Vou dormir.
Tenho 6 horas de sono
e o inconsciente me acorda
na terceira
com um grito gelado
na goela:
ela.
A resposta?
A mesma casa antiga
do cachorro todo ossos negros
ela fantasma no segundo andar
eu no primeiro.
Eu no corredor
deitado no chão como morto
como desistente
ela não diz nada
vem e tira fotos
eu não digo nada
nem abro os olhos.
Ela guarda o filme da máquina
no congelador em minha cozinha da infância
e entra em seus aposentos sombrios
(quarto da irmã?)
eu pego o filme gelado
revelo (rebelde)
e guardo.
Como se o pacto de silêncio mórbido
nos aproximasse
estamos num carro
num drive-in
eu espectro, quase inexistente
ela descontente, reclamando com amigas que chamou
"Está difícil achar alguém que não me faça mal..."
me deixa as sobras de pipoca e refrigerante sem dizer palavra
(que devolvo em silêncio, silêncio mesmo em que revelei minhas fotos)
e ela fala do vizinho desinteressante que tentou tentar
e meu peito acelera em silêncio até o despertar.
(Pai nosso que estás ao léu,
estou rimando ar com ar...)
Acordo sem entender meu silêncio
com vontade sobrehumana de perguntar simplesmente:
"Tudo bem?"
mas o trem
o tempo
o pacto
a mágoa
o livro
a ainda esperança de cura da doença que foi amar
através do não-dito (publicado)
e da distância (inventada).
Como é difícil
não estarmos mortos
e fingirmos star.
(Queria alguém
para sentar na beira da cama
contar nossa história
e chorar.)
(Fabio Rocha)
2 comentários:
Por isso é importante viver o dia…
BeijooO'
pois eh. beijao
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