segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O BEM DA ESBÓRNIA

é preciso cair na esbórnia

homem ou mulher
garfo ou colher
um tempo ou sempre

é preciso cair na esbórnia:
ama-se melhor
na paz da fartura
do que na agonia da fome

(Fabio Rocha)

sábado, 29 de janeiro de 2011

ENTRE TANTO MUNDO

entretanto dançamos
sobretudo dançamos

todas as distâncias
se reduzindo
num macio toque
num perfume
em nada...

entretanto dançamos
do nada

(os corpos
se entendem
instantaneamente)

sua palavra
me tirando do passo

suas mãos
nas minhas mãos:
pássaros

dançamos
sobre_tudo

(Fabio Rocha)

CANSAÇO DA ESBÓRNIA

não ter assunto
falando alto

lutemos sob luzes que piscam
mas não iluminam

música pra não ouvir sua boca
trevas pra não ver sua pele
álcool pra não degustar sua azeda s-u-p-e-r-f-i-c-i-a-l-i-d-a-d-e

dancemos
(iéiééé)

não

não nos enganemos:
nada em mim quer mais essa porra
(costas que se afastam da mão)

tudo não faz efeito
dá no mesmo
tanto faz

(somos mais)

comida cara
e eu com fome de macarrão

infinitas possibilidades
de solidão acompanhada

dito isto
após enormes progressos conquistados na tentativa
(arerê no ouvido e, na boca, batatas)
chega de dar murro em ponta de faca

daqui pra frente, sem imundície:
isto é sangue, suor e burrice

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

BORDERLINE

tudo é beira
e beira alta
do salto ao solto
céu e chão

mas vem
sem parar
sem correr
a nova mão

asa

a nova mão
alimenta acalentos
e contraltos
sem contratos

só tato

tato
potato portanto
apenas tudo

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

RESISTIR É PRECISO

a menina que voltou a viver pela poesia
e passou a dobrar calças todo dia
as mesmas dobras
as mesmas calças
nas mesmas horas
no mesmo lugar
não consegue mais escrever poesia

sua agonia me persegue

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

RAVE


solilóquio rouco de solidões ocupadas
banheiros ocupados
sal na pele suada
um beijo uma luta uma noite e depois
nada

(Fabio Rocha)

SUPERMAN


o canto do encanto se quebrou
ficou só aquele velho menino
cansado de cair do sonho

no entanto
querendo ainda voar

(Fabio Rocha)

MY (QUICK) ROMANCE


início de sonhos possíveis altos, altos, altos
possíveis prantos futuros tantos, tantos, tantos
ansiedades se espantam
pranto final.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CASA DA VÓ

da casa lascada
pelas frestas
descendo a escada
entre árvores velhas
serpenteando me acerta em cheio
a tristeza do pássaro na gaiola de madeira
no meio da vista que arde
bem ali em frente
na vista que arde
presa em alguma parte
da manhã de domingo

(Fabio Rocha)

TENSÃO NO TRABALHO

escrito no escritório:
cansaço perene do movimento vão
pedra que sou
estátua que não move fingindo ser carne movente
fingindo ser rocha
fingindo ser gente
acoplada à mesa cinza
enquanto estabilizadores
estalam

(Fabio Rocha)

IMPLOSÃO

poesia
é minha prece

se a vida apressa
feito louca
se o amor não desce
do céu da boca
pouco importa:

a poesia
é minha prece

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

É FATO

eu sei que tudo que vejo são meus olhos
(esses imbecis exagerados)

mesmo assim as tardes tardam
(e-ter-ni-da-des)
sem o teu sorriso

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VERBO COSER


(inspirado na poesia de Darla)

ela quer ainda. quer de novo. está pronta, hoje... se levanta feminina, leve, delicada, coberta de flores ao vento. quer coser novamente seu vermelho numa cor alheia. mesmo as dores dos rasgos valem a beleza do tecido.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ELA ERA POETA NUM DOMINGO BOM

ela atrasou mas era ela
sem peripécias ou máscaras
era ela
prevista do fundo dos mares trêmulos
sentida nas torres destruídas
erguendo-se de presságios molhados:
era ela
na hora exata
na hora perfeita
ela gigante

dez horas passaram doces
chocolate branco
me derretendo em seu toque de mão dada
perto presente possível
agora
inteira
sem nove horas

(Fabio Rocha)

sábado, 8 de janeiro de 2011

GUIA PRÁTICO DA SEPARAÇÃO DOLOROSA (A PEDIDOS)

1 - Nunca confie em guias normativos metodicamente elaborados, principalmente numerados;
2 - Teve algo bom, muito bom. Admita e tente se lembrar apenas disso;
3 - Quanto mais doer, melhor você se transformará;
4 - Se tiver raiva, use essa energia para impulsionar sua mudança e expansão;
5 - Se tiver pensamentos obsessivo-racionalizante-analíticos do que deu errado, lembre-se de usá-los apenas para não repetir tudo exatamente igual no próximo relacionamento, sem torturar-se;
6 - Olhando com bons olhos, verá que nada deu errado. Aceite. Entregue. Confie. Abra-se ao que vier;
7 - Curta a fase boa que é estar solteiro, a deliciosa imprevisibilidade das noites de sexta-feira, a liberdade ampliada, as estrelas olhando você caminhando apenas sobre seus dois pés, as infinitas possibilidades se abrindo na estrada adiante;
8 - Experiencie e curta com mais paz seus amigos (se perdeu todos, novos virão...);
9 - Seja seu amigo;
10 - Deixe ir leve o amor, sorrindo pra vida que vem. Tudo - tudo mesmo - muda, flui, passa, morre... E isso é belo!

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

DIRECIONAMENTO

é preciso o caos
pra nascer a rosa

a rosa brota lenta
e carinhosa

a rosa
dos ventos
que vejo e invento
sob a sua
roupa cheirosa

(Fabio Rocha)

PAZ


um poema pesco
no mar parado
nada peço

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CELESTEIRO


eu celesto como quem respira
pois celestar é verbo de ligação
entre o real e o sonho

exemplo clássico de celestagem:
você, loura e desconhecida, me pergunta as horas sorrindo
e eu ouço pianos
e o céu se abre em cabelos de sol
e seus dentes me são claros como promessas...

(Fabio Rocha)

UIVO


(Para Allen Ginsberg)

caminhamos

os poetas se escondem
entre pratas roubadas e pulgas
em apartamentos ínfimos abaixo dos metrôs
em comportamentos íntimos expostos
em manicômios e alucinações auto-impostas
tomando choques de realidade constantemente
batendo de automóvel em comportamentos estabelecidos
sofrendo na solidão dos eternos inícios entre bocas nos cinemas
um milhão de promessas de amor fodidas, todas sagradas, tudo sagrado
presos por cimento e concreto na literalidade azul de Alcatraz
presos na pobreza da prosa monetária auto-ajuda sem sangue nem presas
rebelam-se voando em cores de telhados
suicidas agarrando a vida pela camisa só pra gritar na sua cara: "Estou vivo!"
fortalecidos ou mortos
fortalecidos ou mortos pelo poema da vida
derramam-se hidroterapeuticamente doces em bueiros porcos
dão aulas de educação moral e cívica em puteiros
sobrevivem nos cantos
têm epifanias na última porta fechada com perfume às quatro da manhã
sob o peso do belo mais pútrido
sem nenhuma visão da Eternidade além da pele feminina
só por causa dos cantos
de sua própria garganta
(gargalo de prantos e planos)
seguimos nos arrastando lindamente pro alto, aranhas de poucas pernas
seguimos além do muro
além
da
palavra
sonho

(Fabio Rocha)

OCEÂNICO

como o coco
que cai
se parte
em arte
e molha o deserto

como a pintura de nuvens
na alvorada fria
que ninguém nota

como o vento
faz do mato
mar

como amar
em silêncio

(Fabio Rocha)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ODES NETUNIANAS

vejo os homens retangulares
em exercícios de vida regulares
moldando-se em cubos de gelo
métodos e ciências em cubículos de ser
contidos se contendo e ensinando a se conter
tomando ansiolíticos em vez de LSD
e vendo novelas em TVs de LCD

mas aí vejo você, tão perto
e nada em mim pode não ser explosão e fogo
mas aí vejo você, vulcão
e numa frase apenas ouço a nona de Beethoven

mas paro

paro pois acredito ainda nos homens quadrados
e no meu passado de dor e cegueira
cegueira recorrente
suicídios múltiplos

embainho a espada
e guardo meu máximo num poema

(Fabio Rocha)

ANTIMEDITATIVO

querer
não querer
já é querer

(Fabio Rocha)

NADAR EM VEZ DE BOIAR

tento deixar
as águas me levarem
sem luta

mas pulsam em meu braço direito
um dragão, uma raiva e uma vontade
capazes de inverter
o fluxo das cachoeiras

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

INFINDOS CICLOS OCEÂNICOS

Netuno levanta lentamente pro mundo 
(barbas cansadas) do fundo mais fundo 

crê no próprio canto 
desconsidera cracas rimando 

pisa areias sem ver naufrágios 
ergue-se em sinais e bons presságios 

expurga algas de mágoa 
acelera o peito com água 

tropeça no lirismo 
e cai sozinho no abismo 

(DES)ORDEM DA PAIXÃO


1 - invenção
2 - auto-convencimento
3 - dor

(Fabio Rocha)

MADRUGADA INSONE


a chuva estala
cada folha da amendoeira
que cala

a noite sem sono ao meu redor
dança com os olhos dela:
um de cada cor

(Fabio Rocha)

sábado, 1 de janeiro de 2011