hoje vou fazer meu poema mais longo
porque o vento induz falésias que nunca vi
e eu, cheio de falhas
escondendo as facas de mim mesmo
não deixo meu canto ser luz
na beira do abismo há o mar
mar de sonhos
os pais por perto em água
tento entender, tocar, fotografar
e não alcanço
nem no oceano
um estado molhado de ser.
nem vou alcançar
enquanto tentar alcançar.
nem vou alcançar, talvez, nunca…
(enquanto isso, fotografo meu sorriso mais falso)
tento de novo
sonho de novo
tonto de novo
os silêncios
contaminando de escuridão
a luz da vela derretida
medito com minha risada
e ouvindo a minha manca risada
antes de abrir os olhos
pareço um filme de terror
o sol lá fora virá
medito falando sem sentido
e logo me acostumo
a falar sem sentido
com hora marcada
duração premeditada
e a meditação vira um método
um hábito
um costume
um saco
medito tentando não buscar nada
não ser nada
não pensar nada
e já estou novamente tentando
medito para me contentar com o que é
mas isso nunca dura mais que uns 100 poemas sem poesia
(quase auto-ajuda doentia)
porque a poesia vive mesmo é quando você solta ela pelo mato
como um cão babando sem plumas nem travas
um cavalo com asas e coices
um passarinho emudecido
cinco sentidos sem sentido perdidos numa mulher…
enquanto isso,
seguro,
gasto os dias numa jaula quadrada
dentro de outra jaula quadrada
lendo um livro quadrado
que ensina técnicas de ser quadrado
e plano para daqui a cinco anos
(quando poderei soltar meu grito e não fazer nada longe de todos)
longe de quase todos
pois carinho é curvo e risco
e o verbo acarinhar
me liga ao impossível por um tempo
então gozo milagres
e é bom
e acaba
(talvez este não seja meu poema mais longo)
(Fabio Rocha)
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