segunda-feira, 30 de março de 2009

COLO

Vem e me salva, palavra
que a palavra colo
hoje está tão solta...

(Hoje está tão longe,
tão pequenininha...)

E por toda boca
e por toda parte
meia-noite arde
sem chapéu de fogo.

Antes verde
hoje tarde
amanhã
arte?

(Arte
salva
de palmas...)

(Fabio Rocha)

quinta-feira, 26 de março de 2009

REVENDO JANELAS (SEM RIVOTRIL AINDA)

Essa voz
de dentro da boca que finge falar poemas
(mas só os pensa)
está cansada.

Sem um projeto coletivo e utópico onde caibam meus sonhos
sem um dia-a-dia individualmente minimamente simplesmente suportável
sem grandes avanços na psicanálise além de querer parecer curado...

Eu mesmo
a mim mesmo
só comigo mesmo
constantemente me prendo.

Só.

O resto são detalhes
variações sobre a mesma lenga-lenga
e versos sem rima.

Vejo:

Janelas?

E as quatro paredes
maiores que elas?

(Fabio Rocha)

quarta-feira, 18 de março de 2009

FORÇA

minha liberdade leve
deve se alimentar
da pesada raiva

(Fabio Rocha)

REVISITANDO POEMAS E JANELAS (E JUNG?)

Numa bela sessão de psicologia analítica, acabei lembrando de um de meus primeiros poemas, sobre um muro (The Wall) que construo para proteção, mas acabo me sentindo isolado... E deixando uma janela, vejo o lado de fora e quero sair... E há como sair. Ver a janela é a passagem para querer sair. O poema, sua forma, e o modo como foi escrito acho horrível hoje (nem achei em lugar nenhum ele), porém, na sessão, a psicóloga ligou a janela com a desse quadro de Picasso (Guernica), do lado direito:



Achei bem interessante, e questionei se a janela seria como um símbolo universal, do inconsciente coletivo. Abaixo, outros poemas que achei sobre janelas como escape, esperança, libertação...

(Fabio Rocha)

Janela


Ao Instituto de Física da UFRJ, 1995

A janela...
Sol refletido na construção branca...
Pessoas que são formigas e não sabem...
(A altura nos dá certa consciência)

A cabeça pesa,
cheia de malditas, inúteis, incontáveis
fórmulas.

Espano a ira
e olho adiante.

A janela chama...
As nuvens são mais bonitas
quando não se quer pensar em nada.

As árvores estagnadas
como um quadro...
O azul perfeito sobre elas...

As aves voam com mais graça,
mais devagar...
E daí se são urubus?

Num piscar de olhos,
sou um deles.
Quero ser.

Mas quando os abro novamente,
vejo apenas
uma janela.

(Fabio Rocha)

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Windows

Ah, por quantas salas passei?
Nelas,
quantos mestres distintos escutei?

E meu maior fascínio,
eu sei,
sempre foi pelas janelas.

(Fabio Rocha)

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Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008

"JANELA, PALAVRA LINDA"

Para Adélia Prado

O grande mundo
lê jornais e revistas
se olvidando de criar Deus
e adivinhar a maciez desses montes verdes...

Acadêmicos palestram
para eles mesmos
no auditório 34
enquanto a poesia
me pinga novamente
devagarinho
das lisas pedras pros rios.

Adélia, não enxergo teus peixes santos
e igrejas só me rimam beleza
do lado de fora...

No entanto,
sua bagagem,
seus amores, cores e águas
me transbordam as mãos.

(Fabio Rocha), entre RJ e BH

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Domingo, 8 de Março de 2009

JANELA ABERTA

E foi num domingo santo
que revi todos os sonhos...

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 16 de março de 2009

TARDE DEMAIS

Quando a noite chegar
e a imobilidade vencer suas palavras
o silêncio terá valor
(e
talvez
eu)
.

(Fabio Rocha)

domingo, 15 de março de 2009

SALTO

de mim ao céu
uma trilha de insetos estagnados
sem visíveis teias

caminho de veias
e sedes venosas

leveza ascende:

lilás
sobre o azul

(Fabio Rocha)

terça-feira, 10 de março de 2009

CURVAS

Toda a água brava, revolta, agitada
que me amedrontava
agora está
sobre mim
e prazerosamente me mata
e refresca.

Dos infinitos rios
lambendo pedras e limos
descendo montes
cavando terras e sonhos
cismando pastos distantes...

Dos vales de silêncio
e manhãs de sol
bois ensimesmados desconhecidos
ventos do passado...

Dos carinhos
calores
e odores
da casa da vó
onde criei rios
no quintal...

De tantas cores e dores
trajetos, curvas, linhas separadas
o encontro:
amor
azul
o mar.

(Fabio Rocha)

segunda-feira, 9 de março de 2009

TEMPO

Leio Walt Whitman
no rosto do velho barbado
há 90 anos no Ceará
com cada osso torto
e calor
e sofrer
e silêncio contemplativo.

Meu avô.

Seus olhos vêem o mesmo todo.

Vou viver.

Os cheiros da infância feliz
encontraram algum secreto caminho
pro apartamento de hoje.

(Fabio Rocha)

domingo, 8 de março de 2009

EMAGREÇA DORMINDO: MORRA

- Plim!

O inimigo está
mais escondido
do que sempre.

- Plim!

Cabeças
concordam
na vertical.

- Plim!

Convulsões
inanimadas
viciadas
constantes.

- Plim!

Elevadores
elevam dores
agora com telas
e propagandas singelas:
todo tempo
para cima
em todo canto
para baixo
escolha seu número
para cima
exponha seu úmero
para baixo
no orkut.

Todo espaço
todo tempo
deve ser
ocupado.

Ocupado.

- Plim!

(Divagar:
Esca
daban
dor... nada.)

(Fabio Rocha)

sexta-feira, 6 de março de 2009

RETORNO

No silêncio da casa
me caso.

O vaso de planta
da infância.

O raso da água
escorrendo.

(Fabio Rocha)

terça-feira, 3 de março de 2009

PARA JIM MORRISON

Em todos os poemas há lobos, exceto em um. O mais lindo de todos. - Jim Morrison

Na mais alta amendoeira
da rua escura
grita vazio
o velho de branco.

Cavalos não passam
e serpentes dançam:
o velho do susto.

Sozinho no alto
morto de asfalto
o velho contempla
a lua vermelha.

(Fabio Rocha)

Blog sobre Jim muito bom: http://jimmorrisonpoeta.blogspot.com/

REVISITA

Atrás da porta da raiva
e do cio
se esconde algum LoBo
que adio
e jogo videogame.

(Fabio Rocha)