terça-feira, 15 de dezembro de 2009

EXCALIBUR

Chegou o final da guerra
e o silêncio amplia os campos.

Na beira do oceano
sem nenhum cavalo ou dragão
sinto o peso de Excalibur pela última vez.

Ela
quer
o
mar.

Deixo-a ir.

Seu vôo de giros e brilhos
parece lento e musical.

As águas se abrindo para recebê-la
levam também
(lavam também)
minha alma.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DE NÚBIA

núbia de nuvens
       de nuvens todos
 os nossos sonhos
        somos núcleos de nuvens imaginárias
                        leves leves tão leves
              que a sombra da pena da asa
do mais leve pássaro
   passando rente
desmancharia em chuva
       ou em choro
             toda a sua branquidão

                          (dilúvio)

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

POESIA CONCRETO

O concreto do caminhão
mata o mato
em tábuas.

Plantas de todas as regiões
cada vez mais
mortas
moldam prédios
mortos
só até a massa acordar.

Vida cinza.

O homem concreto vai sério
ocupado
carrega consigo
numa mala preta e quadrada:
pressa, não ser, não saber e não poder.

Vida longa minimizando riscos:
cresce, reproduz os pais
e morre na paz de nosso senhor Jesus Cristo.

(Fabio Rocha)

domingo, 6 de dezembro de 2009

LIBERA

Quantas libélulas
é possível tossir?

Pintassilgos silvam
em silveiras e silvas e lulas sem dedo...

Políticos roubam
e pessoam se reproduzem.
Simples.
É a ordem das coisas em ordem...

Tanta coisa a mim muitíssimo interessante...

Quantas libélulas
é possível tossir?

Não estou bem não, não é?

Será meu colesterol?
Meus triglicerídeos?
Onde estão os doutores de branco
cheios de respostas?

Esse ano não tive ainda glaucoma
mas cuspi libélulas
pensando em centopéias
mês sim
mês não.

(Será a fibromialgia psicossomática? Eram os deuses astronautas?)

O poeta é um psicossomatizador, Pessoa...
Psicossomatiza tão completamente
que chega a fingir que é cor
a mor que deveras sente.

(Fabio Rocha)

domingo, 8 de novembro de 2009

JÁ HÁ MEIOS?

já amei
com raiva
já amei
sem raiva
já amei
partido
já amei
chegando
já amei
chorando
já amei
sorrindo
já amei
alado
já amei
caindo
já amei
demais:

jamais
amarei
em cheio

(Fabio Rocha)

META


A poesia
não leva a nada.
Leva a tudo.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A MEDIANA VIDA DURANTE AULAS CHATAS

dados os dados
sobre dados ordenados
vagos e vazios
vesgo vejo o nada
pela janela

vago e divago
porque divagando me movo
pra fora daqui
enquanto a vida me joga dados
agrupados
em intervalos interquartílicos

(Fabio Rocha)

domingo, 25 de outubro de 2009

AFETOS

Sofro de excessos.

Nada em mim
é pouco
no rio rouco
do risco solto.

(Por isso
rabisco
versos...)

Amo.
Sofro.
Sinto.
Demais!

Ideais à parte
agora escolho limites
pra me libertar.

Pois se tudo for janela
nessa casa velha
o telhado
fica por demais pesado.

(Fabio Rocha)

sábado, 24 de outubro de 2009

TELESCÓPIO

A ciência contempla
mais e mais vastidões
de universo árido
em todos os cantos das galáxias.

Enquanto isso
nascemos
crescemos
reproduzimo-nos
e morremos
sem tempo
pra sermos
o m-i-l-a-g-r-e
que somos.

Sem tempo
pra querer
o que queremos.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

ONDE ESTAREI DAQUI A 5 ANOS

Enquanto
o pensamento
(falado)
racional
causal
não contraditório
lógico
(o nome, o lugar, a identidade, o cpf)
vencer, dominar, controlar
o corpo
a sensação
o sentimento
o agora
o todo
o sonho
a mudança
o desejo
cuspirei espaços...

Cuspirei espaços
pois é acre o gosto do padrão normal
do pai, do padre, do patrão, do vizinho
nos definindo
nos encolhendo
o corpo, a alma, a percepção.

Fechados em horas eternas sem tempo
entre muros, paredes e grades curriculares menores menores menores
ou seguindo velhos caminhos empoeirados
em vez de criar caminhos aéreos.

Vou semeando sozinho
letras, silêncios e espaços.

(Fabio Rocha)

INÚTIL E BELO

a surfista
sem olhares alheios
elegante voa
cortando azuis
até a areia

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SOLIDÃO NÃO SER DERROTA

Para Stella

Ora, podeis amar estrelas...
(De certo, perdeste o nexo... )

E a estrela
a mesma estrela feito
uma estrela outra
desce do céu ao plexo
transmutada em pássaro.

Pássaro negro, noite
cantando outras eras
sons dourados, cortes
onde eu era herói...

Mas o herói
é a criança
que propositalmente
se esquece de crescer.

Sigo só.

O pássaro engrandece
em ausência e força.

Respiro.

Asas tece o peito:
dor elegante
que devagar me abraça
e me fortalece.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Roteiro da poesia brasileira: Anos 2000 - Fabio Rocha



Uma maravilhosa notícia... Que quero dividir com vocês: Estou entre os 46 poetas selecionados como mais representativos do Brasil na década para fazer parte do volume "Anos 2000" da elogiada coleção "Roteiro da Poesia Brasileira", da Global Editora, composta pelos volumes abaixo:


Meus poemas selecionados, do livro "Corte":



(OBS: O poema "E ATENÇÂO:" saiu cortado, sem o final, por alguma falha... Vou colocar ele completo no final.)



Sei que essa coleção é muito usada por estudantes de Letras país afora, pela qualidade do trabalho. O que me deixa ainda mais orgulhoso. Como vai desde as origens de nossa poesia até os anos 2000, estou ao lado simplesmente de Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo, Olavo Bilac, Drummond, Quintana, Bandeira, Leminski, de basicamente todos os meus mestres (o que por si só, já me deixa feliz a ponto de poder morrer em paz :) ), e dos poetas contemporâneos abaixo:



Achei muito bom o trabalho da Global Editora. Aqui vão algumas resenhas que achei sobre o projeto da coleção Roteiro da Poesia Brasileira:

http://www.resenhando.com/resenhas/r21108.htm

http://rascunho.gazetadopovo.com.br/onde-cantam-e-emudecem-todos-os-sabias/

http://bahiadefato.blogspot.com/2009/02/adelmo-oliveira-no-roteiro-da-poesia.html


O poema completo:


E ATENÇÃO:

Devo comer este bife mal passado
tentando esquecer que vai me engordar,
o colesterol ruim,
a vaca louca,
os triglicerídeos,
a vaca louca,
que pode ter cisticercos,
a vaca louca,
o coliforme 157,
ou ainda,
a vaca louca.

Devo mastigar esta alface sem pensar nas planárias,
beber esta água sem sentir o vibrião colérico na garganta.

Devo ignorar este mosquito que me morde – com listrinhas na bunda,
possível portador da dengue tipo 3,
que pode ser mais grave para quem já teve a 2 ou a 1.

Devo inspirar sem sentir o gás carbônico,
piorando o efeito estufa.

Devo parar de suar, no ar condicionado,
sem a culpa de destruir a camada de ozônio.

Devo passar estes dias a esperar o telefone tocar
tentando me convencer de que estou bem,
que estou de férias
e que não estou esperando você ligar.

Apesar de estar em casa,
ajudando a destruir o mundo,
esperando o telefonema sagrado
e absorvendo informações demais.

(Fabio Rocha)

domingo, 4 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

INSIGHT

De alguma forma
empurro as mais importantes mãos
que me amparam...

R-e-p-e-t-i-d-a-m-e-n-t-e...

Por não admitir
a dependência
da minha vida
a mãos outras.

(O sol saiu,
justo agora,
iluminando
minha metáfora...)

Sou a rosa morta
na encosta antiga
cheia de espinhos
precisando d´água.

(Fabio Rocha)

DESTROCANDO

Está vendo essa felicidade
aí nas suas mãos, Stella?
Mesmo destroçada, é minha...

Destrocou-se tudo
(livros, CDs e demais inutensílios)
mas faltou
você devolver ela.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PHOENIX SORRINDO

Novamente indo
aonde o medo aumenta
(longe, longe do conforto morto)
conversei em Inglês
com duas loiras australianas
que falavam Alemão
andando na ciclovia.

Não conheciam Nietzsche nem Beethoven,
mas o céu estava particularmente
lindo...

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DA INUTILIDADE DAS FOTOS

Eu e ela
no arpoador
sobre o mar
sobre minha cama.

Há tanto tempo ali
o retrato
o sorriso
o hábito
que já nem a via.

Hoje
tudo acabado
a foto brilha...

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POR ESTAREM DISTRAÍDOS


minha voz
vai pelo tempo
onde só havia presente
e nós éramos apenas nós bem atados
presentes um do outro,
um pro outro
a sós

(Fabio Rocha)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

INIMIGO MUNDO (HORÁRIO COMERCIAL)


Escalo o muro
escalo o monte
de percevejos

Espalho a raiva
espalho o murro
dos meus desejos
inatingíveis

Escalo a jato
escalo arfante
antes que eu note
o que almejo

(Mas quando é noite
sozinho eu ouço
o meu silêncio...)

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AFINAL


Os ponderantes que me desculpem, mas loucura é fundamental.

(Fabio Rocha)

CECILIANDO

Canto porque o instante ainda existe
e a canção eu sou.

E se a vida se faz triste
ergo o sonho em riste
e cantando eu vou.

(Fabio Rocha)

domingo, 20 de setembro de 2009

O QUE AS MULHERES QUEREM:


Namorar o caos
e casar com a certeza.

Namorar o poeta
e casar com o administrador de empresas.

(Fabio Rocha)

MAR FORTE (A)TEMPORAL

quando a paisagem passar:
deixarei uns poucos versos bons
muitas dores fortes
e uma vontade antiga
de amar até a morte

(Fabio Rocha)

DIÁRIO

Para Stella

À sombra do fim
todo despertar matinal
se desfaz
lentamente
em pesadelo real.

Tudo é dor:
Todo poema bonito
música emocionante
filme romântico
paisagem marcante...

Tudo reflete o não-elo:
nas várias faces do belo
a violência da falta.

(Fabio Rocha)

sábado, 19 de setembro de 2009

INFINDÁVEL

Para Drummond

Meu coração é menor que o mundo.
Muito menor.

O mundo é grande
e cheio de desafios
que não quero vencer.

Meu peito
é cheio
de ansiedade
dor
e ar.

O que me faz andar...
Cheio de falta.

Me falta dinheiro, aliás.

No peito,
sobra vazio.

Não tenho meta
mas sou poeta...

Ando
pela praia
pela casa
pela vida
sozinho e manco.

(Fabio Rocha)

MEMÓRIAS

O amor... Pode durar uma semana ou seis anos, a fórmula é a mesma. Dura enquanto houver incerteza quanto a ser amado e quanto ao ser amado. Na conquista total e plena, tangível, amornece, e vêm as dúvidas. E, na separação, volta então, magicamente, tudo como lindo, já que findo, já que perdido. Talvez só saibamos amar a distância, o horizonte, o impossível, a busca.

(Fabio Rocha)

Inspiração: http://psicanalisepresente.blogspot.com/2009/07/encontros-e-desencontros-ser-amante-nao.html

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

PLATÃO, PLATÃO...

O poeta se mastiga, se retorce, se rebela
mas a vida não se afasta muito
do final da novela.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PARA JOÃO

A vida mole me fez duro
intolerante
intolerável.

Resta buscar leveza novamente
fora
da
poesia.

E aplicá-la
sobre quem
não merece
pedras.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

EU QUERO, MAS NÃO BASTA

de mãos dadas com a noite
nenhum coração pulsante a ser cravado
nenhum peito a se morder infindo
nenhuma esperança vã de melhora futura com sorte talvez quem sabe
nenhum pai, nenhuma mão,
nenhum amor fugidio,
nenhum filho,
nenhuma flor

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

UM POEMA DESCONTIDO, POR ENCANTO

Enquanto meu estômago se acaba a dentada
e mantenho nele a mal contida raiva
indigiro palavras não berradas...

Enquanto a vida oferece opções pasmas
e antepasso antepastos emprestados
assisto a nova fraude dos Caçadores de Fantasmas...

Enquanto o mundo te empurra a escolha
e você dança com o ar pro outro lado
esconjuro artifícios zarolhas
com um mago de um jogo inventado.

Enquanto desenho a florzinha matinal
e caminho na praia estuprada
saboreio o desprazer estomacal
de não resolver absolutamente nada.

(Fabio Rocha)

ARES

palavra:
ave

antítese do peso
antídoto do tédio

(Fabio Rocha)


Planta dentro de uma loja do Rio Design Barra

domingo, 6 de setembro de 2009

MAIS SOBRE "A ARTE DE VIAJAR", DE ALAIN DE BOTTON

É realmente uma maravilha esse livro. Hoje descobri no "A Arte de Viajar" que existiu neste planeta um tal John Ruskin, que tinha a fascinante teoria de que todos somos como que desenhistas natos, se dedicarmos mais tempo para contemplar - em detalhes - o belo. Uma árvore só pode ser realmente apreciada se pararmos para olhar para ela como desenhistas. E isso requer uns 10 minutos, no mínimo. Ele foi criado por pais que viajavam com ele, parando a cada hora para APRECIAR A PAISAGEM. Assim, se desenvolveu sua teoria. Ele critica a pressa de sua época, a mania de "conhecer toda a Europa em 7 dias" (não conhecendo nada, na verdade) e o mal uso da máquina fotográfica (tudo que, na minha opinião, hoje piorou e muito...). É uma forma prática do que Platão tanto valorizava teoricamente: valorizar o belo. Não resisti e fui conferir, com 3 desenhos com esferográfica mesmo (abaixo). Vou ver se arrumo um lápis pros próximos... Mas, realmente, percebi muito mais detalhes olhando por mais tempo para o que desenhei. Reparei também a dificuldade para manter proporções, para desenhar algo que se move (a cachorrinha não parava quieta), para representar contornos com uma cor só (os contornos das coisas não são uma linha, são um contraste, um limite de cores diferentes!) para repetir a complexidade das luzes e sombras, e que flores de plástico são muito parecidas mesmo com as reais. E mais: no banho, mesmo depois desse exercício, lembrei como eu era fascinado pelas gotas que se formavam e escorriam pelo vidro do blindex, criando desenhos, e novamente pude olhar com olhos de criança esse fenômeno.



(Fabio Rocha)


Luna


Orquídea de plástico


Abajur

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CONSTATO, SEM TATO

Minha poesia morreu.
Resta
eu.

(Fabio Rocha)

PRODUZA, CONSUMA, POLUA

O urso polar
busca o gelo fino
mais fino a cada ano.

Nada.
Nada.
Nada.

O gelo mínimo.
O último gelo.

Nada.
Nada.
Nada.

O vento venta.
O urso acha.

Sobe.
O gelo estala.

Abaixo,
o infinito
azul
escuro.

O urso polar
contra a inevitabilidade
salta branco
salivando orgulho
de escolher por último
ser nada.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PARA WORDSWORTH

perante esta competição da cidade
esta solidão angustiada da multidão
também prefiro, Wordsworth,
a serenidade dos campos
e a perenidade das árvores

(Fabio Rocha)

sábado, 15 de agosto de 2009

LIBERTAÇÃO

(Para o frei Dino)

Não há exceção.

Por baixo dos panos pretos
que cobrem os abutres
padres freis frades freiras e fracos semelhantes
(essas pedras intermináveis contra a vida)
há sempre um recalcado
um mendicante de intelecto
com uma fé titubeante
desde que a Terra perdeu o centro do universo,
desde que milhões morreram em suas guerras por um Deus que não responde,
desde que milhares foram queimados em fogueiras sem motivo
(como meu estômago vermelho de úlcera e cólera).

Este recalcado, fraco e covarde ser
passa boa parte de seu não-viver
querendo cagar regras medonhas
sobre dogmas antigos
para acéfalos inúmeros.

Enquanto estava distante
já abominava
(ruminante, mas calmamente)
monografias afora,
apesar dos quase abusos sexuais contra familiares.

Porém, perto...

Perto...

Perto demais...

Perto,
quando da ocasião social formal formosa
(o que os vizinhos vão pensar?)
e a vida, receosa, me apresenta
este morto sem inconsciente
este dinossauro sob um manto negro sem simbolismo
este ser com o hálito podre de outros séculos
querendo duvidar da possibilidade de alguém ser poeta sem um papel comprobatório autenticado,
querendo mandar em como criar meus filhos como futuros acéfalos convictos,
querendo que fizéssemos promessas literais de não-aborto, não-sexo, não-separação,
querendo nos culpar por não irmos ouvi-lo aos sábados,
querendo analisar meu contracheque,
(considerando-se que isso tudo foi a sua demonstração de amizade pelos pais dela)
tudo em mim que era antes sangue
virou ira.

Esse ser fraco que não abre o maldito olho e me encara
(será que seu olho não quer ver o que ele fala?)
que me ouve respirar pesado, vermelho e treme
que não responde as minhas perguntas diretas
que me roubou um sábado da existência feliz
merece um poema.

Merece um poema
já que evitei o murro.
Infelizmente.

Este poema lhe deixo como agradecimento,
meu caro frei bento,
pela honra de não ter que fazer
curso de noivo
pro casamento...

Sim, senhora psicanalista:
raiva também de mim mesmo
antes de tudo por cogitar em casar
na Igreja Católica Apostólica Romana.

Burro.
Só faltava ter sido nos Estados Unidos.

(Talvez haja exceção
mas ela que vá pro inferno,
e entregue ao meu querido Diabo
um papel comprobatório
por falar em nome de Deus.)

(Fabio Rocha)

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A pastoral do dízimo tem como finalidade acolher, cadastrar, receber e organizar o pagamento dos dizimistas que temem a morte como finutude, além de divulgar a importância desta contribuição para o ouro do Vaticano. O dízimo pode ser pago no horário das missas de sábado e domingo, através de boleto bancário, bankline, cartão de crédito Visa ou Mastercard, ou ainda pelo disque-dízimo. Durante a semana, poderia ser pago na secretaria em notas de cinquenta ou cem reais apenas. Sorria: você está na Barra e Jesus te ama.

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GUERRA JUNQUEIRO - trecho final do poema "O MELRO", do livro "A VELHICE DO PADRE ETERNO"

"Há mais fé e há mais verdade, / Há mais Deus com certeza / Nos cardos secos dum rochedo nu / Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza, / A única Bíblia verdadeira és tu!..."


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"Talvez não existam psicanalistas no futuro, mas haverá padres." Jaques Lacan

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"Os dois grandes narcóticos europeus, o álcool e o cristianismo." Nietzsche

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"Ainda que Deus existisse, nada mudaria. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo." Jean Paul Sartre


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"Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor." John Lennon

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Sincronicidades: um incêndio começou na minha janela, enquanto escrevia este poema. Na vegetação da Pedra do Pontal, que marca o início da Praia do Pontal, famosa pela música "Do Leme ao Pontal" do Tim Maia. No dia seguinte, veio a seguinte sorte num biscoito chinês: um incêndio começa com a menor das fagulhas.

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Mais links sobre o tema:
http://dabusca.blogspot.com/search/label/anti-igreja

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

PRAIANEIRO

Perpasso
sob o céu cinzento
procurando
não estar atento
e totalmente
pisando o momento.

O céu é baixo
de desalento
as ondas fracas
o passo lento.

O esforço (ou o engano)
é não se esforçar
para poder brotar
um novo oceano.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

PRAIANÍSSIMO

Vou em direção
ao sol
só meu
(seguindo cada curva).

As ondas
do mar
trazem palavras
silenciosas.

Palavras fortes
contra toda e qualquer
literalidade
superficialidade
materialidade
quebram estrondosas
na espuma.

Urubus as cercam
gaivotas as furam
pombos as cortam
eu as caminho.

Caminhando
mastigo
afirmo
aumento
existo.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

PARA O SEOMÁRIO

Menos um poeta azul
nesta noite cinza
que é o mundo.

(Fabio Rocha)

Só hoje soube do falecimento do Rodrigo de Souza Leão. Susto, tristeza, vazio... Tão jovem. Meu primeiro contato com ele foi também a minha primeira (e inexperiente) entrevista. Depois é que pude conhecer e admirar seu trabalho escrito, e me sentir um pouco como seu irmão na poesia e na lowcura que todos os que criam carregam consigo em algum grau. Noite triste...

P.S.: O último poema dele, que achei agora no blog:

Tudo é pequeno.

Tudo é pequeno
A fama
A lama
O lince hipnotizando a iguana

O que é grande
É a arte
Há vida em marte

Rodrigo de Souza Leão

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MANO VELHO

Para não ver
entre o que não sou
e o que acabei não sendo
me distraio em passatempos
enquanto relógios escorrem.

(Fabio Rocha)

TIC TAC

A criança:
olhos abertos
na noite fechada.

No corredor
um relógio
de parede.

A criança sozinha
ouve escuro
e vê seu som.

O relógio imenso
semeando
finitudes...

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

POEMA XISTE ORGÂNICO

auriverde pendão de minha pressa
onde a bola de couro brilha e não cansa
sigamos sábios serenos maracuginos
a semear granolas transgênicas
e a sonhar com vida mansa

(Fabio Rocha)

sábado, 11 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

COROLÁRIO: SUBLIM(IN)AR

do fundo de meu
vocabulário
esconjuro a palavra mágica
esquecida no escuro
pro futuro estrangeiro
da folha clara:
vela da barcaça ao vento
lençol no varal antigo
capa vermelha do que não sou
mas sobre esse mar de olhos
superman voo

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

EM TERAPIA - LATA UM

No espaço interstício
entre o desprazer e o vício
reclamo.

Reclamo como o cão
confinado na varanda
do apartamento ao sol ali em frente
ladrando quadrados constantes
na falta de opção.

Eu
no entanto
no teto do ser
tenho várias...

(Quais?)

De qualquer grupo
(nefasto?)
me afasto
(não pasto)
e reclamo:
(não amo)
a solidão.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

FILHO HOMEM ou TO BE THE BATMAN

Nascemos sob o peso dos heróis
que nossos pais não foram

Crescemos em tamanho
e tempo

Reproduzimo-nos
buscando no ato amargo
o heroísmo que nos falta
(transmitindo, assim
a herança silenciosa
dos heróis que não seremos)

Morremos
com
esperança

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

LA CARTA

Venho por meio destra fechada
através de uma boca imovente
querendo mastigar seus próprios dentes
e de um ver enegrecido
ruminar mais um gemido
que não lhe direi
(nem entenderei).

Através de seu silêncio primeiro
odeio
todos os silêncios
implicitamente reprovativos
os olhares fugidios de quaisquer olhos também calados
onde só verei defeitos
(como vingança)
paciência
e passividade revoltante
e tão interminável
quanto o seu silêncio.

Nem herói nem vilão
nem amigo nem inimigo
nem vivo nem morto.

Sem voz.

E quando o seu silêncio
o seu silêncio
(o seu silêncio)
for final
ainda assim, calado eu
(e mau)
ao lado de seu sono real e fechado
meus olhos abertos também silenciarão
como tão bem
aprenderam.

O meu silêncio
e minha raiva
que espalho
pro mundo
pra vida
pros outros.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

REDE

Um corpo todo cérebro
conectado a outros
tristes e ensimesmados.

Um cérebro todo razão.

Boa noite.

Repetição e tédio.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 23 de junho de 2009

PAIXÃO

Entre o impossível e o sonho
cabe a arte
essa atividade maior dentro
menos que supérflua fora
no meio de tanto jornalismo morto
esse lirismo perdido e vivo
uma teimosia, uma resistência, um vírus, um acidente
onde apatia e conformismo é norma
entre tantos entretantos e seres sem tempo de fazer um mundo melhor
tentando roubar o seu dinheiro das mais diversas formas.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CICLOS

O sol
irremediavelmente
volta
por trás dos versos negros
e sobe às bocas
ciclicamente
brilha vontade
alegria
amar-elo.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

DANÇA

Para Stella

Alisar partes do parto sem partir
sem parir
sem Paris
nem querer partir jamais
mão no coração
e mais
e mais
palavras vermelhas de língua
proximidade
contornos que se tocam
indefinidos braços
indefinidos traços
indefinindo-se mais
e mais
nas voltas
rodopios e revoltas
misturando-se.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 9 de junho de 2009

ABUTRE: O HOMEM

jurar a jubarte
de morte
de arte
judiar a jubarte
juba de jujuba
inexistente e doce
júbilo em marte
a jubarte
que voa no vácuo
vermelho de sangre
planeta com rosto
sorrindo de triste

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

RETRATO CIDADE

O dia se abre
janela de tempo
e possibilidade.

Dardos solares
iluminuram
universos
não dados.

Dentro de casas com mosquitos invertebrados
janelas, portas e paredes
descontentes crônicos
anseiam além.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

SAUDADE

Para Carmen Santos

Me preparo
pro funeral
de minha avó
sob o silêncio
de dez mil canções tristes.

O passado
abraça suave
e se despede arredio.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

NOCTURNO

No fim do canto
esquerdo olho confuso
ruídos de riscos bonitos
remadas de mantras com nexo.

(Fabio Rocha, ouvindo Banda Nocturno, gravando seu primeiro CD.)

terça-feira, 26 de maio de 2009

SALA DE ESPERA (MUDANDO DE ANALISTA)

Sentamos na sala de espera. O som do silêncio é o relógio de parede que quebra, por não estar quebrado - infelizmente. Dura três longos minutos. Fala-se, então, das novas descobertas científicas na revista que podem nos fazer viver mais. Me pergunto para quê. E a caverna subterrânea, da beira do profundo nos observa, repleta de silêncio e coisas escuras por dizer. Entreolhamo-nos, semiconscientes dela mas sem coragem. O não-dito. O relógio segue. Ninguém desce a si.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009

PERCURSO

Quando há noite
e me deito
e me cubro
com o pó preto
oriundo dos pneus
que a linha amarela lixa
constantemente
com seus carros passando sempre
sempre em alta velocidade
decididos a chegarem sempre
sem nunca chegar
(tiros ao longe)
meus olhos arranham aranhas
mas mesmo assim no entanto no quarto
durmo branco
até a serra
do vizinho em obras eternas.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 19 de maio de 2009

MANHÃ NO AP

Zeus
te proteja
da solidão inescapável intransponível iniludível
que o cachorro ao lado late
e o seu silêncio bate
na grade gris do tempo.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

SIMBOLISTA

Um poema sem palavras
vi na mata, no riacho
no improviso do piano
numa rua enfumaçada
no sol sumindo quieto
num engano...

Um dia estranho
uma falta
um poema sem palavras.

(Fabio Rocha)

sábado, 9 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

3 DIAS SEM COMPUTADOR

Antes de tudo
a tecla
a teta
a falta

Sobretudo
a seta
sobre
tudo

O tempo
o todo
o teto branco.

(Fabio Rocha), 1o./5/2009

DA OBSERVAÇÃO

Rio de Janeiro
terra minha
onde Augusto dos Anjos
já vendeu seguro de vida
e o mar
o mesmo mar de hoje
o mesmo mar de sempre
repete alheio
palavras não ditas.

(Fabio Rocha), 30/4/2009, vendo o programa "Tertúlia", no SESC TV, com Ana Miranda falando da vida sofrida de Augusto dos Anjos. Aliás, a programação do SESC TV o dia todo é arte, e há programas realmente muito bons sobre música, fotografia, artes plásticas, literatura, documentários sempre poéticos... Recomendo.

SOLÚVEL EM TAO

Como a chuva
precipitamo-nos
em explicar, contar, planejar e fixar
quando na verdade
o mais importante pinga:
a percepção que logo escorre
o oceano para a gota
o sentido íntimo e único
para cada ser que é.

(Fabio Rocha), 29/04/2009, inspirado no curta "O Silêncio" (BH, 2005) e no maravilhoso livro "Ser Criativo - O Poder da Improvisação", de Stephen Nachmanovitch, que estou lendo por recomendação da minha analista.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

MÉTODO DO DISCURSO

Semear o vento
que balança a tela
abrir mais janelas
ler menos besteiras...

(Fabio Rocha)

PENSAR É SER

Na entrelinha
do cansaço (morte em vida)
renasço em ira.

Nada que temer:
eu passo
entre palavras escritas
e a prática da vida
diminuindo distâncias.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ansioso
lembro de todos os sonhos.

Volto a dormir.

O vento vem
e bate a persiana
suja.

Balança
mas não cede.

O peito aperta.

Volto a dormir.

Almoço.
Volto a dormir.
Tarde.

O peito bate.

Dentre quatro paredes
eu sou a quinta...

Não ouço o som
da minha voz.

O peito pede mais.

Nada tem uma cor
diferente
do desprazer.

Noite.

Como demais:
mais vazio.

Só um poema.


um
poema...

Só um poema
pode me salvar.

(Fabio Rocha)

domingo, 19 de abril de 2009

ACASO

No caminho onde não chego
volto logo
mas volto para onde
pra que casa
quero voltar
logo
se não há casa?

Itabira já não há
além do retrato...

E a casa
muito engraçada
que perdido busco
não existe.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

SOCIEDADE

Entre o trem e o sonho
a lonjura e a proximidade
a paz e a solidão
o vazio e a saciedade
devagar
divago...

Interrompido apenas
pelo de sempre:
intermináveis coisas
por fazer
sem vontade.

(Fabio Rocha)

SOLO

Ante tanta tarde
parte de mim não party
presa no solo do mesmo.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 14 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

NÃO-TEMPO

O não-tempo
é tempo de não ser.

Sair pouco
comer pouco
falar pouco.

Tempo de tristeza aberta
em dias ensolarados
e tristeza mansa
em dias fechados...

Um disfarce
do existir
não existindo.

Por onde a última
esperança
já cansou...

E o poema
desistiu.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ANÚNCIO

Procura-se pastor
que cante pior e mais alto, alto, alto
do que aquele
na igreja-garagem
lá de baixo, baixo, baixo
da rua Borges Monteiro
em Higienópolis
antigo estado da Guanabara.

Remunera-se bem
(no pós-vida).

(Fabio Rocha)

METRÔ

Cuidado
com o vão
entre o trem
e o sonho.

(Fabio Rocha)

(Adaptação de uma frase com certa poesia dos metrôs - aqui no Rio de Janeiro pelo menos - "Atenção / para o vão / entre o trem / e a plataforma." A poesia da frase foi percebida pelo professor José Carlos Pinheiro Prioste, que falou dela na aula de Literatura Brasileira I, na UERJ.)

segunda-feira, 30 de março de 2009

COLO

Vem e me salva, palavra
que a palavra colo
hoje está tão solta...

(Hoje está tão longe,
tão pequenininha...)

E por toda boca
e por toda parte
meia-noite arde
sem chapéu de fogo.

Antes verde
hoje tarde
amanhã
arte?

(Arte
salva
de palmas...)

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 26 de março de 2009

REVENDO JANELAS (SEM RIVOTRIL AINDA)

Essa voz
de dentro da boca que finge falar poemas
(mas só os pensa)
está cansada.

Sem um projeto coletivo e utópico onde caibam meus sonhos
sem um dia-a-dia individualmente minimamente simplesmente suportável
sem grandes avanços na psicanálise além de querer parecer curado...

Eu mesmo
a mim mesmo
só comigo mesmo
constantemente me prendo.

Só.

O resto são detalhes
variações sobre a mesma lenga-lenga
e versos sem rima.

Vejo:

Janelas?

E as quatro paredes
maiores que elas?

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 18 de março de 2009

FORÇA

minha liberdade leve
deve se alimentar
da pesada raiva

(Fabio Rocha)

REVISITANDO POEMAS E JANELAS (E JUNG?)

Numa bela sessão de psicologia analítica, acabei lembrando de um de meus primeiros poemas, sobre um muro (The Wall) que construo para proteção, mas acabo me sentindo isolado... E deixando uma janela, vejo o lado de fora e quero sair... E há como sair. Ver a janela é a passagem para querer sair. O poema, sua forma, e o modo como foi escrito acho horrível hoje (nem achei em lugar nenhum ele), porém, na sessão, a psicóloga ligou a janela com a desse quadro de Picasso (Guernica), do lado direito:



Achei bem interessante, e questionei se a janela seria como um símbolo universal, do inconsciente coletivo. Abaixo, outros poemas que achei sobre janelas como escape, esperança, libertação...

(Fabio Rocha)

Janela


Ao Instituto de Física da UFRJ, 1995

A janela...
Sol refletido na construção branca...
Pessoas que são formigas e não sabem...
(A altura nos dá certa consciência)

A cabeça pesa,
cheia de malditas, inúteis, incontáveis
fórmulas.

Espano a ira
e olho adiante.

A janela chama...
As nuvens são mais bonitas
quando não se quer pensar em nada.

As árvores estagnadas
como um quadro...
O azul perfeito sobre elas...

As aves voam com mais graça,
mais devagar...
E daí se são urubus?

Num piscar de olhos,
sou um deles.
Quero ser.

Mas quando os abro novamente,
vejo apenas
uma janela.

(Fabio Rocha)

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Windows

Ah, por quantas salas passei?
Nelas,
quantos mestres distintos escutei?

E meu maior fascínio,
eu sei,
sempre foi pelas janelas.

(Fabio Rocha)

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Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008

"JANELA, PALAVRA LINDA"

Para Adélia Prado

O grande mundo
lê jornais e revistas
se olvidando de criar Deus
e adivinhar a maciez desses montes verdes...

Acadêmicos palestram
para eles mesmos
no auditório 34
enquanto a poesia
me pinga novamente
devagarinho
das lisas pedras pros rios.

Adélia, não enxergo teus peixes santos
e igrejas só me rimam beleza
do lado de fora...

No entanto,
sua bagagem,
seus amores, cores e águas
me transbordam as mãos.

(Fabio Rocha), entre RJ e BH

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Domingo, 8 de Março de 2009

JANELA ABERTA

E foi num domingo santo
que revi todos os sonhos...

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 16 de março de 2009

TARDE DEMAIS

Quando a noite chegar
e a imobilidade vencer suas palavras
o silêncio terá valor
(e
talvez
eu)
.

(Fabio Rocha)

domingo, 15 de março de 2009

SALTO

de mim ao céu
uma trilha de insetos estagnados
sem visíveis teias

caminho de veias
e sedes venosas

leveza ascende:

lilás
sobre o azul

(Fabio Rocha)

terça-feira, 10 de março de 2009

CURVAS

Toda a água brava, revolta, agitada
que me amedrontava
agora está
sobre mim
e prazerosamente me mata
e refresca.

Dos infinitos rios
lambendo pedras e limos
descendo montes
cavando terras e sonhos
cismando pastos distantes...

Dos vales de silêncio
e manhãs de sol
bois ensimesmados desconhecidos
ventos do passado...

Dos carinhos
calores
e odores
da casa da vó
onde criei rios
no quintal...

De tantas cores e dores
trajetos, curvas, linhas separadas
o encontro:
amor
azul
o mar.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 9 de março de 2009

TEMPO

Leio Walt Whitman
no rosto do velho barbado
há 90 anos no Ceará
com cada osso torto
e calor
e sofrer
e silêncio contemplativo.

Meu avô.

Seus olhos vêem o mesmo todo.

Vou viver.

Os cheiros da infância feliz
encontraram algum secreto caminho
pro apartamento de hoje.

(Fabio Rocha)

domingo, 8 de março de 2009

EMAGREÇA DORMINDO: MORRA

- Plim!

O inimigo está
mais escondido
do que sempre.

- Plim!

Cabeças
concordam
na vertical.

- Plim!

Convulsões
inanimadas
viciadas
constantes.

- Plim!

Elevadores
elevam dores
agora com telas
e propagandas singelas:
todo tempo
para cima
em todo canto
para baixo
escolha seu número
para cima
exponha seu úmero
para baixo
no orkut.

Todo espaço
todo tempo
deve ser
ocupado.

Ocupado.

- Plim!

(Divagar:
Esca
daban
dor... nada.)

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 6 de março de 2009

RETORNO

No silêncio da casa
me caso.

O vaso de planta
da infância.

O raso da água
escorrendo.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 3 de março de 2009

PARA JIM MORRISON

Em todos os poemas há lobos, exceto em um. O mais lindo de todos. - Jim Morrison

Na mais alta amendoeira
da rua escura
grita vazio
o velho de branco.

Cavalos não passam
e serpentes dançam:
o velho do susto.

Sozinho no alto
morto de asfalto
o velho contempla
a lua vermelha.

(Fabio Rocha)

Blog sobre Jim muito bom: http://jimmorrisonpoeta.blogspot.com/

REVISITA

Atrás da porta da raiva
e do cio
se esconde algum LoBo
que adio
e jogo videogame.

(Fabio Rocha)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

AUTO-RETRATO

Desenho com as duas mãos
de vez em quando minto
árvores me trazem breve paz
e a leveza da borboleta mais fugaz.

Suo demasiado luas e letras no verão
danço com ventanias e temporais
esquento os cômodos com a respiração
e sempre que corto as malditas unhas
sinto raiva, paixão e profundos questionamentos existenciais.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

AREIA

Dois amigos
caminham
por praias distantes.

Caminham calados
enquanto cai
(constante e irreversivelmente)
por entre os dedos do tempo
qualquer palavra.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

SOBRE O JORNAL

você ainda paga
para ler sem escrever
em árvores mortas

(Fabio Rocha)

*

Concordo com o que Jean-Francois Fogel diz abaixo... Mas, também concordo com o Cardoso: no Brasil, acho que ainda acontece muito pouco.

(Fabio Rocha)

“Jornalistas perderam a platéia silenciosa e admirada, desejosa de confiar em tudo que dissessem. A imprensa hoje é recebida com suspeita. A audiência prefere procurar pela informação por conta própria, usando sites e ferramentas da Internet para construir sua própria visão do que deveriam ser as notícias do dia”

“A Internet permitiu à audiência se tornar o jornalista, através de blogs, por exemplo. (…) Eu não acredito que o jornalismo seja tão importante que tenha que ser deixado nas mãos dos jornalistas. Isto é, mais ou menos, o que as pessoas que apóiam o “jornalismo cidadão” estão dizendo. Jornalismo é um negócio sério, sim, mas jornalistas e leitores atuam de formas diferentes. O problema para a imprensa agora é que ambas as partes são importantes. Imprensa e leitores estão casados e não podem se divorciar”

(Jean-Francois Fogel, aqui)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

PASSOS

Ruas vazias do Rio de Janeiro
por onde passo, num sol danado
e me escondo sombrio
de qualquer folia
sem máscaras.

(Fabio Rocha)

P.S.: Odeio festas.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

MUSICAL MATINAL

dança de letras e significados
sob a regência do invisível
e um céu azul redondo

mais um dia começando
a se fazer sentir
e se fazer sentido
na ausência de relógios

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ALEGRO

Numa noite de sincronia
na tempestade que se forma
e se expande, e se afirma, e se espalha
em raios
ouço a música do ser.

Cantam o mesmo, em harmonia
Heráclito, Drummond, Nietzsche, Ravel, Whitman, Jung:
o mundo, a vida, a vontade, o universo, você...
tudo
é
um.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

TEMPO PARA SI

Enquanto o mar por trás dos prédios rosna
e a brisa de sempre, sempre diferente, venta
gaivotas passam num céu rosado em câmera lenta
e frases complexas sem muito significado morrem.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

VALE TUDO?

No deserto estéril
cercado de moeda
por todos os ralos
me arrasto entre futuros
de pessoas feias mas confortáveis
e um impulso injusto e inafiançável
dentro desses dentes trincados cansados
quer seguir o belo
o bom
o justo
sem ter que escrever o que querem ler
apenas pra passar
de ano, de emprego, de vida.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

PARA DANIEL JOHNSTON

Um poema-auto-resposta
um dilema repassa
automóvel:

Podem inventar budismos
epicurismos
ou qualquer outra bela e convincente forma
de conservaformismo...

Quando este mundo e este momento
bastarem
bastarem legitima e totalmente
a todos os de dentro e de fora da multidão
não haverá arte.

(Fabio Rocha)


Imagem do site oficial de Daniel Johnston

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MÍSTICA

O que eu busco
é o mistério
a surpresa
o encantamento
a empolgação
a superação
a vontade
o desejo...

(Mas o que tenho mesmo é o mesmo,
e o medo de sair do mesmo
me mantém mesmo
no mesmo.)

No caminho
sonhei apenas comunhões
onde havia distâncias
e afastei muitos próximos
muito próximos
nos intervalos comerciais...

Percorri vulcões ortodoxos cheios de gentes
gargarejando nada
e cuspindo metas
a ditar caminhos...

Senti o grande martelo
quebrar algum sentido
e uns e outros mundos...

Sacolejei em vícios lúdicos
rastejei por ouro e futuro
sofri pelo passado deitado...

E hoje me vejo parado
e hoje me vejo sozinho
e hoje vejo
que talvez nunca
tenha conseguido ver
algo que não seja eu...

Afora isso,
sigo parado e sozinho,
com a quase certeza,
mesmo parado e sozinho,
de nada estar além do agora,
de tudo o que preciso
morar no instante,
no entanto,
intocável de tão perto.

(Fabio Rocha)