sábado, 26 de junho de 2010

O SONHO

mar fundo
eu na água rasa
um navio encalha
e não afunda
graças à âncora
presa na montanha ilha
sólida rocha


mas navios naufragados devem naufragar...
(afago arfante cortando a calma da noite, quase acordando)

mar alto
outro navio vem ajudar
a afundar
corta a âncora
com outra âncora
e submerge silenciosa a nave antiga
a baleia de metal
devagar
escura
escorre azul
morre

mar isto
eu no raso
sem esperar horizontes
eu só medo do som da batida
e de tudo quanto pode me alcançar
quando ela tocar o fundo

(Fabio Rocha)

7 comentários:

Luiz Libório disse...

...esfumaçadamente lindo...

Fabio Rocha disse...

Obrigado, meu amigo Luiz. Coincidentemente hoje, depois desse sonho estranho, fiquei tentando ver um filme de 3 horas do David Lynch, "Império dos Sonhos", incompreensível, inútil, nada minimamente decifrável. Abraços

Batom e poesias disse...

"mas navios naufragados devem naufragar"...
É triste e inevitável.

Mergulhei fundo nesse poema, Fábio.
bjs

Rossana

Fabio Rocha disse...

Rossana, que bom que o poema aquoso lhe refletiu... ;) Bjs

Fabio Rocha disse...

Retoquei 2046 vezes o poema...

Anônimo disse...

Um soçobrar e tanto, uau!

Fabio Rocha disse...

Valeu, LaramaraL. Até seu nome é poesia. ;)