domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

SUPER MARIO BROS

meu cavalo branco
com asas de pássaro manco
subo
e desando

invento princesas
pra me salvar
de mim

o dragão
sou
eu

tantas belezas
que não há...

tantas belezas
que não há...

minha terra tem janelas
onde jantam caviar...

prédios cinzas
espadas pra nada
nenhum lugar para (fer)ir

máscaras de sentir
sem sentido
fingido voar
no chão com o marido

nenhum lugar para ir, cavalinho branco

there´s no place to go

there´s no place like home

subo
especificamente imaginário
na palavra pássaro
e passo

(Fabio Rocha)

AND SO IT IS

Você bate na porta
ninguém responde.

Deve ter ido ao parque.

Você vai ao parque
e o amor foi ao teatro.

Você vai ao teatro
e o amor saiu antes do fim da peça.

Você volta pra porta
pra porta da casa.

Você bate
você sabe dele lá dentro
quase pode ouvi-lo respirando
você bate
ele não responde.

Talvez tenha saído...

(Ainda bem.)

(Fabio Rocha)

RE-COMEÇAR

Para Renata Bezerra

Re inventar beleza
Re erguer dias
Dionísio dançando
na pedra de Sísifo
curvas de Rodin
o pedal que acelera
encurva distâncias entre mãos
encurta lonjuras de lábios
comunhão imaginária
Re encontro possível
dedal de costurar futuros
Re nascer
Re acreditar

(Fabio Rocha)

QUASE UMA PIADA

Quero
quem não me ame
pelos meus versos
pelas minhas idéias
pelo meu corpo
pelo meu bolso...

Mas o que sobra?

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

EVANGELIZADOR

O meu deus então não pune
não manda pro inferno eterno
aumente agora o seu volume
cante a glória do enfermo
jogue fora sua muleta
foda tudo, menos a buceta
engane mãe, pai, proveta
faça tudo que não pode
mas não use camisinha
faça tudo que lhe agrada
e dê uma risadinha
a tal bíblia sagrada
é todinha metafórica
nos castigos, não nos prêmios
nos castigos, não nos prêmios
nos castigos, não nos prêmios.

Mais uma vez, louvando até o chão:

Nos castigos, não nos prêmios
nos castigos, não nos prêmios
nos castigos, não nos prêmios.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MARÍTIMO

Minha essência
é mudar.

Não me basta
ser rio
se posso
ser mar.

(Fabio Rocha)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

COMO NUM AQUÁRIO

de quando em vez
esteja com quem estiver
o som das vozes de fora baixa
e entro num estado de solidão

minha voz também se cala
para ouvir algo maior

não me prendo a nada
e misturo fascínio com cansaço
paz com agitação

essa é minha casa:
escrever

não é culpa de ninguém
nem há como fugir disso

(Fabio Rocha)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

SORRISO MÚTUO DE CUMPLICIDADE

(Para Edson Marques)

sou eu e o céu novamente
o mesmo céu
o mesmo eu
ambos diferentes

(Fabio Rocha)



Cena que me inspirará para sempre... Não deixem de ver (e ouvir).

O filme é "Minha amada imortal", sobre Beethoven. Nesta cena, ele já está velho e surdo (parece que ficou surdo também de tanto apanhar na cabeça, do seu próprio pai), e o diretor tenta mostrar uma versão do que teria inspirado esse gênio a compor a Nona Sinfonia (que toca ao fundo a cena toda - a Ode a alegria). Há uma mistura linda do Beethoven velho e surdo imaginando sua própria obra sendo tocada, sem poder ouvi-la, e voltando às memórias do que o teria inspirado a compô-la, quando criança. É simplesmente perfeita... Arrepiante.

A Nona Sinfonia de Beethoven é considerada por muitos a maior obra de arte de todos os tempos. Beethoven a ofereceu como pedido de desculpas para a humanidade pelo seu comportamento muitas vezes irado, numa carta. Uma curiosidade: A capacidade de um CD (74 minutos) foi configurada para que desse nele toda a Nona Sinfonia.

SEM RAIVA?!

Nada é tão
como era
então.

(Exceto talvez a paixão...)

Se a raiva passa
o medo
aumenta.

Ela ali inteira
fora da piscina
esperando
pra me lavar a mão
depois da artificial cachoeira
toda de branco
sem marchas, pais, religião
era real?
Era bom?

(Fecharam a água:
peixes morrendo no chão
raso do sonho.)

Ela ali de pé
tão grande
quanto minha ilusão
sentada
na mesa redonda
meu medo branco.

O sonho
o sono
o amor
a ira
a água
acaba
sem motivo
ou aviso.

Apanho
minha mala
branca de dor suportável
e de medo controlável
(sem raiva?!).

Aceito-a.

Olho a estrada.

É feia.

E nunca houve um estrela.

Acordo e ando.

(Fabio Rocha)

DAS COISAS QUE APRENDI

querer mais
que o médio
o meio
o tédio
o morno
o quase
o morto

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

ESTADO PLEXO

Para Vanessa Souza Moraes

é quando
leio a coisa certa
(ou a errada)

e quando uma música lenta

e quando uma cena cortada

acho maravilhoso
a princípio
(oh, momento de glória!)

e no seguinte

sumo eu
e qualquer fruto de precária paz
resta flutuando
no meio de tudo
além do espaço
esse peito indefinível
em chamas, em pânico, em frenesi de dor, ácido

e estou fora do tempo
longe do momento
o passado é i-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l
e o futuro, imprevisível

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

L'AMOUR

Um cachorro preto
todo osso
tempo demais
junto
junto
eu chuto, cuspo, expulso:

- Passa! Passa!

Junto
tempo demais
junto...

Arrumo a cama
pra outros dormirem...

E o cachorro junto
de osso preto
de peso morto.

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

EWIGE WIEDERKUNFT

Não.

Não me arrependo
de nada.

Essa
é minha cruzada.

Minha essência
é jogar os pássaros pro céu.

Mesmo que no calor do Rio de Janeiro
eles prefiram o chão
e se cubram com pele de cordeiro
em pleno verão
e se amarrem à pedra sobre a qual
se construiu essa igreja anti-natural
com cabeças baixas e graves
(palmas pra Jesus).

Mesmo com chagas
nas minhas mãos
de tantas bicadas...

Não me arrependo de nada
e faria tudo outra vez
e-x-a-t-a-m-e-n-t-e igual.

(Fabio Rocha)

O MÍNIMO A FAZER

Morreu Jesus
por nossos pecados
na cruz depois do sermão:

- Pequemos, então!

(Fabio Rocha)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

AMON HÁ FICTÍCIO

palavras escarpadas
dentifrício de céu
falésias e falências
desabando em câmera lenta
bonitas

elas

bonitas musicais inteligentes criativas novas
lavrar noites em silêncio e solidão acompanhada
colher dias de amor
algodão-doce
tudo claro
tudo causticamente claro e infantil

eras

seguir só sem se curvar ao vento
alimento
de lembranças

o edifício
o difícil fechar de todas as janelas e portas
em si mesmo
quando do cansativo alcançar o sol
inalcançável

(Fabio Rocha)

A MORTE, O FIM, A DESPEDIDA, A TRANSITORIEDADE E O MEDO NO INCONSCIENTE DO EU LÍRICO DORMENTE (UMA PSICO-ANÁLISE VIA POESIA)

A festa acabou
na casa antiga
e enorme.

É tarde.

Pessoas demais.

Não quero ler mais nada.

Apago as luzes acesas
tranco as portas escancaradas
que é noite ainda
madrugada.

Noite.

Vozes me acompanham
e um cão em ossos negros
morto
anda comigo.

No quarto antigo
e meu
uma paixão mal acabada fala mal de mim
a amada
deitada nos braços de outro cara
feio asqueroso filha da puta burro
e deixo minha cama bem grande e minha
para transarem em cima pela noite adentro
sem dizer nada
sem dizer
nada...

Enquanto isso
uma por vir
e outra iniciada.

Mudam os nomes
e datas
(às vezes, nem isso).

Pessoas demais.

Desço as escadas
trancando a apagando
e nunca parece bastar.

Pessoas demais.

Amando?
Amando quem, caralho?
A mando de quem, amar?

Quero uma só.

Quero uma só?

Quero uma só
que não me seja faca
só lâmina
no final...

Mas sem ser fraca
não perca o brilho
do metal.

Uma
só.

As vozes de fora
me falam de alguém me chamando
perto da máquina de lavar.

É minha irmã bem casada
no chão, sem queixo, machucada
tentando se proteger do cachorro sem plumas
maldito manco morto deformado e negro.

Alguém chama
uma ambulância?

Pessoas?

Vozes de fora?

Alguém?

Do cão
do fim
eu te protejo.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Meu poema em outro livro escolar

Amigos, estou em outro livro escolar, agora da Editora Moderna. Português: Leitura, Produção, Gramática - 7o ano, 3a Edição (2009). Comprei e escaneei, claro... ;)


Meus parabéns a editora pelo cuidado, respeito aos direitos autorais e belo trabalho.

(Fabio Rocha)

OBS: O outro livro escolar tá aqui. Meus ebooks e todas as publicações em papel aqui.

AUTOMÁTICO

Planejo fazer poemetos herméticos
sobre tartarugas e nematocistos.

Mas quando te vejo
o sorriso abrindo
desejo
pinga dos dedos
e mãos felizes
dançam livres
nos teclados.

(Fabio Rocha)