"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema."
(Cora Coralina)
um passarinho na gaiola
me pensa
a borboleta distraída
por estar distraída
sabe a sabedoria das árvores
sem finais felizes sem lagartas sempre no instante
verde
um riacho me ri
(é raso, Heráclito)
através da mulher
o Ser me brilha tal qual a nona de Beethoven
(confesso fatigado, entre Osho, Raul, Manoel e trocentos desloucos que me soul)
é que através do viés
da curva no tato
me perco em mim, em eu, em tão pouco
que desfaço meu iluminar tão tênue
cresce no peito
a palavra
Minha
combato a sagrada luta de espadas
contra o eu
e mais ainda
contra a unha
da palavra única Minha
só Minha
a palavra Minha
é mínima
e restringe o todo a uma
o todo é um
mas é mais que só
é mais que a soma de tudo
é mais que matemática e contrato
as pessoas são pessoas são pessoas são pessoas são pessoas
no fogo
meu eu se desfaz em musgos e liquens
cada vez que respiro fundo e calo a boca de palavras tais quais essa
cada vez que salto e vôo e vou e Caio
eis que no instante mágico
em que destropecei sem medo de tropeçar
fui sem pensar em ir
boiei em vez de nadar
todas as floras da primavera me abrem
ergo mares íntimos e Netuno molhado se espanta
escrevo dragões com lápis cego
arrisco tudo
tenho epifanias com roseiras
aceito rosa e espinho
ouço a nona
e finjo fingir ser o último mestre do ar
você consegue
neste mundo de peso
vir comigo voar?
(Fabio Rocha)
OBS: Não agüentei os sete dias sem fazer poemas. Nem foi um exercício consciente de contradição... ;)
OBS 2: Quem me fotografou foi Fátima Nascimento, em Atafona, São João da Barra, Rio de Janeiro, onde o mar e o devir vencem o homem e sua mania de perenidade desde os anos 70:
OBS3: Leia se for ciumento. :)
12 comentários:
Este post foi daqueles que faz suspirar.
E tudo que se contém demasiado, costuma transbordar. Aqui a inundação foi de poesia.
O cenário em Atafona é mesmo desolador, mas penso que alí, o mar vem tomando tudo o que lhe tomaram.
Este verso é demais:
"é que através do viés
da curva no tato
me perco em mim, em eu, em tão pouco
que desfaço meu iluminar tão tênue...
cresce no peito
a palavra
Minha..."
Desejo que esteja bem, e sem dores.
abraços
Que bom, Mai, obrigado!! Saudade! Eu tava ruminando um poema enorme, ajeitando, limando, sofrendo e não gostando muito do resultado por dias até que o iPhone apagou ele. Foi bom que escrevi esse direto e gostei mais... :) Minha poesia melhor no limite do transbordar mesmo, talvez. E aí vem de uma vez só... Estou bem sim. Espero que contigo também esteja tudo em paz. Beijos
Perfeição.
Gostei mais do fim, mas foi tudo tão assim... Grandioso!
Muito, muito foda. =)
(Me dá essa foto pra eu colocar aqui?
http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=6363194988413925775&aid=1283083792 )
Ah, Libório danado! Você gostando eu tô feliz! Imagina achando bom desse jeito... Você geralmente vai dentre mil poemas no que eu também achei com voz boa. És apurado. Claro que pode usar a foto! Abração e obrigado
Maravilhoso!
E ao contrário do Libório, gostei mais do começo, mas foi tudo intenso, transbordante!!!
:)
Legal! Obrigado, Gi! Beijos
nossa... achei legal seu poema
concordo com todos vcs =)
Que volta, mano!
Obrigado, Cíntia! Beijos
Ígor, mano véi, I´m back! :)
Que bom ter gostado também...
Cara, escrever aqui e ler vocês é tão bom e viciante que nem aguentei uma semana inteira de férias. :))
Abração
Eu já te disse que admiro MUITO a tua poética?
Se não, fica dito.
Um beijo,
Talita
História da minha alma
Obrigado, Talita!! Beijo enorme
Postar um comentário