terça-feira, 28 de setembro de 2010

FREIO

adio poemas
(trespassam adeuses chegadas oboés)
todas tantas que adio te ver deusa que és:
abismo que acalma
encontro desses brilhos de Netuno em que a alma geme
(ah, adolescência tardia na minha tarde quase noite)
adio o sagrado para quando mais paz e mais eu e menos foice
(dias, meses?)
então jazz aqui o meu silêncio todo teu
porcelana perfeita, frágil
e essas mãos imóveis em sua direção
pois do profundo mar no fundo de seus olhos
cada onda traz:
merecemos mais

(Fabio Rocha)

PASSAR DE FASE


eu novamente
novamente ar:
venha o que voar!

(Fabio Rocha)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

MEUS 7 ANOS

a névoa de minhas memórias é morna
uma antiga casa carcomida
uma bola colorida maior que o mundo
uma árvore escura que gemia
passarinhos levando janelas abertas
calhas felicitando a chuva
rede balançando a varanda, confundindo mosquitos
grilos fazendo armários brancos cantarem
primos, amigos, avós, amores-plumas
(dores nenhumas)

(Fabio Rocha)

VISÃO

uma mulher macia
abraçada a um violoncelo
chorando som

(Fabio Rocha)

RE_PROVA

meu objetivo comprovado
é provar que consigo
nada provar

(Fabio Rocha)

OLHANDO O ABISMO

não tem fundo
meu
posso

(Fabio Rocha)

VOLTANDO AO MONSTRO DE AÇO

hoje vesti o sorriso pra fora
engomei o sapatos com passos
reiventei as grades como enfeites de metal
subi na mesa mais terrível do quintal
e colhi diamantes de ouro
numa vitória só minha

(Fabio Rocha)

HORA DO LANCHE

epifania é a palavra mais lisa

em seu encalço comi um hambúrguer
bebi suco de abacaxi feito na hora
(uma piscina verde nas mãos, espumante)
e a danada
nada

(Fabio Rocha)

ESTADO ALTERADO DA CIÊNCIA (FALTA)

do céu bucal ao chão gelado:
centelha de dente líquido passado
salivo pelo estado da guanabara não-vermelha
onde a sua boca se esconde

(a sua boca que não me salva, eu sei)

mas onde
onde a sua boca se esconde?

(Fabio Rocha)

VENDO

a fratura se expõe no vazio

a cidade cinza alheia
liga as grades com leis
em celas de telas

protegidos de quebras
patrões e padrões
vendem paredes

não tem ninguém vendo isso, porém

(Fabio Rocha)

TEMPLOS MODERNOS

parei de seguir o Dalai Lama no twitter

(ainda bem que no budismo não há inferno)

(Fabio Rocha)

INCISIVO

a maior invenção humana é o sorriso

(Fabio Rocha)

domingo, 19 de setembro de 2010

ASSIM

preparo um poema
no silêncio da tarde de um dia frio
preparo um poema em estado de agora
sem quaisquer tranquilizantes, vocabulários ou dançarinas seminuas
(onde foram parar as dançarinas seminuas de domingo na tv?)
preparo um poema bem provisório
para ir sem pressa
com três xícaras de açúcar bem cheias
usando gorro e meias
depois de ver um filme e crer numa promessa de futuro romântico novamente
e achar que o Sílvio Santos não devia mais estar no palco
preparo o poema expurgador da falta
fatia de amar sem faca possível
manteiga pra digerir a vida
é quando a ausência assimilada começa também
a me pertencer
descansada
assim, do nada

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

TODO DIA, O DIA TODO


eu domo a poesia é na marra
e me solto em seu fluir
(longos cabelos de mulher)
eu faço poesia é na farra
e não há nada mais sério por vir

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ESTRANHAMENTO

as entranhas do sentir são frágeis:
um momento de pensar
um segundo de atraso
e tudo se estranha

(Fabio Rocha)

SINCERICÍDIO


meu passo é um desisto
nada se encaixa em nada disto
mas relaxo e cruzo o fixo
entre o menino e o menisco

(Fabio Rocha)

ATRÁS


tantas máscaras de rir
de dar bom dia
do dia-a-dia

na frente de máscaras de querer secreto
de planejar futuros
de estar orgulhosamente ocupado
de ter o carro do ano
ou uma esposa só sua
de filosofar com razão
ou crer em Deus padrão
ou na ciência
ou não

e no fundo de todas as máscaras
no auge da percepção
não há um rosto
mas o vazio
o mesmo vazio
que preenche o universo
e faz as flores se abrirem durante a noite

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A GATA QUE SORRI


no meu país das maravilhas
a gata de óculos
fala manso
anda alto
salta macia

(Fabio Rocha)

NOITEBOOK

um livro escuro
que se abre
e brilha

(Fabio Rocha)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CANSAÇO DE AÇO


no fundo do abismo
escombros te cobrem
do pó ao pó
voltarás
voltou
revoltou
voou breve

agora fundamentas olhos curvos
sobre horizontes de giz

asas brotadas das costas do silêncio
no centro íntimo do nada

e mesmo assim
mesmo leves e imaginárias
se derretem em lágrimas
sob a constância do sol

(Fabio Rocha)

DEFINIÇÃO

o poema pereniza provisórios

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

FAZENDA DE AÇO


sempre que penso
"isso não posso"
vou lá e faço

(Fabio Rocha)

AMOR VERDE


de(s)fruto
o sumo
e o corte

folha forte pela sede
sobre a mesma raiz
da morte

(Fabio Rocha)

LARAMELIZANDO AMAR_ELA

namoro lara
apesar dos rockeiros
(ela não sabe)

namoro lara
apesar da distância

namorar lara
é de vital importância:

mora em mim em fome
um amar de infância
despreocupado de nomes
que lhe guarda o lanche
do recreio
em nome do coração vermelho
pintado ao lado
da palavra larissa

(laríssima laramelo)

sábado, 11 de setembro de 2010

CHEIRO DE PERFEIÇÃO


me perder
entre o cabelo o vermelho o fogo
e o pescoço longo
longo
tão deliciosamente longo
que toca meu sonho mais alto

(Fabio Rocha)

LARA LARANJA


da primeira vez que vi lara na câmera
a voz sumiu
e as dores passaram

tudo estranhamente simples
e um medo danado

lara mora longe
mas tão perto ainda agora...

a laranjeira da casa de minha infância não socorreu
em absolutamente nada

nunca me pareceu tão fácil fazer um poema digitado
quando as palavras empacaram na boca embasbacada
e minha câmera me deixou quadrado

pele branca de lara
fala
ouvido delira
lara ao vivo sem lira

- liguei um rádio

(sou tímido e tenho 12 anos)

os olhos dela
com a mesma calma triste
com a mesma profundidade clara

- falei do tempo

todo o meu treino abismado:
ela! Ela! Lara! Isso! Larissa!

Abismo.

- me fingi ocupado

apesar do despreparo
deliciosamente lá existe
move e fala, essa Lara raríssima

- falei do falar, que estranho

- pedi um tempo

(tudo tão rápido e desplanejado!)

ESC ESC ESC

desliguei o rádio
reiniciei o computador
tranquei a porta
corri
bebi água
respirei fundo
contei os dedos
escovei os dentes
voltei voando...

lara saiu
foi-se embora
ver um filme

(Fabio Rocha)

MAR ÍNTIMA

todas as cores
flores várias se abrindo
vagos perfumes

eu ar

e o mar
onde ela
se molha

o encontro
é onda
vento e água
cabelo e curvas
cheiro e sentimento

(Fabio Rocha)

RUÍNAS DO SOL

arruinar o sol no plexo
despedaçar o nexo
despencar do máximo
sonhar não mais sonhar

é preciso lirismo
precioso abismo
fogueira de facas
arder
escombro, pó, cinza
pro vermelho renascer

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

MUNDO DÁ VOLTAS

voltei
meu braço esquerdo voltou
minha poesia

vou voltar
valsar na rua
a lua aquecendo em leão
volver

sem meditação
nem medicação
não sem mate

(não se mate, Carlos)

não se meta
com a boca sonhando doce grito:
- Liberdade!

porcelanas em pele
me chamam em chamas
quente voltarei
vermelho sangue

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ATRAVÉS DA MULHER

"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema."

(Cora Coralina)

um passarinho na gaiola
me pensa

a borboleta distraída
por estar distraída
sabe a sabedoria das árvores

sem finais felizes sem lagartas sempre no instante

verde

um riacho me ri
(é raso, Heráclito)

através da mulher
o Ser me brilha tal qual a nona de Beethoven
(confesso fatigado, entre Osho, Raul, Manoel e trocentos desloucos que me soul)

é que através do viés
da curva no tato
me perco em mim, em eu, em tão pouco
que desfaço meu iluminar tão tênue

cresce no peito
a palavra
Minha

combato a sagrada luta de espadas
contra o eu
e mais ainda
contra a unha
da palavra única Minha
só Minha

a palavra Minha
é mínima
e restringe o todo a uma

o todo é um
mas é mais que só
é mais que a soma de tudo
é mais que matemática e contrato

as pessoas são pessoas são pessoas são pessoas são pessoas

no fogo
meu eu se desfaz em musgos e liquens
cada vez que respiro fundo e calo a boca de palavras tais quais essa
cada vez que salto e vôo e vou e Caio

eis que no instante mágico
em que destropecei sem medo de tropeçar
fui sem pensar em ir
boiei em vez de nadar
todas as floras da primavera me abrem
ergo mares íntimos e Netuno molhado se espanta
escrevo dragões com lápis cego
arrisco tudo
tenho epifanias com roseiras
aceito rosa e espinho
ouço a nona
e finjo fingir ser o último mestre do ar

você consegue
neste mundo de peso
vir comigo voar?

(Fabio Rocha)



OBS: Não agüentei os sete dias sem fazer poemas. Nem foi um exercício consciente de contradição... ;)



OBS 2: Quem me fotografou foi Fátima Nascimento, em Atafona, São João da Barra, Rio de Janeiro, onde o mar e o devir vencem o homem e sua mania de perenidade desde os anos 70:





OBS3: Leia se for ciumento. :)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010