quarta-feira, 28 de novembro de 2007

(IN)CONSCIENTE

Quanto mais lia sobre a importância de aceitar que nada é definitivo, quanto mais concordava com a vida plena no momento presente, aceitando a guerra caótica com poder, coragem e força, vindo o que vier no devir... Mais se sentia tenso, mais se preocupava com o futuro, o dinheiro... Mais planejava e tentava resolver tudo para o amanhã chegar todo certinho, pratos lavados, carro abastecido, como se pudesse algum amanhã ser totalmente previsível. Como se pudesse alguém se aproximar do definitivo. E qual seria a graça de uma manhã assim?

(Fabio Rocha)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

SO(M)BRA

em desalinho
tecer dias
tardes
tardes
acnes
de palavras que não bastam

tempo
todo
longo

tic
tac
do relógio que não há
em contagem regressiva
para o não ser

tic

tac

até que toca
a sonata
ao luar:

precioso
tempo
todo
meu

(Fabio Rocha)

ARTE ANTES QUE SEJA TARDE (ANSIEDADE)

os pulsos esguicham
tinta de poemas futuros

coração a mil

pressão
de apenas
ser

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

TARDE QUENTE E UMA POMBA

tecla:
antes tarde
do que tiro

som suave
de verdade
(mentira)

pássaro
que não vejo
em paz

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

SEM ESPUMA

enquanto finjo relaxar na água quente do banho
e umas duzentas crianças morrem de sede na Terra
pérolas me cantam ouvidos
tais quais:

até quando pessoas se resumirão
dentro ou fora da televisão
a nadadores pela nação
a nado
a nada
quebrando recordes
de outros nada-dores
agora lentos
anteri-ores
numa espiral infinita
de relógios mais precisos
pessoas mais especializadas
e nada especial
nada diferente
nada útil a nada
a brotar do nado?

mas no fundo
dessa piscina interior
algas me dizem que isso tudo
é porque estou de fora
seco
sórdido
perdido

e por estar perdido
tento em ondas
descobrir o óbvio

por não suportar
o peso do nada
quero leve o mundo

(me levem)

(Fabio Rocha)

domingo, 18 de novembro de 2007

"COMO SE DENTRO DE MIM UMA MÃO SUAVE APERTASSE"


"asas do desejo"

asas de concreto
peso de conceitos
vento no capim
mato
morte

noite muito tranquila

noite
muito
tranquila

anjos falam
meu silêncio

"só os caminhos mais antigos levam adiante"

uma maçã cinza
sabor de vermelho

meu coração
o dia todo

meu coração

(Fabio Rocha)


(Poema feito enquanto assistia ao maravilhoso filme "Asas do Desejo")

terça-feira, 13 de novembro de 2007

TV FECHADA E ABERTA: QUASE A MESMA META

Esse poema
é uma singela homenagem sem peso
que não chega aos pés da profundidade
do maravilhoso programa da tv a cabo
que vem logo após a Oprah
sobre cães tão gordos quanto seus donos estadunidenses
agradecendo também ao Faustão
que já é um como um sócio aqui
desde o início do blog.

É favor ignorar os magros estendendo
suas mãos magras
nos sinais de trânsito.

(Fabio Rocha)

CHE

se Che
se fosse
mais tarde
talvez
todos fôssemos
um fogo
que mais arde

(Fabio Rocha)


"Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera"

(Che Guevara)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O CÉU NO FUNDO

Me dão tristeza
uma melancolia danada
as casas em ruínas
de paredes descascadas.

Mas é uma tristeza tão boa
uma saudade engraçada
de onde nunca estive...

(Fabio Rocha)

DA PRORROGAÇÃO DO PRAZER

alisar ladrilhos ferventes
na plenitude da calma
sem que a vontade da palma passe
e sem rimar a alma

lamber granitos entumescentes
também com unhas e dentes
até que o grito rasgue a garganta
gelado banheiro, gelada cozinha
tentando conter
até o limite
a rima

(Fabio Rocha)

SENTIDO

Sobre ombros e pianos e gangorras e flechas e objetos diretos
muito além de qualquer imaginário distante ausente
entre você e seu armário embutido
encontra-se o
agora.

(Fabio Rocha)

CRIAR


um jardim secreto
com violinos e mangas
borboletas e utopias

(Fabio Rocha)

sábado, 10 de novembro de 2007

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

VIA LÁCTEA


garimpar os dias
que a morte é certa

tudo deveria correr fácil
no entanto
tanto atropelo
tanto medo de tentar
tonta fuga

ansiolíticos não bastam

garimpar os dias...

tudo deveria ser
calmo
paisagem verde
daqui até o crepúsculo

garimpar estrelas fugidias


no universo íntimo
onde não há agonia

(Fabio Rocha)

OBS.: Poema inspirado no belo filme VIA LÁCTEA. Segue um poema muito repetido no filme:

Chuva Interior

Quando saia de casa
percebeu que a chuva
soletrava
uma palavra sem nexo
na pedra da calçada.

Não percebeu
que percebia
que a chuva que chovia
não chovia
na rua por onde
andava.

Era a chuva
que trazia
de dentro de sua casa;
era a chuva
que molhava
o seu silêncio
molhado
na pedra que carregava.

Um silêncio
feito mina,
explosivo sem palavra,
quase um fio de conversa
no seu nexo de rotina
em cada esquina
que dobrava.

Fora de casa,
seco na calçada,
percebeu que percebia
no auge de sua raiva
que a chuva não mais chovia
nas águas que imaginava."

Mário Chamie

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

FUNERAL

depois da chuva fina
do dia cinza e lento
um piano abre
o sol

si
e em algum tempo
alguém querido
sorri

(Fabio Rocha)

sábado, 3 de novembro de 2007

SENTIDO

uma casa nada
pronta
na piscina

uma montanha
feita de
alta noite

um menino fundo

tão dentro do coração
escuro
que sua voz
escreve luz

(Fabio Rocha)