Para Caio Fernando Abreu
O sábado sempre acontece por detrás das janelas agora... Mas já houve um tempo em que no sábado eu estava no sábado. E era quente e bom. Olhava os passarinhos e, de tanto estudar seus movimentos, acreditava saber racionalmente os segredos do vôo. Só me faltavam braços mais gordos, mais asas. Asas que eu treinava gritando "Homem-Pássaro" com as folhas das palmeiras que livremente arrancava... Espanava, espanava, corria mas não conseguia subir. E nem me importava. Nos sonhos também, eu só conseguia pular alto e cair devagar pelo ar, flutuando por saber o segredo dos pássaros. Sábados aéreos. Ilimitados. Rios no quintal com a mangueira... Olhar a água penetrar a terra, criar o novo, levar embora o antigo... E o fogo das fogueiras. Meu avô fazendo maria-preta pra subir na noite negra, breve e leve e mágica. Balões com fogos nos chamavam de quando em vez pra fora. A tartaruga sempre perto para alguém tropeçar... Lagartas que viravam borboletas nas garrafas... E, eis que o domingo se acaba e antecede o final de tudo. E a música dos Trapalhões são trombetas do inferno vindouro fora da casa da minha avó. E o mundo tem peso de novo.
(Fabio Rocha)
17 comentários:
Esses dias em que se vive o dia presente, passam rápido.
Gostei do texto e da ilustração, uma boa nostalgia.
Beijo.
Fabio,
é intenso, tão belo do belo, o que acabo de ler e reler com gosto de mais, o ficar. É choro delicioso, o som de um silêncio que não anuncia bruma. E se encontra nos olhos o olhar ao som do infantil na infância por confirmar a boca que sorri, pronunciando o nome.
No momento, minhas forças se esgotam porque ao penhasco se joga, e lá no fundo não habita em meu âmago o receio da redescoberta, assim como se arranca a primeira camada da pele.
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"Saí de casa, era uma manhã fria, sem Sol, em que as árvores pareciam mãos enormes buscando a Primavera no céu sem cor...e a chuva caía...caía...
Comecei a andar, abri o guarda-chuva, a rua parecia-me imensa, toda branca, beijada pela chuva. Os pardais voavam nas árvores talvez lobrigando nelas flores, Sol. Senti que era Inverno.
Virei a esquina e ali no chão estava uma bolinha castanha que já não chamaria mais a Primavera... fiquei parada, contemplando o passarito, como se ele fosse um sinal vermelho que me impedisse de avançar.
Olhei, olhei mais, vi uns olhos abertos, uns olhos sem vida e aquelas penas castanhas...não mais enfrentariam o vento...
Não podia fazer nada. Andei. No ar voavam mais pardais e aquele ali, jamais voaria. Andei. Ouvi a mulher das flores a apregoar e a carroça das hortaliças que chiava longínqua.
Na calçada soaram enfim os meus passos, caminhando sozinhos com a chuva...
Olhei para o céu, brilhava nele o Sol, a chuva tinha parado e o arco-íris era uma cavalgada imensa para o infinito...
Pardal...nascia a manhã dos pregões, das conversas, nasciam nos ninhos mais pardais e aquele sozinho, perdido na multidão das pedras brancas, jamais esperaria o Sol, as flores, o arco-íris, estava morto, enfim".
Lopes, Adília
Abraços belo pássaro!
Priscila Cáliga
Deu saudades da minha infância...
Adorei ler este post!
Abraços, poeta.
P.S.: Quem é o cara da foto?
Lara, obrigado! Nostalgia é o nome de uma música linda do Yanni, conhece?
Priscila Cáliga [:)], a história de pássaros que não voam é sempre triste... Mais ainda quando mortos. :) Mas gostei do fluir do texto com que nos brinda. Obrigado! Abração
Meu Anjo, o cara da foto do desenho desconfio ser eu, ou eu dentro de um robô gigante para combater os aviões-naves baseados no Pirata do Espaço (desenho velho)... :) Talvez. Faz tempo... Não entendi bem foi o sol triste...
Ahh, eu sabia que era isso! ("eu dentro de um robô gigante para combater os aviões-naves baseados no Pirata do Espaço").
E o sol triste realmente é um mistério, afinal, acho eu que você estava quase ganhando a batalha!
Eu também via Spectreman e Ultraman. :P
de uma beleza integral
Obrigado, Beatriz! Beijos
Quanto mais eu leio Caio F. Abreu, mais entendo suas palavras. Em um fim de semana, na simplicidade ele encontrou a renovação.
BeijooO'
Um belo fragmento do Caio. Nostalgia, inocência, memórias ricas de sentidos. beijo.
O desenho é uma delicia....
Bj
Texto delicioso de ler!!!
... E mais ainda... desenho sensacional!!! =]
Abraços com cheiro de infantices!...
... Falando-se em neologismo...
"Um menino nasceu. O mundo tornou a começar"
Guimarães Rosa.
Gente, o texto e desenho são MEUS, homeagem ao Caio que ando lendo muito... Bom sinal terem confundido. :) Beijos
Bela postagem, como sempre vejo por aqui ! Muito bom o teu espaço ! Um beijo e um carinho.
... eu sabia ;)
gostei do texto. e do desenho. muita nostalgia, né?
:**
Pois é... Beijos!
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