Para Bob Dylan
A dor do dia no apartamento sozinho
me pesa as pernas.
A louça por lavar me olha entre panelas, suspiros e literalidade.
Uma baleia de aço
canta sofrida em algum ponto perto
asfalto.
Ar falta
na ansiedade concentrada
entre o peito e os braços abertos
ansiedade pulsante que se torna
tempestade crescente
Beethoven
e então
letra e palavra...
Palavra escrita
pela voz não dita
voz não dita no apartamento que me aperta o dia
agita antes de usar
aperta e pulsa e uso
relógio no pulso pulsando a vida passando em medidas exatas
entra as minhas asas fechadas e a nostalgia do que não faço
matemático.
Mas algo me mostra que
apesar de tudo e de nada
o momento é perfeito
o momento formado por todas essas partes do todo caótico
e a gaita de Bob Dylan
e a baleia indefinível em algum lugar por perto
algum lugar por certo que não se pode ver pela janela
(tiros ao longe, tiros dos jornais de amanhã)
a solidão da plenitude...
Nada poderia ser diferente no dia
na minha vida
no mundo
ou no universo
pelo bem desta canção.
(Fabio Rocha)
(Este poema interrompeu o belo, louco e longo filme "Não estou lá", sobre Bob Dylan, passando agora no Telecine Cult.)
2 comentários:
"relógio no pulso pulsando a vida passando em medidas exatas
entra as minhas asas fechadas e a nostalgia do que não faço..."
Que verso lindo!
Ansioso, enjaulado e lindo!
Belo poema. Bem "Amor fati".
Beijos
meus
Beijos, amor, obrigado!
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