Para Virginia Woolf e todas as minhas psicanalistas
estou leve
e quero fazer um poema longo
aninhado no que sempre fui
odeio festas
mas isso é um detalhe
em algum lugar do mundo
deve haver um artista ruim e feliz
dançando a macarena
a micareta
a pocahontas
algo assim
dito isso
o poeta morrerá
atirar
atirar-se
atirar
o vazio
do peito
pra frente
e passar
a vida
correndo atrás
e chegar
alto
do alto do morro
do ponto de máximo
da parábola fria
os escritores enxergamos
por baixo dos sorrisos, conformismos e segurança
o lindo terror humano
nosso olhar
não é jamais apático
menos ainda atento ao que deveria
queima de algo mais forte e fundo
como um mar que invade um quarto seco e quadrado
em segundos
sal
o sal do mundo
(ovos que se quebram)
desistir é renascer
os trens nos atraem
traem
traíras
traímos
gostamos de passear
vozes
silêncios
nada ou ninguém nos pode curar
lutamos
sozinhos
no escuro
e conseguimos tornar mais doente
pelo menos um pouquinho
esse mundo são
(Fabio Rocha)
10 comentários:
Nada ou ninguém, pode nos curar!
Beleza fria de verdade cortante!
amei.
beijo
Eis a face, e a sina, dos escritores.
Adorei o texto! Parabéns, poeta!
Obrigado, meninas. :)
Parecemos tão alheios... Mas estamos tão por dentro... =)
Meu amigo Luiz, obrigado por tb odiar festas... :)
Fabio,
as horas, nas horas vá sempre: nas flores do mais.
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Devagar escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro olhar
sobre o galope molhado
dos animais;
devagar
peça mais
e mais e
mais.
Cesar, Ana Cristina
Abraços vaso!
Priscila Cáliga
Priscila, adoro suas leituras! Obrigado por dividi-las! Há braços
Esses poemas como a vida, de viagens sem volta, são encantadores.
Beijos.
Que bom ter curtido, Lara! Beijos
"Estou perdendo as minhas
ilusões, talvez, para adquirir
outras novas".
[Virgínia Woolf]
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