noite
e uma mulher sem rosto me disse
que as baleias, antigamente
eram livres pra nadar nas estrelas.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

terça-feira, 8 de agosto de 2006

sábado, 5 de agosto de 2006

QUADRO DEPRESSIVO

Dentro em mim vermelho
caem muros altos
de castelos musgos
lentamente frios.

Escombros do todo.

Não quero saber
que parte da arte
partiu primeiro.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

NÁUFRAGO

Para Priscila Holanda

Quando tudo falha
e a madeira range
e a casa rui

Quando tudo ruim
e uma cor cinzenta
sombreia a placenta
sem nascer a luz

Quando o som da noite
entra pelo dia
trazendo vertigem
pra quem tem sentir

Quando o não sentido
se faz percebido
e o desespero
cabe num olhar

Quando a luta pouca
sai duma voz rouca
querendo dormir

Me agarro num poema.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 27 de julho de 2006

EU MUDO

Os telejornais
(ais ais ais)
todo dia inovando
em notícias iguais ais ais
e na mesma ordem
todo dia
esportes no final
todo dia
todo dia
como que dizendo sem dizer:
você não pode fazer nada a mais
para mudar o mundo.

O mundo...

Eu mudo
de canal.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 11 de julho de 2006

ABRIR

romper os ciclos
ciclones
de visão que volta a ver
apenas o real
romper
romper
sair do repetitivo mesmo
sair, ver de fora
ver além
nem ver:
sentir

(Fabio Rocha)

UM POEMA

Venho por meio desta
achar tempo
para fazer um poema.

Um só
mesmo que correndo
enquanto os artistas da Globo
enquanto as novelas
enquanto as copas
as palavras sem valor
as horas sem valor
os dias
os anos
ânus
enquanto isso.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 29 de junho de 2006

AO POETA DE 7 FACES

Preso ao mundo
aos celulares
às rotinas de escritório
às ansiedades
às cidades
às idades
solto minha poesia.

(Suspiro)

Solto minha poesia
para não pegar em armas
solto minha poesia
pois senão não viveria
até hoje, no meio do asfalto
a flor de Drummond.

(Fabio Rocha)

sábado, 13 de maio de 2006

CHOVENDO

Olho fora o frio
e sorrio:
tenho uma estrela cadente
chovendo no peito quente...

(Fabio Rocha)

terça-feira, 9 de maio de 2006

PARA WALY SALOMÃO

Sento em frente à mesa
E olho o monitor
Enquanto dentro estranho
Um Waly Salomão que grita.

Enquanto sempre e santo
Um verso um canto dentro
Silencio fora
Contando os lucros
Organizando a contagem dos lucros de semblante sério
Ornamentando a organização doentia dos lucros silenciosos
Como marketing pessoal para um currículo futuro numa área que não quero
Que não quero, que não quero, que não quero, que não quero...

Mas espero...

E adio a hora
De partir da bosta
De partir pra vida
Ou pra mendicância
De partir, não interessa pra onde!
Partir ao meio o medo a razão o pé no chão o salário maldito mensal atrasado que não paga a manutenção do carro velho maldito quebrado e que se pagasse isso tudo faltaria para manter um carro melhor maldito ou outras inutilidades malditas mais caras.

E
Dentro
Waly
Salomão
Gritando, gritando
Subindo nas mesas
Chutando as telas
Correndo por tudo
Brincando de pega
Parando por nada
Gritando
Gritando grande
Do tamanho da noite
Do tamanho da morte infinita
Do tamanho da vida
Que passa...

Passa amanhã
a manhã
e a tarde
é já é tarde
em casa
sem estrelas
ligo a TV
e me pergunto
(mais calmo)
quando
pararemos
de perder
tempo.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 24 de abril de 2006

CLIMA

Um ciclo se fecha
sem que os homens percebam.

Coincidências se unem
o fim toca o começo
e a eternidade sorri.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 21 de abril de 2006

terça-feira, 18 de abril de 2006

RESISTO!

Existo!
Resisto à anestesia constante
de meus sentimentos.

Resisto ao sono com hora certa
para acordar cedo no dia seguinte
e trabalhar calmo e cordato no horário comercial do dia seguinte
depois dormir novamente pensando no outro dia subseqüente, calmamente.

Trago caneta
(não fumo)
e espada para cortar espelhos
óbvios, repetitivos e mornos
reais espelhos seguros...
Ansiolíticos espelhos!
(não bebo)

E sigo juntando cacos
e dinheiro
e palavras
no poema
sem tempo
ou disposição
para ser só.

Tempo.
O tema que não consegui
decifrar em 3 anos de psicanálise.
(Faltou tempo...)

Ouso buscar estrelas
e quase não acreditar quando as toco
(ser feliz, feliz, deliciosamente feliz como nem lembrava poder!)
mas me envergonho de passar os dias nesta sala
nesta sala condicionada
nesta sala condicionado
ao ar condicionado
tentando de tudo
pra matar o tempo
e não ver que o perco
no lugar errado
mesmo sabendo
que sou
que suo
que há estrelas lá fora
e um céu dentro de mim.

O tempo é que há
de me matar
e matar tempo
é perder tempo
de vida breve
de vida leve
devido a greve?

Devido à greve
de minha grave faculdade pública
minhas privadas faculdades mentais
me culpam pela não passeata?
Pela não concordância da greve?
Pela sala?
Pela cela?
Pela sela do cavalo alado que não monto
pela espada não imaginária que não aponto
contra o deserto do real espelho real enormemente real e colorido
que só consigo quebrar em versos brancos?

Suspiro.

Saudades da estrela.
Vontade de amanhã à noite.

O dia foi uma eternidade...
Quase tão longa quanto o poema.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 13 de abril de 2006

ESTELARES

Na primeira vez que vi Stella
acabou a luz do quarteirão.

Na segunda,
não soube o que tinha nas mãos.

Da terceira à septuagésima quinta
tentei ser amigo em vão.

E agora,
finalmente,
perdi as contas
o medo
a dúvida
e me permito nadar no céu.

(Fabio Rocha)

sábado, 1 de abril de 2006

QUARTO QUINTO

(Para Pauvolid)

minha cama eh um deserto frio
um lençol de água concreta
uma torrente de arrepio
uma promessa, uma resposta vazia

(Fabio Rocha)

SEU PEDIDO, SENHOR?

Não, não quero um dia após o outro
quero tudo agora
tô cansado de adiar
de esperar
de lutar
de meditar
de procurar...

Quero rápido.
Pra viagem.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 22 de março de 2006

(PARENTES)

Gosto
quando os parênteses
protegem meu nome:

(Fabio Rocha)

ITINERÁRIO

A vida passa
a vida é essa
correria
na corrente
de água negra
de repente
um respiro:
paixão.

Volta a pressa
volta a vida
água fria
derradeira
quando muito
brincadeira
mas respiro:
outra paixão.

O rio muda
eu mudo
a paixão muda
a vida muda
mas a poesia fala.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 15 de março de 2006

TENHO O QUE TEMO

E teimo em não saber
o que temo
nem o que tenho.

(Sem sim com
sigo...)

(Fabio Rocha)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

COSTELA

Há uma rocha em meu nome
uma estrela inalcançável
fria e com frio
em meu peito
e uma vontade louca de achar
algo que devo estar procurando

(Fabio Rocha)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

3 FRASES QUE ODEIO:

- Melhor eu ir, que tá ficando tarde.
- O que há entre nós é amizade.
- Quase não arde.

(Fabio Rocha)

sábado, 18 de fevereiro de 2006

SÓ JESUS TIRA DEMÔNIOS DAS PESSOAS

O céu caiu
como
invariavelmente
cai
depois da paixão.

(Mas ainda me surpreendo.)

Dentre escombros de nuvens etéreas
procuro o Deus inexistente
para matá-lo a gritos.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

DO NÃO SABER

Não dizer
não saber
não arriscar
não amar nem odiar
ser mais ou menos morno no murro...

Mais ou menos morto no muro...

O caminho do meio
leva à mediocridade.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

ONDE PARA?

Releio sem ler Schopenhauer
e reparo:
paro de novo.

Não querer nada,
nem céu
nem asas.

Não depender
de nada
além do agora.

Pra voar,
é preciso
não querer voar.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

FORA DO OVO

Vou e vou e vou
um pé após outro
tropeço e recomeço
e vou e vou e vou
até o vôo.

(Fabio Rocha)



Foto: Ierê Ferreira

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

CHUVAS DE VERÃO

um tiro
dois tiros
tostines
no chão

chove
e a cidade
se alaga:
sangue, biscoito e água

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

domingo, 1 de janeiro de 2006

traduções livres minhas

Então queres ser um escritor?
se não sair de ti explodindo
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração e da tua cabeça e da tua boca
e das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que sentar por horas
olhando a tela do teu computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes porque queres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como algum outro escreveu,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás pronto.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas estúpido nem enfadonho e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te esteja a queimar as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra forma.
e nunca houve.
(Charles Bukowski)
(tradução livre de Fabio Rocha em 20 de abril de 2013, baseada no original em inglês)
***
RIMA XLII – Gustavo Adolfo Bécquer
Cuando me lo contaron sentí el frío
de una hoja de acero en las entrañas;
me apoyé contra el muro, y un instante
la conciencia perdí de dónde estaba.
Cayó sobre mi espíritu la noche,
en ira y en piedad se anegó el alma.
¡Y entonces comprendí por qué se llora,
y entonces comprendí por qué se mata!
Pasó la nube de dolor…. Con pena
logré balbucear breves palabras…
¿Quién me dio la noticia?… Un fiel amigo…
Me hacía un gran favor… Le di las gracias.
*
RIMA XLII
Quando me contaram, senti o frio
de uma lâmina de aço nas entranhas;
me apoiei no muro e, por um instante,
perdi a consciência de onde estava.
Caiu sobre mim o espírito da noite,
em ira e em piedade se afogou a alma.
E então, entendi porque se chora,
e então, entendi porque se mata!
A nuvem de dor passou… Tristemente
consegui balbuciar breves palavras…
Quem me deu a notícia? Um amigo fiel…
Me fazia um grande favor… Agradeci-lhe.
(Gustavo Adolfo Bécquer – tradução livre de Fabio Rocha)
***
Um Coração Perdido e Encontrado
Se não há lua cheia no céu
Como é possível ver o reflexo no lago?
Se o tigre tem garras afiadas,
Como é possível não usá-las?
Como poderíamos assar nosso pão
Se não houvesse fogo?
Com a morte do Karmapa, nos tornamos mais sensíveis e devotos.
É verdade.
Aqueles que nunca choraram em suas vidas, chorem desta vez,
E suas lágrimas derramadas regarão a terra
Então poderemos produzir mais flores e verduras.
*
A Heart Lost and Discovered
If there is no full moon in the sky,
How is it possible to see the reflection in the pond?
If the tiger has sharp claws,
How is it possible not to use them?
How could we bake our bread
If there were no fire?
At the death of the Karmapa we become softened and devotional.
It is true.
Those who have never cried in their lives, cry this time,
And shed tears that will water the earth
So we can produce further flowers and greenery.
Uma flor sempre está feliz
Uma flor sempre está feliz porque é bonita.
Abelhas cantam suas canções de solidão e pranto.
Uma cachoeira está ocupada correndo pro oceano.
Um poeta é soprado pelo vento.
Um amigo sem dentro ou fora
E uma rocha nem alegre nem triste
Estão vendo a lua crescente do inverno
Sofrendo com o vento afiado.
*
A flower is always happy
A flower is always happy because it is beautiful.
Bees sing their song of loneliness and weep.
A waterfall is busy hurrying to the ocean.
A poet is blown by the wind.
A friend without inside or outside
And a rock that is not happy or sad
Are watching the winter crescent moon
Suffering from the bitter wind.
***
Poema 20
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e piscam, azuis, os astros, ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.
Nas noites como esta,  tive-a entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me desejou, e às vezes eu também a desejava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se conforma por havê-la perdido.
Como que para aproximá-la, meu olhar a procura.
O meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a desejo, é verdade, mas como a desejei…
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a desejo, é verdade, mas talvez a deseje…
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento…
Porque em noites como esta tive-a entre meus braços,
minha alma não se conforma por tê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.
Pablo Neruda )
(Tradução livre de Fabio Rocha e Luis Cubas Vivanco, do livro Pablo Neruda – poemas para recordar – Selección de Óscar Hahn, 4a edição. Santiago do Chile: Fundación Pablo Neruda, Outubro de 2012, ps. 15 e 16 – poema original do livro “Veinte poemas de amor y una canción desesperada” (é o poema 20). Enviado como imagem pela leitora Tirene Pavanelli)

***


RIMA LIX
Eu sei qual é o objeto
de teus suspiros;
eu conheço a causa de tua doce
secreta languidez.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que.
Tu suspeitas,
e eu sei.
Eu sei quando tu sonhas,
e o que vês nos sonhos;
como em um livro, posso ler
o que calas.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que.
Tu suspeitas,
e eu sei.
Eu sei por que sorris
e choras ao mesmo tempo;
eu penetro nos vãos misteriosos
da tua alma de mulher.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que;.
enquanto tu sentes demais e nada sabes,
eu, que já não sinto, tudo sei.
(Gustavo Adolfo Bécquer - tradução livre de Fabio Rocha)
*
RIMA LIX
Yo sé cuál el objeto
de tus suspiros es;
yo conozco la causa de tu dulce
secreta languidez.
¿Te ríes?… Algún día
sabrás, niña, por qué.
Tú acaso lo sospechas,
y yo lo sé.
Yo sé cuándo tú sueñas,
y lo que en sueños ves;
como en un libro, puedo lo que callas
en tu frente leer.
¿Te ríes?… Algún día
sabrás, niña, por qué.
Tú acaso lo sospechas,
y yo lo sé.
Yo sé por qué sonríes
y lloras a la vez;
yo penetro en los senos misteriosos
de tu alma de mujer.
¿Te ríes? … Algún día
sabrás, niña, por qué;
mientras tú sientes mucho y nada sabes,
yo, que no siento ya, todo lo sé.


(Gustavo Adolfo Bécquer - fonte)

***



ODE AO DIA FELIZ
DESTA vez deixa-me
ser feliz,
nada aconteceu a ninguém,
não estou em parte alguma,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro lados
do coração, andando,
dormindo ou escrevendo.
O que vou fazer, sou
feliz.
Sou mais inumerável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa
e a água abaixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
em minha cintura,
feita de pão e pedra, a terra
o ar canta como um violão.
Tu ao meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje tua boca,
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.
Hoje deixa-me
a mim só
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.
Pablo Neruda )
Poema “Oda al día feliz” de Pablo Neruda, escrito em Isla Negra. Publicado em “Odas elementales”, em 1954. Tradução livre de Fabio Rocha.
*
ODA AL DÍA FELIZ (original)
ESTA vez dejadme
ser feliz,
nada ha pasado a nadie,
no estoy en parte alguna,
sucede solamente
que soy feliz
por los cuatro costados
del corazón, andando,
durmiendo o escribiendo.
Qué voy a hacerle, soy
feliz.
Soy más innumerable
que el pasto
en las praderas,
siento la piel como un árbol rugoso
y el agua abajo,
los pájaros arriba,
el mar como un anillo
en mi cintura,
hecha de pan y piedra la tierra
el aire canta como una guitarra.
Tú a mi lado en la arena
eres arena,
tú cantas y eres canto,
el mundo
es hoy mi alma,
canto y arena,
el mundo
es hoy tu boca,
dejadme
en tu boca y en la arena
ser feliz,
ser feliz porque si, porque respiro
y porque tú respiras,
ser feliz porque toco
tu rodilla
y es como si tocara
la piel azul del cielo
y su frescura.
Hoy dejadme
a mí solo
ser feliz,
con todos o sin todos,
ser feliz
con el pasto
y la arena,
ser feliz
con el aire y la tierra,
ser feliz,
contigo, con tu boca,
ser feliz.


Pablo Neruda )

*

“Fui à floresta porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se eu poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando eu vier a morrer, descobrir que nunca vivi. Eu não desejei viver o que não era vida, estar vivendo me é tão caro; nem desejei praticar a resignação, a menos que fosse necessário. Eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida, viver tão robustamente tal qual um espartano e jogar fora tudo o que não era vida (…)”

(Henry David Thoreau)
“I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived. I did not wish to live what was not life, living is so dear; nor did I wish to practice resignation, unless it was quite necessary. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, to live so sturdily and Spartan-like as to put to rout all that was not life, to cut a broad swath and shave close, to drive life into a corner, and reduce it to its lowest terms, and, if it proved to be mean, why then to get the whole and genuine meanness of it, and publish its meanness to the world; or if it were sublime, to know it by experience, and be able to give a true account of it in my next excursion.” fonte