quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

PONTAL

Pedra antes de tudo pedra
quantos infinitos
oceanos silenciosos
cheios de carinhos, algas e ostras
passaram sob ti?

E esse céu
pintado de auroras marginais
com sangue e vento
ornado de agora
desde sempre?

(Cresce verde em teus velhos musgos
e a noite vem enganar a todos
com a mudança)

(Fabio Rocha)

POEMA CORRETO

Antes
era possível olhar o céu noturno
e imaginar...

Hoje
achamos que sabemos:


1 - científicos métodos classificatórios de astros por grandeza energética medida por instrumentos;

2 - distâncias calculáveis considerando-se a relatividade do espaço-tempo das partículas-onda quando em velocidades próximas à da luz;

3 - substantivos indicativos de conjunto decorados na infância uniforme para falar bonito;

4 - muitos outros números naturais que poderiam ser ordenados em ordem crescente neste poema longo, tendendo a mais infinito...


E, calmos, nos achamos mais certos. E mais sábios...

(Fabio Rocha)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

ALEXANDRINO

Às vezes
quero escrever um romance
escalar um monte
perder cinco quilos
conhecer mais gente
iniciar uma jornada qualquer
sem medo...

Às vezes
filosofo que cada passo
é o que mais importa...

Às vezes
lendo quem me lê
penso que já cheguei.

(Fabio Rocha)

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"Não é no conhecimento, mas sim na criação que está a nossa salvação! Na aparência suprema, na emoção mais nobre, encontra-se a nossa grandeza! Se o universo em nada nos diz respeito, queremos então ter o direito de o desprezar."

Nietzsche, Das Philosophenbunch (theoretiscestudien), S 84

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

COMO?

Antiofídica, a vida
ansiolítica
mamelucamente molda
da madeira o concreto
nos bairros que sobem do mato
e as pessoas que correm do fato
de não

(Fabio Rocha)

ANTIGO TEMA

Antes de tudo,
tudo.

E o passo
mais forte
e despreocupado.

Antes,
tudo eu.

E passo a passo
mais eu ainda
a cada passo.

Mesmo que passe
tudo.

Mesmo que nunca
se chegue
a nada...

Dentro em mim
(fundo, fundo mesmo)
algo não meu:
uma estrela.

(Fabio Rocha)

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"Nada mais fatal do que a moderação. Basta é tão mau como uma refeição modesta. Demasiado é bom como um festim."

Oscar Wilde, trecho da personagem Lord Henry, do livro "O Retrato de Dorian Grey" (Os grandes clássicos, Otto Pierre editores, 1979, p. 274)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

DIFICULDADES IMPEDITIVAS

Ia
onde queria
mais.

Ia
onde queria
paz?

Ia
onde queria
mas...

(Fabio Rocha)

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"A vida é uma questão de nervos, de fibras, de células, que lentamente se criaram e onde reside o pensamento e onde a paixão esconde os seus sonhos. Julgamo-nos fortes, julgamo-nos protegidos. mas basta um nada, uma nuance na cor de um quarto ou de um céu matinal, um perfume que em tempos amamos e que, por um sutil mecanismo, faz reviver em nós, bruscamente, determinados versos de um poema que julgávamos esquecido; um acorde, recordando-nos uma peça de música que cessáramos de tocar... Sim, Dorian, afirmo-lhe, é disso que a nossa vida depende."

Oscar Wilde - Trecho da personagem Lord Henry, do livro "O Retrato de Dorian Grey" (Os grandes clássicos, Otto Pierre editores, 1979, p. 329)

domingo, 18 de fevereiro de 2007

EM MOVIMENTO

por meus caminhos de busca
achei o que tenho procurado:
o paraíso de andar

(Fabio Rocha)

sábado, 17 de fevereiro de 2007

AMOR LÓGICO

Ah, finalmente!
Entre.
A porta está aberta, só para você.
Te esperava a minha sede.

(Ouviu calmamente tudo,
deu meia-volta
e saiu.)

(Fabio Rocha)

META-FORA

Dançando o que sempre acaba
querendo que não se acabasse
passa-se da paixão à posse
e da arte de cantar à tosse.

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

RECEITA PARA EVITAR QUE EVITES

sentir a fundo
cada tudo
que fingimos controlar
aceitando mudo e gritando
a certeza que não há

(Fabio Rocha)

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"Sim, tal como Lorde Henry profetizara, a vida seria um dia recriado por um novo hedonismo, libertando-a do hediondo e brutal puritanismo que, nos nossos dias, conhecera um curioso renascimento. Este novo hedonismo não recusaria a contribuição da inteligência, mas rejeitaria toda teoria, todo sistema que evoque, de uma forma ou outra, o sacrifício da experiência passional."

Oscar Wilde - Do livro "O Retrato de Dorian Grey" (Os grandes clássicos, Otto Pierre editores, 1979, p. 200)

VIDA (AINDA) BESTA

As pessoas na sala de jantar
mudam de cor conforme a tela
e eu mesmo me vejo ali
participando da mesma novela.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

SONHO

No fundo, a voz de Tim Maia: "Você é algo assim, é tudo pra mim, é mais que eu esperava, baby" E num dia sem sol uma câmera em algum plano astral percorria tristemente ruas parecidas com a do bairro de Cachambi no Rio de Janeiro, passando pelo Vasco, mostrando crianças brincando de ser livres, velhinhas tentando as controlar nervosamente, pessoas correndo, ora se assustando com a câmera, como se fosse atropelá-las... Não lembro bem, mas aposto que chovia. "Sou feliz agora. Não, não vá embora"... Triste, triste o filme de meu sonho.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007