quarta-feira, 30 de junho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

ANTIPOÉTICA NÚMERO 2 (SOMOS MAIS!)

querer
de todas as estrelas
a mais impossível, sempre,
como se fosse a última
como se fosse a única...

e roer as unhas do tédio
arfar afoito o não coito
tentar tentar tentar
tornar-se ira corte ataque
(um inimigo, por favor, um inimigo!)
perante a indefinível mão constante
espremendo o peito por demais pulsante
a mão dali
tão grande
o grande não
afastando os lábios com lábia
enquanto a linda boca sorri
a mão daqui a cravar as garras na terra, os dentes na lama
morrer ardente em paixão duradoura e demente
(pela insatisfação, somente)
descontrole contra todo o medo
da morte, da solidão, do vazio
todo dia uma guerra
todo dia vida ou morte
todo dia imprevisível
babar extremos
gigante trêmulo inventado em branco
gigante anão colorido de dor
gigante chorão, criança
defronte do inferno do c-o-t-i-d-i-a-n-o
sem meta, sem utopia, sem religião, sem motivo algum
além dela (oh, ela, ela... romantismo encolhido sob tão antigo coração
vazio)
e, afora isso, ser imprevisível sal, explosível diamante
um guerreiro, um mutante de peito em chamas
não ser humano, mas dinamite...

parece um maravilha
parece plena vida
parece poesia...

- Mas não é!

(Fabio Rocha)

PRECE

cismo, insisto, tento
se tropeço, levanto
se choro, se grito, se corto
corto tão fundo e tanto
que nada peço a meu verso demasiado
escancarado, preciso, exagerado e com pressa
mas ele te encontra

mas quando levanto
me encontro
de quando em vez
basta o que há
o que tiver que vir, virá
e canto
pois nas fases de encanto
há um chance, uma pequena chance
de minha paz escrita
provisória paz no presente
espalhar-se manto
então peço a sorrir
espelhar um verso santo

(Fabio Rocha)

REVISITANDO BANDEIRA NUMA MEDITAÇÃO

belo belo, minha bela
tenho tudo que já quero
não quero nada que não tenha

(Fabio Rocha)

domingo, 27 de junho de 2010

ACORDAR ALTO

sou filho do vento e da canção
não espero nada, nada falta
tenho o elemento coração
leve, leve, nas nuvens mais altas

(Fabio Rocha)

sábado, 26 de junho de 2010

O SONHO

mar fundo
eu na água rasa
um navio encalha
e não afunda
graças à âncora
presa na montanha ilha
sólida rocha


mas navios naufragados devem naufragar...
(afago arfante cortando a calma da noite, quase acordando)

mar alto
outro navio vem ajudar
a afundar
corta a âncora
com outra âncora
e submerge silenciosa a nave antiga
a baleia de metal
devagar
escura
escorre azul
morre

mar isto
eu no raso
sem esperar horizontes
eu só medo do som da batida
e de tudo quanto pode me alcançar
quando ela tocar o fundo

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ATARAXIA (PÉS-CHÃO)

“[...] Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.” - Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa), in Odes de Ricardo Reis, trecho final de “Não Só”


nos olhos fechados
ver Sócrates descalço sobre a neve

o sol acende lento
ilumina pardais
nas amendoeiras de minha rua

cantam dançam voam saltam
(tudo pela reprodução)
até o rápido gavião
priorizar sobrevivências

os animais
somos nós
mas
somos nous
mas
somos mais

(Fabio Rocha)

OBS: A citação epicurista de Pessoa ali em cima usei também na abertura de minha monografia, sobre Nietzsche e Epicuro, que pode ser lida aqui: http://filosofando-fabio-rocha.blogspot.com/2009/08/epicuro-e-nietzsche-filosofia-para-vida.html. Adoro essas fases de vida onde consigo aproximar teoria e prática. :)

OBS2: Torrents de música com mantras de alta qualidade do Krishna Das (vídeo acima), pra quem quiser entrar na onda e meditar: http://isohunt.com/torrents/?ihq=krishna+das

OBS3: Centro de Yoga no Recreio maravilhoso - http://anandasurya.com.br

quinta-feira, 24 de junho de 2010

HOMENAGEM PERNETA

( Pro Buccario )

tolerância:
a luta segue
contra esperar
anti-esperança

("a espera em demasia desespera")

paciência:
a vitória manca
é ser agora
agora
agora
agora
nada fora

descontente
é adjunto doente
em olhar de querente
independente de tempo ou estado
conjugado sempre

(Fabio Rocha)

ME AUSENTO

quero um poema
onde se lê
uma árvore ao vento

(Fabio Rocha)

SENSAÇÃO

ouço a criança do rio
atrás do passo secreto

o vento varre folhas
flora asfalto

árvores são seu som

(Fabio Rocha)

EROSÃO EÓLICA

sou esse estado de pedra
imponente e firme
perene preciso protegido

mas há muito
invento:
também sou vento

vento quer passares
pedra quer certezas

mas se sou pedra
e pedra se desfaz
a cada "aqui jaz"

rói
gasta
trinca
acaba

mas sou vento
o verbo do aéreo
o passar do pássaro

se me tocares
não como vento
mas como pedra
se me tocares
racho
me desfaço em a_mares
e mais duma vez reerguer-me-ei da areia da finitude
novo e árido e duro

se me tocares
não como pedra
mas como vento
se for possível tal intento
não como pedra
mas como vento
se assim me olhares
seremos o momento
nada mais
perfeito

(Fabio Rocha)

NOITE ALTA

o sapo mira a estrela n'água
e míngua:
nunca a traz na língua

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

SANSARA

(Para Paramahansa Yogananda)

focar a cisma
na raiz da fuga

respirar

pausar a mente
a repetir doença

parar

fincar
a força
o pé
a terra

(Fabio Rocha)

MANDALA

quando saio do centro
todos os círculos
todas as rodas
todos os caminhos
me levam de volta

(Fabio Rocha)

CEDO

flechas prontas
lua aberta:
a noite sangra

(Fabio Rocha)

SENTIDO!

Tenho cinco sentidos.
Nenhum
faz sentido.

(Fabio Rocha)

DISPAÇO (DETER GENTE)

(Para Raul Seixas e Coldplay)

se fantasiar leve
traz sentido ao aço
dispa-se o traço
luto abraço luto
resolutos nervos
ave de cansaço
som absoluto

fingir até ser
pensar até crer
descansar do sofrer
rir da piada
até morrer

dia sim
dia não
dia sim
dia não

dentes e lágrimas
contra a lei da gravidade:
perder
para achar

máscara por trás da máscara
por trás da máscara
vulcão
por trás da máscara
paz
por trás da máscara

rock de carnaval
meio triste

(Fabio Rocha)

AUTOCLAMADO

se vento, inclinar
se chuva, banhar
se treva, dormir
se fogo, aquecer...

nada
poder
afetar
além
do próprio
olhar

ser
a própria mão a se acalmar
o acolhimento da casa
o velho amigo
a chegada

vigiar o controlável
aceitar o incontrolável
buscar apenas versos
sonhar não mais que palavras

(Fabio Rocha)

O SOL INTERIOR

Adivinhar a serenidade da montanha
através das nuvens
e a fertilidade das cinzas
por meio do fogo.

(Fabio Rocha)

domingo, 20 de junho de 2010

Whatever Works (Tudo pode dar certo, EUA, 2009)

É inacreditável. Se repete, mas é. Você dá um mínimo passo na direção certa e vida te premia. Acabo de assistir ao melhor filme da minha vida. Sim, melhor que Matrix. E no momento perfeito... (Falando do filme daqui pra frente, mas não tem spoiler não.)

Na primeira cena, você já ve que a personagem principal, pra variar, é o Woody Allen, como sempre com alguma pequena mudança nos detalhes... No meu caso, também me senti refletido imediatamente. Mais ainda com a personagem falando diretamente pra câmera, como Machado de Assis conversando com o leitor, que me inspirou a fazer isso em alguns poemas também. É uma obra destruidora de barreiras... Você pode ser o que for, cineasta, poeta, físico, ou passeador de cães, mas saiba que vai se sentir refletido também em uma ou mais personagens. Estamos muito perto, somos basicamente os mesmos desejos, as mesmas agonias, as mesmas dores, os mesmos sintomas, os mesmos sonhos, as mesmas manias... Só mudam pequenos detalhes. E o filme mostra o devir da vida e das relações sem culpar ninguém. Sem culpar ninguém, olha que maravilha essa forma de ver a vida, além do bem e do mal. Exibe magistralmente como as pessoas mudam, crescem, evoluem com o tempo, o viver e o sofrer. A forma como expõe imprevisibilidade da vida me fez sentir melhor que nunca o amor fati de Nietzsche, que sempre misturo com sua teoria do eterno retorno, que, muito resumidamente, nos faz aceitar e afirmar todas as nossas histórias, todo o nosso passado, a ponto de sorrir se tivéssemos que repetir eternamente tudo exatamente igual, para sempre. (Quem quiser bisbilhotar mais minhas filosofadas maiores, o blog é http://filosofando-fabio-rocha.blogspot.com ). É um filme onde você se sente integrado à humanidade, e em paz (mesmo que seja quase um ET, como a personagem principal). E querendo aproveitar as coisas boas da vida (whatever works) no agora, mesmo que acabem, mesmo que mudem, que sofram os efeitos do devir... Alto astral, filosófico, com boas sacadas psi, poético, bem dirigido, diálogos inteligentíssimos, atuações perfeitas (Woody Allen sempre descobre uma mulher linda por quem a câmera se apaixona, e nós junto), centrado em pessoas, humano, demasiado humano... Não deixem de ver com carinho.

VOLTANDO PRA YOGA

parei de adiar a parada
depois da caminhada

sem hora pra voltar
sem ter que fazer nada
sem ter que conseguir tudo

a Terra abaixo girando devagar
um piano gravado em algum tempo
em algum lugar
é meu som

ciclistas passando numa competição
ciclistas morrendo caídos no chão
(ambulâncias, alto-falantes, produtos, empresas, logomarcas...)

eu respirando fora da pista
fora da pressa
o ar gelado, o vento bom

sem esperar
nada de ninguém
nada do destino
nada de mim mesmo
nenhuma iluminação
bastando poder pagar
os três reais pela água de coco
e me esquentar ao sol
olhando o mar

(Fabio Rocha)

sábado, 19 de junho de 2010

PENSE AZUL (HADOUKEN)

música alta saindo do nada
olhos fechados para ver tudo

o mar
a vontade
a água

onda
quando do momento da onda
e-x-a-t-a-m-e-n-t-e
nem antes
nem depois

círculo símbolo infinito
o equilíbrio do desequilíbrio
roda da fortuna nas mãos de um homem
o controle do incontrolável
todo uno
raios
nada impossível

UM GRITO!

(criação)

(Fabio Rocha)

PROBLEMA DE FÁCIL SOLUÇÃO

não gosto de copa
nem de cozinha

futebol é a coisa mais idiota já inventada
depois da novela e do telejornal
(não necessariamente nessa ordem)

não gosto de copa
nem de cozinha

não quero ninguém perto
não quero ir sozinho

(Fabio Rocha)

BUDISMO?

quero matar com uma lança
toda e qualquer espera
toda e qualquer esperança

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

MISSÃO IMPOSSÍVEL - AMAR

quando você chegar
tão nova tão
antiga
soaremos a melhor cantiga
de ninar
e o mundo
se autodestruirá
em trinta segundos

(Fabio Rocha)

SARA, MAGO

Sara sim.

Até a morte do pé
tem cura:
frutos.

(Fabio Rocha)

SUBLIME

fui beber água
ouvindo música clássica
e ela veio na direção contrária

como um raio
um susto
um soco na boca do estômago

inesperada avidez
(água nas mãos)

- a beleza é imediata

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ALVO SOL (E OUTRAS METÁFORAS E GARÇONS E COQUETÉIS)

faltam
três horas
trocentos trinados
trezentos galos
para algum sentido embelezado com auroras e camarões
(lágrima cansada, inútil, sazonal e monótona cá dentro pendurada sem
cebolas)

sempre erro o jeito de entrar
sempre erro o jeito de, discreta e misteriosamente, entrar
sempre erro o jeito de, como quem não entra, entrar
(e também a hora)

restaurante lotado, longe, tudo difícil

luta longa declarada

nó górdio, voadora na nuca

saborear quase o melhor prato
depois insossas batatas
depois cavucar as latas
com a fome aumentando em vez de saciada!

(tudo queimado)

sempre erro a hora de sair
sempre erro a hora de pedir as contas
sempre erro a hora de trincar os dentes
sempre erro a hora de sair
(e também o jeito)

luto

(se eu fosse pro circo seria palhaço)

tudo tão imperfeito sempre
tudo tão agonizantemente pouco

luto

e seguir gritando brilho
no dia seguinte inimaginável
e seguir cantando sempre
amar-elo
sorrindo
adiante
alto alvo avante
(até a próxima morte
até a próxima noiva
até a próxima noite
até a próxima vulva
até a próxima
até a última)

(Fabio Rocha)

SÓ POR HOJE

hoje eu quero ser
triste
sem me justificar com um poema
sem explicar porra nenhuma com um poema
sem tentar me entender com um poema

hoje eu quero ser triste
em silêncio
quieto no meu canto
sem ninguém lendo

(dito isto, aí vai um poema)

(Fabio Rocha)

DEPOIS DE CERTA IDADE

feridas se beijam
chagas de antes
molhadas de pus

cicatrizes se tocam
crostas de passado
lixando asperezas

os mais covardes
preferem bungee jumping

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

LOOP

olho as normas
da liberdade:
vejo grades

(Fabio Rocha)

APENAS FOGO NAS PENAS

caramujo saindo da casca
(será que chove?)
coloco a mão para fora da cobertura do telhado
(Pessoa para fora da possibilidade do soco)
engatinho letra a letra
na lama lúgubre
venta

de quando em vez encolho antenas
(mulheres de Atenas)

chove
não enche

Barros me lêem
samurai

não mais que de repente
estar de pé
e o primeiro passo
não tão primeiro
na estrada nova
não tão nova

virão âmbar e pedra e tudo novo de novo não tão novo
(tão certo como dois e dois são cinco)
mas vou sem lenço sem documento
viver dez, viver cem, viver mil

sorrio sem o menor motivo
(me dê motivo...)
e escolho o ritmo dos passos

não sei ser parado
nem Madre Tereza de Calcutá
sempre ando armado de música
e cabem cantos no espaço

Santa Clara, clareai!

luz do sol
eu passarinho

(Fabio Rocha)

terça-feira, 15 de junho de 2010

MASTIGANDO VIDRO

Ludmila:
minha língua dança
em teu nome

sorrio de mim

tudo tão rápido
ah, quantos momentos perfeitos
quantos encontros sem fim
de almas ou guaxinins
pode haver nesse universo cósmico
mágico
sincrônico
holístico
apócapo?

sua voz é tão bonita
falando palavrão...

sorrio de minha pressa
da minha idade
da minha empolgação padrão
e vislumbro a obviedade da vida:
tantas maiores paixões seguidas
coincidentemente depois da maior porrada

você é esperta, Ludmila...

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

ÚLTIMO PASSO

sim, poetas têm muita imaginação...
(o problema ou a solução?)
por isso criam
(e conquistam)

chega da coisa adiada:
abram as cortinas
desçam as canetas
subam as espadas

pois muito bem
não havia quase facas
nas mãos para trás dessa dança
quase
(sempre há facas quando afagas)

não era o momento errado
não era o tempo errado
não era o vento errado
era a pessoa errada
(sempre é a pessoa, não os detalhes)

você não lê
e não é Ela
(não há Ela?)

mas dançamos
dançamos bem até
enquanto éramos música

houve uma dança ao menos
quando eu quis o impossível
consegui o improvável
e acordei com o insuficiente
(cabeças ao alto!)

bla bla bla

clap clap clap

fechem as cortinas
fechem as cortinas

a poesia da coisa jaz aqui
mas
a poesia é a coisa que me faz
a Poesia é o que amo mais
(e você não lê)

(Fabio Rocha)

ACONCHEGO

pela poesia de líria
deliro os grilos nos armários
que teciam noites com som de perenidade
de dentro de dentro de dentro da casa da minha vó

(Fabio Rocha)

ACALANTO

sob o seu sorriso
sob o meu sorriso
minha mão sem máscara
busca a sua

(Fabio Rocha)

ZEN

o que for
deixar ser

o que não ser
não for(çar)

(Fabio Rocha)

domingo, 13 de junho de 2010

FESTAS DE SÃO JOÃO EM HIGIENÓPOLIS

eu jogava pedras com meu avô
no rio onde hoje passa
a linha amarela

sob balões
e canções

com pressa e progresso
encanaram o rio
e acabaram as festas

restaram
as lembranças
e os tiros

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

ANTIPOÉTICA

já não desejo o saudável
e trôpego tusso e troco
o ácido ascórbico
por seu iogurte importado com polpa
que não me poupa da acidez
de te querer tão gástrico

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

QUE A ESTRADA SE ABRA A NOSSA FRENTE

(Para Ela)

saltar do pico mais alto
na hora máxima

(lágrimas do vento)

a surpresa do vôo
a dor do último poema

asas
fogo
penas

apenas
boas
lembranças

(Fabio Rocha)