"Abrir o peito à força numa procura / Fugir às armadilhas da mata escura" (Eu caçador de mim - Luiz Carlos Sá e Sérgio Magrão)
sábado, 1 de janeiro de 2000
e-book A Magia da Poesia (2000) - revisado em 2014
A Magia da Poesia
Fabio Rocha
Copyright © 2000 por Fabio Rocha (revisado em 2014 por Fabio Rocha)
Registro EDA – Biblioteca Nacional
Nome(s) do(s) Autor(es): FÁBIO JOSÉ ALFREDO SANTOS DA ROCHA
Título da Obra: LOBOS
No. Registro da Obra: 163430
Livro: 272
Folha: 68
Data de Registro: 19/11/1998
Gênero da Obra: POESIA
Obra Publicada: Não
Nome(s) do(s) Autor(es): FÁBIO JOSÉ ALFREDO SANTOS DA ROCHA
Título da Obra: A MAGIA DA POESIA
No. Registro da Obra: 193566
Livro: 332
Folha: 222
Data de Registro: 17/2/2000
Gênero da Obra: POESIA
Obra Publicada: Não
PREFÁCIO
Diferente das fadas e magos, o livro A Magia da Poesia do poeta Fabio Rocha, utiliza-se somente da palavra, para encantar. “Eternizar um mínimo instante”, assim o poeta define essa magia e a eterniza nas páginas de seu livro, fazendo surgir poemas breves, em sua maioria, utilizando-se de fragmentos de vida, transformando-os em magnetos para o deleite e atenção do leitor.
O poeta segue manipulando a palavra, descrevendo em linguagem contemporânea, suas observações do mundo. Em seu poema “Quem sou” por exemplo, Fabio define-se de forma mística, e, tal como um mago, não retira sua máscara, envolvendo assim seus leitores com um manto poético de mistério.
Surpresas do desconhecido revelam-se em sua poesia causando a sensação requerida quando o poeta apresenta LoBoS, com seu final inesperado, fazendo deste, o ponto alto de sua composição.
Sua poesia é cartola branca de magia e carrega a sensibilidade do poeta, define sua voz em cenas do dia a dia, em experiências retiradas de sentimentos de amor, melancolia e força.
Assim é, que, na arte simples de amar o poeta distribui versos entre doces e amargos para seus amores. Virando-se as páginas do livro, encontra-se em “Divagar” a beleza de sentir que é possível retirar o lado positivo de um momento difícil. Nesta linha segue “Ah, os relógios...”, quando o poeta refere-se ao presente que ganhou, que, mesmo não sendo o seu preferido, serviu-lhe para retirar versos.
Sente-se o bom humor do poeta espelhado nos trocadilhos de palavras, ou seu descontentamento, fixado em sua exposição do mundo social: o turista e o pivete mostrando-nos suas diferentes direções, interrogando-nos sobre soluções e frente à cena de verdade expressa: “Árvores descem, prédios sobem”.
Assim é Magia da Poesia, livro dividido em três partes simples e práticas que o jovem poeta Fabio Rocha, com sua sensibilidade e arte, apresenta ao leitor, confirmando que poesia também é pura magia.
Rosa Clement, poeta
Manaus, AM
Escrever
Meu corpo se enche de emoções dementes,
como uma taça sob torneiras intermitentes.
Se não fosse a poesia,
para onde ela transbordaria?
Férias
(A Fábio, Eduardo, Suzana e José Ronaldo Neto)
Lá vai o turista
subindo a ladeira.
E corre o pivete
atrás da carteira...
Lá vem o turista
descendo a ladeira.
LoBoS
E a coruja observa.
Na calma noite fria
ela, quieta, espia.
Cai a neve molhada
sobre cada pegada
do menino sozinho.
Uivos se ouvem longe.
e a lua se enche
de um medo absurdo.
O pequeno caminha.
Vai alheio à lua
e a sorte sua.
Os lobos se aproximam.
Os caninos cintilam.
O rosnar é só um.
O maior é cinza.
Devagar, se aproxima
do garoto parado.
O rapaz se ajoelha.
Calmamente, sorri.
Há algo errado ali.
O animal nada entende
e como se fosse gente
certa pena sente.
É então que o lobo
de olhos amarelos
se deixa acariciar.
E o menino, devagar
um galho caído no chão
se põe a pegar.
Seu grito é sobre-humano
ao atingir o lobo no crânio.
Corre a alcatéia apavorada
e a criança tem sua fome saciada.
A coruja olha displicente
o garoto partindo, na paisagem inerte.
Nem triste, nem contente.
Jardim
(A Marta, Mário, Ilka e Salvador)
Do velho terraço cheio de limo,
pedaço cinzento de sua infância,
via as sombras da grande amendoeira.
O balanço enferrujado,
as grandes e barulhentas folhas caídas...
Parecia algo intocado, sagrado.
Um copo de água estagnado
era visitado
por miúdos pardais sedentos.
As amêndoas serviam de giz
para escrever nas paredes
que era um menino feliz.
Brilho
(A Alessandra)
Sempre haverá
estrelas no céu.
As nuvens passam,
as tempestades se acalmam...
Sempre haverá
estrelas no céu.
Pingue a última gota
de esperança do coração...
Sempre haverá
estrelas no céu.
E nelas verei teu sorriso.
Solidão
Não estou só.
Há ácaros em minha pele,
insetos escondidos em meu quarto,
células estranhas em meu sangue,
vírus em animação suspensa no ar
e sua forte presença
em meu coração.
Sentido
Qual o sentido
de não ter sentido?
Nada faz sentido...
Nunca faz sentido...
O único sentido
é em frente.
Respirar
(A Anelise)
Inspiro o luar, que na poça dança.
A lua nos inspira.
Expiro esperança.
Antena
Quero captar,
como os Grandes,
a poesia da simplicidade.
Engenheiro que não sou,
devo desenvolver a antena
e encurtar o poema.
Medo de amar
Tenho medo.
De pensar amar alguém
e, na verdade, amar apenas
o que penso que alguém é.
Se eu chegasse
Dia 28:
sexta-feira treze,
sexta-feira fria.
O quadro negro
é verde.
Um pássaro, lá fora, assobia.
Já choveu,
já parou.
Como tudo, passou.
Sala cheia de mosquitos...
Sem sol,
fica tudo esquisito.
Pinga ou chora a árvore morta?
Ah, se eu entrasse agora
por esta velha porta...
e me encontrasse.
Meio Poema
À meia-noite,
à meia-luz que vinha das nuvens,
amei em sonhos.
Há meia-lua
no meio do céu.
Amei a lua
no meio do céu.
Maria
Maria largou tudo.
Partiu como partia os cocos no quiosque.
Maria largou filhos, marido.
Sumiu como sumia seu dinheiro no fim do mês.
Maria não tinha mais problema.
Dela só sobrou o poema.
Maria largou de beber.
Maria largou de fumar.
Maria largou o facão,
cravado em sua jugular.
Maria foi encontrada
largada perto do bar.
Mas essa não era Maria.
Ela ali não jazia.
Maria apenas subia
Leve, como num sonho, ia.
Maria subia...
Para a paz, para a luz que via.
Lógica
(A Andréa)
Estou perdido.
Ela não me quer.
Não estou perdido
por ela não me querer.
Ela não me quereria
apenas por eu não estar perdido.
Mas estar perdido é pior,
com ela não me querendo.
E ela não me querer é pior,
estando perdido.
Se eu me achar
ela vai me querer?
Se ela me quiser,
vou me encontrar?
Cansado de lógica,
vou ver o jantar.
Não há feijão na panela...
Estou perdido, com fome e sem ela.
Ah, os relógios...
Ganhei um relógio de ponteiros
em certa manhã fria.
Na verdade,
um digital eu preferia...
Mas notei a poesia
no som que ele fazia.
Com fome, olhei a bússola
e segui pro meio-dia.
Filosofia Noturna
Cantou, triste, a coruja:
“O ferro enferruja,
a madeira dá cupim,
o novo envelhece,
o ouro desvaloriza,
o castelo desaba,
a carne apodrece,
a fama acaba.”
Disse o vento, com calma:
“Nada é para sempre,
exceto sua alma.”
Tarde
Minhalma vaga em silêncio.
Quer ir sempre
onde não estou.
Me chamam pra realidade.
Diga que não vou.
A Magia da Poesia
A magia da poesia
é encher a lua vazia,
aproximar o tempo distante,
chorar nos ombros da alegria,
eternizar um mínimo instante.
Azrael
Galopava a vida,
Azrael em seu sonho.
Passavam planetas,
oceanos, cometas...
A vida era o Pégaso de um anão
que trotava sem tocar o chão.
Havia chão?
Azrael achava que não.
Acorda Azrael, bebe Sidra.
Não há sentido no sonho
nem na vida.
Férias Praianas
(A Flávia, Mariana, Roberta e Juliana)
Colchonetes no chão
Ventilador de teto
Excesso de tempo
Sono com sonho
Dia mais longo
Excesso de tempo
Jogo de carta
Longe de casa
Excesso de tempo
Chuva bem chata
Lama na porta
Excesso de tempo
Teto de madeira
Idéia, caderno, caneta
Excesso de tempo
(mas é melhor sobrar
do que faltar)
Guerra
Atrás do gatilho
há um medroso.
Atrás do espelho,
um mundo novo.
Windows
Ah, por quantas salas passei?
Nelas,
quantos mestres distintos escutei?
E meu maior fascínio,
eu sei,
sempre foi pelas janelas.
Óculos
Com a demolição
da casa do vizinho
há mais céu
em minha janela
e mais estrelas
em minha insônia.
Eu
Eu sou o eu-lírico.
Sou aquele que cala
e pela folha fala.
Sou aquele que pára
e pela folha dispara.
Sou aquele que não se encaixa
e pela folha relaxa.
Sou aquele que finge
e pela folha vive.
Auto-Biologia
Meus ouvidos distraídos
não querem ouvir louvor.
Meus olhos cansados
não querem ver beleza.
Meus dedos cerrados
não querem escrever amor.
O dia certo
No dia em que a mulher de negro
me cobrir com seu xale,
Na hora em que a escuridão
inundar o vale,
não reguem com lágrimas o capim:
não estarei ali.
E coloquem sobre mim
o anjo que não fui.
Classificados
Vendo poema
Qualquer tema
Nenhum uso ou dono anterior
Injeção eletrônica sem dor
Ar condicionado de fábrica
Quando não está calor
Compre o poema novinho
Invista em seu bem-estar
Se o poema não andar
Há pedras no caminho
Ela
Sou cavaleiro sem donzela
e meu escudo é uma tela.
Se eu não pensasse nela...
Suo frio na capela
se há casamento na novela.
Se eu não pensasse nela...
Sonho meu que não é meu:
já sonhava Romeu.
- Quem pensa? Ela ou eu?
Matinal
Nem o sol vence a bruma inerte.
É tão cedo que até o vento dorme.
Como você quer que eu desperte?
Morfeu tem um poder enorme...
Tarde Gris
Quero achar no fundo de minha rinite
algo que justifique
o inverno.
Por mais que espirrar irrite
não chega a ser um inferno:
lá é quente.
Média
O Maracanã é o novo Coliseu.
Sonho meu?
Quem dera fosse.
Jogos via satélite,
amor via internet...
Via pessoas,
vejo consumo.
Queria viver a vida,
mas a mídia
fica no meio.
Urbanização
A madeira
Molda
O concreto
Árvores descem
Prédios sobem
A madeira
Sente
O martelo
O que era vida
É casca de pilastra
A apanhar
Soneto Onírico
Ednaldo é um perneta,
capitão do Potiguá.
Que vontade que ele tem
de vencer o Guarará.
E de tanto subir serra
com vontade de ganhar,
dicionário deu-lhe asas
para os sonhos alcançar.
Mas me disse Astrobaldo:
- Sonho besta o do Ednaldo!
E eu tive que calar.
Se o leitor achar medonho
o poema ou o sonho,
o convido a escalar.
Vitando
Hoje eu quis violar o vôngole,
com a vontade das virilidades vazias de virgens vigárias.
Queria eu que o verso vomitório alimentasse o voro dos voventes.
Mas ninguém comeu o versuto versudo.
E o vozeamento que ouvi
não foi volúpia...
Foi o vurmo dos vunjes,
no cume do vuvu.
Vermina a vérmina nos vernáculos.
O vermelho veementemente verdece, verdeja...
Como verduras em vergôntea.
Verga a vergamoteira, vazia de vergamotas, com a ventaneira.
Talvez vuzar o vulgar, essa velhacagem,
me tenha feito vulnerável.
Talvez o verso versicolor e vulnífico
tenha se voltado contra minha voz dessa vez.
A vuva víride verticiliflora no vale vulcânico
tem o caule volubilado?
Ah, volteaduras de vocábulos vazios...
Vã chance de fazer uma volatina...
Não sou volapuquista!
No vale não há voçoroca!
Vociferarei enquanto viver.
Pois a vida não é vitrescível.
Viva a viciosidade dos videocassetes!
Viva as vicissitudes das viagens!
Vacas vivas, somos vítimas
Da volúpia dos violões e das vozes veludosas.
Pontos Cardeais
Meu amor é plenilúnio.
Meio branco, meio azul.
O problema é o infortúnio:
vou pro norte, ela pro sul.
Trova
Foi tentando fazer trova
numa noite mal dormida
que sonhei com a canção
cantada por minha vida.
Sinal
Vermelho pare
e verde siga.
A segurança
é coisa antiga.
(No caos urbano
fenece a vida)
A igualdade:
lenda falida.
(Na pressa vã
esvai-se a vida)
Nunca há paz,
sempre há briga.
(O tiro errado
acerta a vida)
Na ambulância,
uma ferida.
(Na correria
acaba a vida)
Vermelho pare
e verde siga.
Patins
No cinema,
Al Pacino
No armário,
a pátina
Na verdade,
eu patino
sobre minhas teorias congeladas.
Borboleta
A lagarta e a crisálida
A lagarta é a crisálida
A larva
Alarga, alarga, alarga...
Borboletra.
(Fabio Rocha)
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