sábado, 31 de julho de 2010

SOLidão

o inverno cósmico
declarou-se aos amigos
(inverno com sol)

uns venderam casas
outros compraram cachorros
todos fantasmados de ausência

de tanta separação
desligaram o som
e o vento não sopra
em nenhuma direção

estão secos e taciturnos
cicatrizes e armaduras no corpo
muros e grades na alma

estamos todos
no entanto
nutrindo futuras esperanças

(Fabio Rocha)

SONO PÓS-SEPARAÇÃO

o sol é só o sol
e a música é música:
nada me encosta a alma

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

BELEZA TRISTE

canto em silêncio
uma lua na água
afogada em pranto

(Fabio Rocha)

SEXTA-FEIRA DESCANSO

seresteira alma
cansada demais
fecha pra balanço

(Fabio Rocha)

SALTO ALTO

o abismo me olha
sorrindo lento
vestido vermelho
o abismo é que me pulsa
impulsiono o dedo pro teclado
e minha calma salta
e minha alma dança

(Fabio Rocha)

MEU TIO COMPROU UMA BICICLETA

os opostos se traem
os homônimos se afagam
os homúnculos non eczistem
mas pero vaz caminha
e eu acho que te quero

(Fabio Rocha)

VOU FAZER UM POEMA DE AMOR


com licença, teorias
vou fazer um poema de amor

vem aqui perto
fala baixinho
deita no meu medo
abraça minha fuga
me redime dessas metas
silencia toda lâmina
me ensina a ser quem sou

com licença, teorias
vou fazer um poema de amor

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

TUDO IGUAL A COMO SEMPRE FOI

resisto e crio:
invento
e creio...

(Fabio Rocha)

O TERCEIRO NAVIO

antevejo o perigoso brilho
vindo pela terceira margem do rio

gritar
correr
mandar parar
fingir que não é
que não vê
entrar na justiça
sentar no chão e chorar
não vai adiantar:

o vento já varre as folhas
de um modo diferente

(antevejo o terceiro navio
pela terceira margem do rio)

(Fabio Rocha)

QUANDO DO OUVIR AQUELE BRILHO INCONTROLÁVEL

quero uma caixa no fundo do mundo
pra prender meu desejo profundo

meu peito sem água
transbordou desde há muito
de tanta mágoa

entre o Buda e o Zorba
este louco não é nenhum dos dois
(norma a definir depois)

e o ciclo desvairado
de encontro e desencontro
cansa

tragam uma balança
pra mensurar a distância
entre o agora e a estrela
(estrelas sempre com ponta de lança)

amarrem meus braços:
quero não querer!

(Fabio Rocha)

POEMETO ADMINISTRATIVO

você tenta
planejar
organizar
comandar
controlar...

vem a vida e pá!

e você segue vivo

(teorias virando cambalhotas)

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

MUDO

mudo sem intermédio ou remédio
de um extremo a outro

pois muito bem, mudo again:
silêncio, segredo, sagrado
(tanto a reaprender)

(Fabio Rocha)

terça-feira, 27 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

SP

cada canto quadrado
ar condicionado
wi-fi liberado
senha tranca cadeado

o trabalho enobrece
o prédio novo cresce
mas o mendigo
continua ali

ranzinza
tossindo cinza

(Fabio Rocha)

CENTRO (MULTICULTURAL)


(Para Ekaterina Balakhonova)

café da manhã

eternizo meus instantes
quando ela olha

como um pão de queijo
e ela olha de novo
e começa a falar uma língua
que desconheço

eternizo meus instantes!

ah, é francês
o pão também, francês

tão bonita, com pão e francês na boca

chega um e-mail:
tão bonito a professora russa
traduzindo meus poemas
pra língua de Maiakóvski

tão bonita ela
elas todas
e o centro
do centro
da vida
onde eternizo seus instantes

(Fabio Rocha)

domingo, 25 de julho de 2010

DAS FALSIDADES

pra me invejar
ou me seguir
ou me odiar
recomendo paciência:
cuspo em coerências
tendo a mudar

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

DESEQUILIBRISTA

com fio
na vida
(sem rede de proteção)

(Fabio Rocha)

EIS QUE SÁBADO VEM (QUE VEM)


vejo ela

solto todas as minhas armas
aponto o nada
(des_afiadas)

regenero todas as minhas farpas
amando-as
passadas

dito isso
(sem mais espadas)
não me interessa nada
que não seja tudo

(Fabio Rocha)

PSI(U)

não tenho mais
paciência
pra ser paciente

(Fabio Rocha)

O MAGO

o poema
me nasce
o sol

a carta
do dia
sou

(caos calmo)

no mar cheio
de possibilidades
não desistir
em âncoras

sobre a cabeça
pesa leve
o infinito

(Fabio Rocha)





OBS: Foram dois poemas da mesma conversa marítimo-seresteira-filosófica. Esse é o do meu amigo: http://hajabossa.blogspot.com/2010/07/ancora.html

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SALTO

A vida é muito curta
para não ser
PLENA!

(Fabio Rocha)

OBS.: Ins-pirações:

"Se não for agora, quando?" (Edson Marques)

"(...) os filósofos ficam andando em círculos e nunca acertam o alvo, eles ficam apenas sondando. A poesia simplesmente vai direto ao ponto." (Osho, A Harmonia Oculta, São Paulo: Cultrix: 2004. p. 22)

terça-feira, 20 de julho de 2010

FOME AL DENTE

o frio hoje
me vence o sol
o molho do sol
o almoço que não
o macarrão quentinho
no monte de almôndegas
do mais alto monte de almônadas
meu canto quer rasgar minha paz em atos falhos
meu canto hoje quer mastigar a harmonia
e gritar sal na ferida filhaduma
só poesia pressa carne
carnal poesia crua
na ponta do dente
no rasgo da unha
(agir no mato)

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ÁGUA


eis que o dia se esvai das mãos
e a poesia que cai na terra
germina e brota mais
rosas sem limites
estrelas abissais
olhos de Afrodites

- Eu já escuto os teus sinais!

(Fabio Rocha)

DEPOIS DE LER VOCÊ


olha, eu leio ainda
e se de quando em vez eu finjo que não leio
(mas leio)
é porque venho contigo
caminhando cá na noite eternizada no peito
vens também comigo
junto
bonito
de leve
admito

(Fabio Rocha)

ANTES

Ver a vida como guerra é estar, de antemão, derrotado.

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

CAMPANHA REPRODUTORAL


eu pro_ponho
o orgasmo
contra o pânico

(Fabio Rocha)

DO SONHO


ela era nova
fruto frágil proibido
pele tenra, doce escápula
mão imemorial vinda desde sempre
me cantou umas palavras lindas
me tocou até eu virar água
bebeu tudo
e nunca me disse seu nome

(Fabio Rocha)

HERÁCLITO


nascido sob a égide das esfinges
renascido em fogo e fluxo, claro obscuro
os rios moldam seus versos

(Fabio Rocha)

REVIRAR MESAS ou CRY ME A RIVER (NA VOZ DE ELLA FITZGERALD)


ter a paz
das retinas de suicida,
uma cadeira pra esperar o tempo,
alguma sorte,
a ira na cômoda
e uma teimosa lira
que arda contra a morte

tantas dores no armário do peito
tão embutidas, antigas e belas
que faço arte
como partes
de desempates

tu partes
d-e-m-o-r-a-d-a-m-e-n-t-e
(reflexos no espelho partido)
mas tuas restantes partes
que me partem
parto em palavras pequenas
para alimentar pássaros

(Fabio Rocha)

(SNIKT) SCRIPT ÓRION


as árvores
olham-nos paradas
olham-nos caladas
(nós no escritório)

palestras motivacionais
em campos de concentração

agarras o parafuso
de um lado da grade
e torces
enquanto do outro lado
torcem a porca
pro mesmo lado

mais adiante
enxugam gelo
e mudam nomes
de secções
para novas siglas

novos chefes
novos cargos
novos postos
tudo igual

tento assinar embaixo
mas há garras nas minhas mãos

(Fabio Rocha)

terça-feira, 13 de julho de 2010

CÍRCULOS CONCÊNTRICOS

com a euforia do silêncio
tocar o lábio da poesia molhada:
ondas de cor se espalhando na água

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

PENSANDO LIVREMENTE

( Inspirado em Edson Marques )

de certo que na primeira semana
tudo é perfume e perfeito
a pele o peito a palavra
e o efeito devastador delicioso
do sexo apaixonado...

de certo passa, Edson
de certo muda, num mês, num ano...

mas o conhecer e ser conhecido
agradar e ser agradado
acalentar e ser acalentado
apoiar e ser apoiado
mais e melhor
não compensa o furor decadente?
o peito mais calmo?
e a amizade confidente?

o que fazer com a vontade de "para sempre"?

(Fabio Rocha)

AO FILÓSOFO SUICIDA

meu amigo filósofo
tá sem família
gosta de Nietzsche mas bebe whisky
tá engordando
chorando lendo Rilke
pensando em suicídio com muita dor

amigo
antes de saltar do barco, por que não
amar desbragadamente
comer moderadamente
mudar tudo
pensar menos
largar as drogas
tentar ioga, ufologia, meditação, telecinese?

mas cale sua mente
silencie a maldita razão anti-poética e lógica
e pode ser que voltes a achar graça num ácaro
comendo lascas de pele velha
no canto mais feio
do sofá onde dormes

(Fabio Rocha)

QUARTZO

fissuras novas
facetas mil de variância
na rocha antiga
inútil dureza imponente
inoperante certeza perante
o devir de virar
a
r
e
i
a
d
o
m
a
r

(Fabio Rocha)

DO NÃO CARREGAR A CRUZ DE MALTA

a palavra falta
não faz a menor falta
no meu vocabulário

(Fabio Rocha)

FLORES E PÉROLAS

entre os teus seios
eu, cavalo sem asas
entro galopando vermelho
saio em brasas

(Fabio Rocha)

AD_MITO NARCISO

olho o colibri
e o rio

molho de chaves
pesando mãos que querem
mais que janelas
caros plásticos
carros práticos
quiropráticos
lobotomias de conforto e segurança atrás do vidro...

(duvido)

olho o colibri
no espelho:
sorrio

(Fabio Rocha)

GALOPE

cavalos nos vales dos egos
a sombra de mil olhos cegos
cavalos não mais que cavalos
espasmos sem passos sem mãos
em manhãs de dentes

(Fabio Rocha)

domingo, 11 de julho de 2010

AR E CHÃO

olho meus cavalos sem peito
com peitos descompassados
ou em paz
(tanto faz)

presos e livres
abrindo o mar vermelho
sem água
sem uma gota de água

olho meus cavalos
sem asas
sem lágrimas
presos em prefixos
patas de pedra
idéias de avião

olho e molho
de deserto
meus olhos

em breve
voarão

(Fabio Rocha)

sábado, 10 de julho de 2010

FOGO

se as mulheres
entendessem os homens
vestiriam mais vermelho

(Fabio Rocha)

HÁ OUTRA FORMA?

cavalos
muitos cavalos
presos
corações pesados
por muito tempo
ansiogênicos
acelerados

quando abre-se o mundo

ir é escancarado

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

RIO DE JULHO

o centro da cidade pulsa:
nada está parado

ambulâncias helicópteros aviões

nada está em silêncio

minhas fatigadas retinas nadam
nas belezas que se movem

(Fabio Rocha)

SOPRO TORMENTAS

apago o verso
e o pensamento
que me deixe impresso
negro firmamento

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

QUANDO DO SONO

durma
durma essa noite
durma toda a noite
e possam seus sonhos
acordar o sol

(Fabio Rocha)

domingo, 4 de julho de 2010

VAGA_ROSA_MENTE

"Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar... Apesar de todas as
conseqüências." (Osho)


quando a vida se abre
nas mais bonitas rosas
(infindáveis rosas)
aparo do peito a prosa
e sinto o silêncio
e sigo o perfume

(Fabio Rocha)

UM TANGO NA NOITE

regar o plexo com silêncio
soltar as feras da vontade
se à sede cedem
pois querer é grito
é berro incontível
é ponte é precipício
do abismo para o nada

(Fabio Rocha e Sylvia Araujo)

sábado, 3 de julho de 2010