terça-feira, 31 de agosto de 2010

TÃO SIMPLES E COMPLICADO


mundo grande...

não ter que ser sol

mãos dadas
firmes e além-mágoas

não ter que ser tudo
não ter que ser só

(Fabio Rocha)

SALTO

o grito é baixo?
o mundo, pouco?
bem-vindo ao clube:
você é louco

(Fabio Rocha)

LUIZA MACIEL NOGUEIRA


cria ave
cria vento
cria canto
cria tanto
criatura
criadeira

(Fabio Rocha)

OBS.: Conheça o Blog de Luiza. O desenho é dela.

BATE-BOLA DOM JUAN


medo antigo
é medo atávico aquém março
vontade de vestir a máscara, o marco
e fingir ser assustador
quando na verdade temo e tremo
e luto pela trema

(Fabio Rocha)

sábado, 28 de agosto de 2010

BOM DIA, OSHO

acordar às dez
encher o pão de mortadela e manteiga
esvaziar a mente

dissolver no iogurte
os problemas que não há
e se houver
não resolver

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTILO: PRESSA

me falaram pra guardar a palavra na gaveta
limar mais o verso, madurar e tal...
enquanto isso, fiz dois poemas

(Fabio Rocha)

Quase 7.000 páginas com meu poema!


É isso mesmo, Google? Vou até postar ele de novo pra celebrar... ;)


NÃO PISE NA GRAMA

Placa inútil e amarela:
"Não pise na grama."

Amarela
pela ausência de girassóis.

Inútil
porque não tenho os pés no chão.

Fabio Rocha 


(do e-book TUDO PELOS ARES)







OBS: As imagens acima foram postadas junto com o poema, aqui e aqui. E a plaquinha amarela tirei da comunidade do orkut que fizeram pro poema.

OBS2: O poema também foi um dos selecionados por Ekaterina para ser traduzido pro russo. Em breve deve circular em algum impresso na terra de Maiakóvski.

OBS3: O poema está também nesse livro escolar e, pelo que vi aqui, em algum outro que nem autorizei... E se espalhando. :)

FIM DE SEMANA SOLTEIRO


do caos aos céus
dos véus aos cacos:
salto alto

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

TAPA NA CARA

pra não dormir sobre esta mesa de retrabalho
preso após a noite insoneante
ouço rock alto
adivinho dalai e lama
ando sem asfalto sem sair do deslugar
leio um refrigerante morno imaginário morto
adio iluminações que dão ainda mais sono
e derreto um poema na mesa
(na falta de cama)

(Fabio Rocha)

SABEDORIA DO CORPO


a pior distância
entre dois pontos
é uma reta

(Fabio Rocha)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

OS POETAS VENCERÃO


os poetas vencerão

atravancados entre paredes cinzas
e obrigações negras
imaginamos o verde floresta
ou o vermelho batom

os poetas vencerão

até mesmo presos
atrás de grades frias
e literalidades retas
louvamos as curvas das carcereiras

os poetas vencerão

cortem nossas mãos
atem nossas vozes:
cantaremos em pensamento
em imaginação
e venceremos

(Fabio Rocha)

EXCESSO


de quando em vez
em certos dias
tenho certo receio
de explodir em poesias

(Fabio Rocha)

REVOLUÇÃO CONSTANTE


cavo lentamente areia
pacientemente
com a palma das mãos calmas
pra atingir a rocha
e construir minha paz
sobre algo mais
sólido
que razão ou emoção

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EIRA

o sapo
na beira do lago
nada

(Fabio Rocha)

SÉRIO

deus fala através de mim.
ele só não ouve
porque nunca houve

(Fabio Rocha)

SÍSIFO ARFANTE


sobre essa pedra
erguerás teu casal

cairás e erguerás novamante
e assim por diante

(Fabio Rocha)

NEVERENDING STORY


em nome do pai

são e sal-
mo

(como salmão a la cruz)

ela dourada na borda da cama
(o ouro no Vaticano)
comportada
em nome de Jesus

(Fabio Rocha)

NADA A FAZER EXCETO REINICIAR

de volta aos alicerces
eu outro

alicates: som e respiração
eu ouço
(instru_mentes)

cato abacates no abacateiro
tentando encontrar
eu inteiro

(Fabio Rocha)

MERGULHO MEDITATIVO

respiro abaixo
do rio do meu desespero

até a água
ser calma

até eu poder dizer
da alma:
rio do meu desespero

(Fabio Rocha)

sábado, 21 de agosto de 2010

PRAIA DO RECREIO NUA

lua quase cheia
totalmente linda
chamando pra rua

sento na areia
e a onda passa
e o instante finda

(Fabio Rocha)

SOM

quando medito
minha respiração
são as ondas da praia

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

NA_MORADA


deslizar a lama lícita da louvável lava
por sobre essa sensação tácita de casa antiga
e resgatar do silêncio do corpo a palavra perdida

(Fabio Rocha)

CORPO E ALMA


seus olhos de poeta alva
sobre meu peito sem jeito
aberto em palavra

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MANTRA

DESCARTE DESCARTES
DESCARTE DESCARTES
DESCARTE DESCARTES

(Fabio Rocha)

SEM ENTANTO


amizade é amparo e tanto
mãos estendidas
que se entendem pronto

(Fabio Rocha)

LEVE


quero a paz da brisa
que canta, não grita
que dança os matos dos campos

(Fabio Rocha)

POEMA AUTO-REFERENTE

rever a magia da poesia
pra que possa o novo florescer nos campos
esvaziar o armário marítimo de navios naufragados
na medida do impossível cortar âncoras
com alquimia de liberdade
afirmar todo o acre dito sem deixar de acreditar
jogar tudo pelos ares
(palavras pra larvas)
caminhar a manhã do amanhã
vice-rei de Pasárgada
pois se há começo no fim
há fim no começo:
o outro

(Fabio Rocha)

FILA DE FANTASMAS


será
que ela
ainda
me lê?

(Fabio Rocha)

AINDA A ÂNCORA


não há limite
nem definitivo
pros navios naufragados no peito

emborcam
afundam
e voltam

lentos e outros
mesmos e sempre

emborcam
afundam
e voltam

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CONVENHAMOS

de tanto medir
a profundidade dos abismos
sem escada
sobra escarpas:

farpa
onde antes, pele

(um espinho
que traz na ponta
um leão)

(Fabio Rocha)

MOTIVO


(Para Cecília Meireles)

eu canto porque a mulher existe
e minha completude é imperfeita
quando sou alegre não sou triste
e o restante a gente ajeita

(Fabio Rocha)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

BA_LANÇA DE ESCRITÓRION

preso ao tempo livre que não tenho
reparo pequenos sons
de minha perna balançante

estalos de estabilizadores

sinfonia de teclados

algo por fazer
algo por fazer
algo por fazer
(que não faço)

e essa falta gigantesca de um canto

(Fabio Rocha)

QUADRO DEPRESSIVO


equilibro o quadro
sobre meus pen(s)ares

um estado frio

de cio

de fado

(Fabio Rocha)

INOVO-ME


por motivo
de desmotivo
imovo-me

(Fabio Rocha)

BASE DE CÁLCULO

afastados amores
tamanhos maiores
do que em verdade foram
(o jamais deixa tudo enorme, lá no longe)

credite
caixas novas
sobre novas caixas
(na falta de opiáceas)

nada encaixa perfeitamente, note

debite perdas de sentido:

tudo se afasta

(Fabio Rocha)

RUSH PRO TRABALHO, RUSH DO TRABALHO

cheiro de borracha queimada
poluição
já a essa hora da madrugada
as pessoas em carros vão
pra de noite vir, então
cumprida a missão
de não mudar absolutamente nada

(mas se sentindo menos inúteis)

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MUR(R)O


ah, perante estas paredes de metal
vil vil vil vil mais vil que os ruibarbos de barba ruiva

despudorado dispo meu desejo
de plenitude
de mais do que esta merda

despudorado explodo palavras de desordem e desacato
(a quem interessar possa)

poça de água enferrujada
debaixo da grade enferrujada
que me cerca

estou começando a melhorar no ping-pong
mas o sentido se esvai por estas mãos de décadas
que melhoram pouco a pouco no ping-pong
e se emputecem nos finais de semana ainda mais
vazios
porque melhorar no ping-pong
não basta

mãos e nãos
sempre sempre sempre a me guiar
pelos caminhos
errados
sobreviventes com pouco
pouco a pouco
pouco sendo
sendo menos
menos ainda
louco

ah, perante estas paredes de metal
dentro destas horas comerciais
escrevo!
escrevo a mão que grita
com minha lua em leão
se nascendo dragão!

(escrevo a libertação
que não tenho)

(Fabio Rocha)

TODA ROSA TEM ESPINHOS


a palavra doce
desaguar de lábios trêmulos
frêmitos vermelhos
ânsias consumadas

agora, calma
que até a mais pacífica rosa
traz no caule
alma e arma

(Fabio Rocha)

sábado, 14 de agosto de 2010

LILITH

a lua negra
é a lua nova
nua
nua
te chamando perto
se chamando sua...

(Fabio Rocha)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PRESO EM BRANCO: ESCRITÓRIO

preso em branco
na literalidade de dados sem jogo
na literalidade da mesa sem sol
na literalidade da parede parede parede parede
na literalidade dos dias mesmos, mudando só o número

a segurança
de não poder sair...

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NAVIO 23


você olha pros dois lados
antes de atravessar
mas o amor sempre vem
da terceira margem do rio

(Fabio Rocha)

domingo, 8 de agosto de 2010

MENTE COM LEMBRANÇAS

quando a minha palavra toca
em teu corpo úmido
cavo
depois cavo mais fundo
até a mão - boba - tocar
num orgasmo
num segundo
o calor do brilho eterno
no centro do centro do mundo

(Fabio Rocha)

AMARELA

desvirtuei a palavra amar
até minha infância
caber nela

(Fabio Rocha)

CORAÇÃO ESTANDARTE

parto a dor dos partos de partir:
o último prato na mesa
para sempre

(Fabio Rocha)

REVIVENDO O BOM

meu lugar favorito é dentro de casa
acolhido dentro da cozinha

som da comida no fogo
espalhando o cheiro dos temperos
o calor dos nós

lembranças de avós
e tempos sem desesperos

(Fabio Rocha)

sábado, 7 de agosto de 2010

CERTEZA, MANOEL

não apodrecerá em mim
a palavra
que tenho para semear

(Fabio Rocha)

NA PRAÇA

Não há estátua
de poeta anônimo.
Só soldado.

(Fabio Rocha)

MEUS 7 ANOS

Minha primeira tristeza mesmo
foi a menina bonita
que não quis dançar.

Mais triste
que caipirapirapora...

E eu nem tinha tamanho
de pegar nas palavras.

(Fabio Rocha)

INFÂNCIA DOCE

minha caneca plástica
de tomar mate
era vermelha

e cabia mais mate nela
e cabia mais açúcar nela
do que na vida inteira

(Fabio Rocha)

TCP IP E O MENDIGO

Por todos os lugares
passam fios.

O homem
no entanto
ainda passa
frio.

(Fabio Rocha)

SANTO DAIME

afeto é
santo:
dai-me

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

SAIA AO VENTO

balança
seu
pensamento

(Fabio Rocha)

TRUQUE

não sirvo para
utilidades práticas
ou adjuntos adnominais

sirvo chá para as tardes
biscoitos de limão para ausências
e quando falta assunto
celebro solidões

(Fabio Rocha)

MANOELANDO

o topo do mundo tem rasteirezas e rãs

numa tarde ventarosa
descobri o orgulho inútil de ter nascido velho

(lá fora, as multidões)

(Fabio Rocha)

SORRIO SÓ

a casa
de minha vó
mora em mim

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PENSANDO BEM

tão maluco quanto eu
só o Caio
Fernando Abreu

(Fabio Rocha)

LAR AMARAL

vi o lar lá
de leve li
de verve vi
ventou uma brisa
deixei partir

(Fabio Rocha)

JESUS CRISTO ME PERSEGUE


uso seu em o nome nos vãos dos cômodos
cheios de gentes vazias
abro as mãos fechadas
não uso barba
e mesmo assim me persegue...

a porrada a chaga a secura da chaga
e outra chaga aberta por outra porrada
faz esquecer a anterior

mais ou menas

amém

amenas

a porrada a mulher o poema

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PROVISÓRIO

provisiono profissões provisórias enquanto sobrevivo e acumulo.
a poesia é importante demais para o lucro.

qual o meu limite?

uma amendoeira me roubou as maiúsculas.
nada mais é terno.

(Fabio Rocha)

TARDE DE VENTO

pássaros circundam a palavra
nuvens pesadas
a noite tarda alto

(Fabio Rocha)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

DO MOTIVO DE EU NÃO PASSAR NA PORTA DE HOSPÍCIOS

a melhor sensação
sempre foi
o imaginar antes

esperar
o encontro
da paixão
do pastel
ou do amigo

depois
do fato em si
vários níveis de decepção...

vivo na variação entre a tristeza cinza
(quase suicida, quase estrogonofe)
e uma sensação de sorriso duro
tão boa quanto a da primeira estrofe
(e mais duradoura)
sem encontro ou motivo futuro

(Fabio Rocha)

O VERDADEIRO MESTRE

O verdadeiro mestre te ensina o que já sabias.

(Fabio Rocha)

VAN GOGH

pela melhora da minha poesia nos tempos mais fodas
eu devia mesmo é me apaixonar por putas
usar drogas em vez de maracugina
surtar em vez de fazer yoga

(Fabio Rocha)

DEVE HAVER UMA TERCEIRA OPÇÃO

se não me inclino
em direção ao impossível
minha vontade morre
o frio vence
minha vida cinza

se inclino
vôo por segundos
Ícaro caio
dói meses dois quatro
morro vermelho sangue

(Fabio Rocha)

UM POEMA PARA MEU POEMA EM RUSSO

eternamente perdido
aérea mente
na vida sendo
senda
soul o que sou:
palavra que se espalha
no vento

(Fabio Rocha)

(tradução de Ekaterina Balakhonova)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

TEMPLOS MODERNOS: ESCRITÓRIOS

os prazos
vencem
a vida

(Fabio Rocha)

VOU-ME EMBORA PARA CAMPOS

estou farto dos quases
dos "agora não dá"
dos sumiços
dos "vamos marcar"
das facas, farpas ou quaisquer armas ao fim (sem início nem meio)
das conquistas instantâneas que se esvaem sem tempo ou disposição
de dois corpos se estranhando em camas e espelhos
das possibilidades infinitas de incompletude
que após grande esforço
findam

(Fabio Rocha)

RUA HONÓRIO, 938


todos os caminhos
todas as mulheres
não levam de volta

(Fabio Rocha)

Poema antigo e foto de slide antiquíssima


VOCAÇÃO

Meu avô
queria ser aviador,
piloto mesmo.

Não conseguiu.

Algumas vezes foi visto em sua juventude
olhando o nada com a vista cansada.

No fundo, bem
que quero voar também.
Porém sem avião.

Minha aeronave anemofílica
é a palavra etílica.
E eu nem bebo...

Mas leio sonhos aéreos,
que os ventos ventaram
e ventarão.

E passo a vida
a dar passos
sem pegadas.

(Fabio Rocha, poema do e-book Tudo Pelos Ares)