(Estava me sentindo um pouco agoniado de publicar só poemas de amor aqui no dia dos namorados, talvez reforçando o padrão de idealização do romantismo que faz tanta gente sofrer com esse dia. Ainda mais agora que passamos de 25.000 cadastrados para receber as atualizações da Magia da Poesia por e-mail. Não tem nada a ver com poesia, é prosa, mas espero que possa ser de alguma ajuda para os tantos que sofrem nesta data e com o amor romântico em geral.)
Já parou pra perceber o quanto é sua mente que cria as experiências? Da mesma forma que você olha um tijolo e nem percebe que esse conceito - tijolo - surge no automático. Sem notar que ele é feito de barro, a mesma matéria que compõe um vaso, por exemplo. Sem nem se perguntar o que faz daquele barro um tijolo. Instantaneamente - a gente olha o vaso e vê vaso, olha o tijolo e vê tijolo. Não notamos que nós é que construímos na mente os objetos instantaneamente através de nossos hábitos.
Agora use essa forma de perceber para aquela dorzinha no peito que aparece no dia dos namorados, principalmente para os que estão solteiros. Não fuja, não se distraia. Encare. Por que as relações passadas parecem derrotas por terem acabado? Vamos olhar mais vagarosamente isso, saindo do instantâneo. Não seria o mundo uma dança de inícios e fins, em tudo? Então por que isso dói? Por causa da porcaria do mito do amor romântico eterno, sendo que - na prática - tudo acaba. E sabendo disso, podemos aproveitar a relação muito mais, enquanto durar. Mas, como somos programados desde cedo a entrar no padrão de relacionamento "felizes para sempre", associamos cada término a uma derrota pessoal. E aí dói.
Ao mesmo tempo, podemos notar que, associada a essa dor, há um apego ao ser que "perdemos". Novamente de forma automática podemos nos bombardear com pensamentos negativos do tipo cultuado em músicas românticas: "será que você ainda pensa em mim", "se um outro cabeludo aparecer em sua vida", "a falta que você me faz", "é impossível ser feliz sozinho", "eu quero só você", e trocentas mil formas de mimimis doloridos. Somos criados para ter esse apego e há uma vasta produção cultural (filmes, músicas, livros...) que reforça e cultua isso ao longo de toda a nossa vida. Sem falar nas propagandas na TV perto do dia dos namorados. Esse vídeo do Porta dos Fundos é bem esclarecedor sobre o fenômeno que criamos e no qual acreditamos constantemente - o amor romântico, a alma gêmea, o meteoro da paixão etc.
Para completar, tem os amigos namorando que parecem tão felizes no facebook, expondo seus presentes e sorrisos, aparentemente alheios aos problemas filosóficos do consumismo e do amor romântico. Porém, isso é facebook... Não há festa.
"A ideia de amor apaixonado, romântico, que emergiu no Ocidente durante o último milênio é uma de nossas heranças culturais mais destrutivas.
Isso porque sua principal aspiração - a descoberta de uma alma gêmea - é praticamente inatingível. Podemos passar anos à procura dessa pessoa elusiva que satisfará todas as nossas necessidades emocionais e nossos desejos sexuais, que nos proporcionará amizade e autoconfiança, conforto e risos, estimulará nossas mentes e compartilhará nossos sonhos. Imaginamos que existe alguém no éter amoroso que é nossa outra metade perdida, e que nos fará sentir completos, bastando apenas que possamos fundir nosso ser com o dele na sublime união do amor romântico.
Nossas esperanças são alimentadas por uma indústria de filmes românticos de Hollywood e um excesso de ficção barata difundindo essa mitologia."
—Roman Krznaric
Se percebermos como são vazias essas construções que nós mesmo fazemos e que doem, podemos sentir de outra forma. Podemos ver a beleza do que trocamos com as pessoas enquanto durou. Podemos desejar que - como seres que buscam a felicidade - as ex e os ex sejam felizes. Podemos ser agradecidos pelo tempo bom que passamos juntos. Podemos nos alegrar ao perceber que tudo continua, que seguimos e que a felicidade verdadeira não depende de outra pessoa da forma como o romantismo ensina. Basta parar um pouco e apurar o olhar.
Resumindo, podemos tentar nos lembrar disso sempre (já sabemos disso racionalmente), sobre relacionamentos:
1 - Não vai durar pra sempre (nós, no mínimo, morremos!) - aproveite cada segundo;
2 - A felicidade não vem do outro (é possível ser feliz sozinho sim!);
3 - Quanto mais nos agarramos, quanto mais paixão, mais sofrimento. Quanto menos possessividade e autocentramento, melhor. Em resumo, "Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para ficar e motivos para voltar." (Dalai Lama)
OBS.: Isso também vale pra ex-amigos, toda forma de relação. Não é algo só com você. Tudo flui: não há derrota em términos e afastamentos. Não é preciso sentir de uma forma dolorosa, se você conseguir olhar com mais sabedoria. (Isso não significa que você deva aceitar tudo das pessoas nem mentir para si mesmo que não há dor num caso mais horroroso de relação. Se alguém te fez algo péssimo e você não consegue ver de outra forma, encare como um motivo para se alegrar pelo afastamento - tendo compaixão consigo mesmo. Inclusive, se for o caso de relação abusiva, denuncie pras autoridades, você estará prestando um serviço para a sociedade, pra você mesmo e para a própria pessoa.)
OBS.2: Veja também esse vídeo genial sobre amor romântico e amor genuíno, que passou de 2 milhões de visualizações aqui no youtube.
É de Jetsunma Tenzin Palmo, que passou 12 anos meditando de forma isolada em uma caverna. Eu acho tão importante que gosto de revê-lo de tempos em tempos. Liguem as legendas em Português abaixo, à direita. (Aqui deixei um resumo de palestra de Gustavo Gitti e outras visões sobre o tema no Budismo). Outro vídeo indicado é do Thich Nhat Hanh, aqui. Outro. E adoro esta metáfora poética:
1.
Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
2.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.
3.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.
4.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.
5.
Ando por outra rua.
Texto extraído de O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Sogyal Rinpoche (Ed. Talento/Palas Athena)
OBS. 3: Amor livre ou poliamor não me parece ser a solução para este problema, pela minha própria experiência com ele. Porque acaba sendo outro pacto pensando primeiro em você mesmo, de forma autocentrada, apenas outra forma de controle sobre o outro. Ou uma liberdade compulsória imposta ao outro baseada em egoísmo. Ou uma forma de amenizar o medo da perda, mas sem efetivamente acabar com a chance da perda.
as cidades são o câncer do mundo
semeando cinza
alteram o metabolismo do tempo
aceleram a pulsação por rodovias engarrafadas
tudo e todos correndo correndo correndo atrás de nada
até que explode
uma bomba, um louco, um poema
este certame visa a expansão da consciência
da importância
e da impotência
das couves
o ineditismo literário
é temerário
arbitrário
mas imprescindível
podem inscrever-se escritores ambidestros
de ambos os sexos
que desenhem com as duas mãos nas quintas-feiras
e leiam e releiam este regulamente oito vezes
pagando a taxa irrisória de um milhão de reais
para cobrir os custos de digitação do abecedário glorioso
e dos troféus e medalhas de honra ao soldado desconhecido
que serão entregues aos egos competitivos vencedores
em cerimônia solene e iluminada
no salão nobre da casa da mãe Joana
na rua das couves, 666
em data a ser definida num dia indefinido
quando do festival das couves
a banca julgadora será constituída por ilustre marceneiro anônimo
composta de mogno
firme e sólida
sobre a qual serão performados sacrifícios ritualísticos de couves
para alimentar as massas
(os competidores que morem na cidade das couves estão, desde já, agraciados com o prêmio maior: a couve sagrada)
para inscrever-se, o autor deve ser inédito e insone
não ter livro publicado, namorada, filho ou árvore plantada
gostar de quiabo e couve
e nunca jamais pode ter dançado com o demônio sob luz do luar
o tema obrigatório são as couves
suas cores
seus sabores
seus movimentos ao vento…
os trabalhos devem ser enviados num envelope menor lacrado de papel pardo com codinome secreto
dentro de outro envelope menor lacrado de papel pardo com outro codinome secreto
dentro de outro envelope menor lacrado de papel pardo com outro codinome secreto que não se refira a couves
dentro de uma caixa enorme enviada via carta registrada com carimbo da Dinamarca e sem quaisquer identificações
acompanhando um cd e um pendrive e um iPad com o texto digitado com codinome secreto
(o nome verdadeiro do codinome deve ser enviado por telégrafo ou sinal de fumaça)
é imprescindível o uso de letras corpo violão 12, folha A3 dobrada 12 vezes, espaço 1,575 (estrelinhas) e fonte Times ou Arial ou couves
os vencedores receberão o título de vencedores
os perdedores receberão a missão de invejar os vencedores
que terão seus textos em prosa ou poesia publicados
(num livro inédito que venderá a amigos contrariados)
com o propósito de não poder mais participar de concursos literários como esse
que exigem o ineditismo
o prazo limite para o envio das caixas com envelopes e equipamentos é o de ontem
(se não chover e estragar a horta)
os casos omissos no presente regulamento ficarão omissos
enterrados no fundo da terra
(como a raiz das couves)
ADIO O poema que não me dorme
Desejo pousar a mão enorme
Na pele mais proibida
Que vejo
Percevejo a paz de ser cego
e em Santa CRUzzzzzzz CHOve
*
palavras e águas
escorrem
em muros brancos velhos meio tortos
limo da infância que não há
pomba branca
madrugada escura
não HÁ cura
perco poemas na rua
*
medito e não medito
do meio disso o interdito
interestadual ônibus feira depois
que nunca chega
*
adio há dias
meses
vidas
*
MAIÚSCULA voz que não digo
tudo de que não saio
saia que não depende de mim
no entanto
olhos que vêem
fora do agora
só agonia
ANESTESIO um poema
que me anestesia
*
pensamento acelerado por
dormir pouco pra curtir a vida
dormir mal sobre a omoplata vencida
dormir torto pra melhorar a coluna
procurar motivos por dormir mal
e sonhar com ela beijando outro
*
o pólipo do poliamor é benigno
deve ser cortado sem risco
calculado sem anestesias
vivido em fuga
fugido em vida
correndo, correndo
atrás de um rabo
ou um cargo
ou um míssil que exploda esta bosta toda
que CALO
se olhos vêm na direção contrária
de encontro direto ao coração
brilhando milagre abissal
freio de mão:
desvio ao real
que todo encanto padrão
tem pressa de passar
(e mal)
porque o vento induz falésias que nunca vi
e eu, cheio de falhas
escondendo as facas de mim mesmo
não deixo meu canto ser luz
na beira do abismo há o mar
mar de sonhos
os pais por perto em água
tento entender, tocar, fotografar
e não alcanço
nem no oceano
um estado molhado de ser.
nem vou alcançar
enquanto tentar alcançar.
nem vou alcançar, talvez, nunca…
(enquanto isso, fotografo meu sorriso mais falso)
tento de novo
sonho de novo
tonto de novo
os silêncios
contaminando de escuridão
a luz da vela derretida
medito com minha risada
e ouvindo a minha manca risada
antes de abrir os olhos
pareço um filme de terror
o sol lá fora virá
medito falando sem sentido
e logo me acostumo
a falar sem sentido
com hora marcada
duração premeditada
e a meditação vira um método
um hábito
um costume
um saco
medito tentando não buscar nada
não ser nada
não pensar nada
e já estou novamente tentando
medito para me contentar com o que é
mas isso nunca dura mais que uns 100 poemas sem poesia
(quase auto-ajuda doentia)
porque a poesia vive mesmo é quando você solta ela pelo mato
como um cão babando sem plumas nem travas
um cavalo com asas e coices
um passarinho emudecido
cinco sentidos sem sentido perdidos numa mulher…
enquanto isso,
seguro,
gasto os dias numa jaula quadrada
dentro de outra jaula quadrada
lendo um livro quadrado
que ensina técnicas de ser quadrado
e plano para daqui a cinco anos
(quando poderei soltar meu grito e não fazer nada longe de todos)
longe de quase todos
pois carinho é curvo e risco
e o verbo acarinhar
me liga ao impossível por um tempo
então gozo milagres
e é bom
e acaba
São essas as perguntas que mais vejo na internet. Tentarei responder com o que aprendi vida afora.
Primeiro, é preciso que você leia, como bem lembrou um leitor desse site de Luanda, “o aspirante a poeta ou novelista deve primar pelo domínio da língua (gramática) e possuir um certo grau de vocabulário, que lhe advém de muita leitura.” (José Luís Mendonça) Sem isso, é impossível escrever realmente bem. Correndo o risco de parecer óbvio, lembro também a importância de reler o que você mesmo escreveu.
Dito isto, para saber o valor do seu texto, acho o mais importante você mesmo gostar dele. Vai ter sempre gente que vai gostar e gente que não vai gostar, mas o que importa mais é a sua própria opinião. Além disso, ninguém sabe direito o que é ou não é arte. Logo, não valorizo os críticos profissionais, assim como muitos poetas. Também questiono o valor do conhecimento teórico para escrever poesia. Acho que podemos criar muito bem sem saber escandir, o que é uma redondilha, poesia concreta, a diferença entre haikai e poetrix, ou quem foi Bashô. Fazer uma faculdade de Letras também não me parece uma condição necessária.
Uma dica que me deram quando comecei e acho interessante é não se prender muito à forma do poema, principalmente nos seus primeiros poemas. Temos a tendência a encher de rimas ou se preocupar demais com a métrica quando começamos a escrever poesia. E o essencial é a mensagem, o que você quer passar, o que tem a dizer.
Além disso, como bem disse Bukowski em seu poema “Então queres ser escritor”, é preciso ter o que dizer. O essencial é isso. E ter paixão por escrever. Rilke, em seu “Cartas a um jovem poeta” diz que “Basta sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.” Leminski dá outras dicas boas nesses vídeos. E Quintana, nesta carta. Não deixe de ler também essas cartas de Caio Fernando Abreu que fala sobre o que é ser escritor.
Quanto a escrever um livro, buscar editoras, revistas e concursos literários, falo mais nesse post, onde também deixo um conselho de Rilke pra quem quer ser poeta. Bukowski também fala bem disso aqui. Em resumo, recomendo que faça um blog em vez de publicar um livro, que aproveite a liberdade que a internet proporciona. Mas, se tiver aquele sonho de um livro em papel, tome cuidado com editoras que só visam o lucro. Há várias hoje em dia que não cobram nada de novos autores, se acreditarem em suas obras. Antes de tudo, porém, registre seu livro na Biblioteca Nacional (Escritório de Direitos Autorais – EDA), como sempre fiz com meus livros e e-books. Quanto aos concursos literários, hoje em dia acho a mesma coisa do que os críticos… Vale mais é a importância do escrever para você mesmo. Mas se quiser participar, atualmente há um blog sem fins lucrativos que está organizando e divulgando muito bem os concursos literários: http://concursos-literarios.blogspot.com.br/
Se tiver mais alguma dúvida, deixe um comentário que tento ajudar mais.
Um abraço e boa sorte!
(poema em homenagem a Globo Frases e ao site Pensador)
com a escrita, perdemos a memória
com a memória de uns gigas do PC, perdemos a capacidade de ler
textos com mais de três linhas
e de reconhecer, ansiosos,
tanta incompetência e estupidez
se o poema me foge
rasgo a pele da palavra
saio de mim e tranco a porta
rimo impossível com cambalhota
caço o espaço de silêncio
com metralhadoras suicidas
e escrevo o indizível
como missão cumprida
vejo todas as cores infindas
vejo os mares de flores
vejo amares, amores de rima
delícias divinas, belezas extremas, decisivos ardores…
vejo atores cansados, chagas, latrinas
restos de fogo e de mágoa
numa outra mesma menina
(pois começas sempre
e nunca terminas)
me deixou um beijo bom
e batom na bochecha
entrou no ônibus
para nunca mais
ah, meu Deus
certo ou errado,
que eu tenha deixado algo bom
mais do que tirado
tentamos o fim e o início. tentamos tanto… como pode não bastar o que era?
outono. não era pra estar frio? suo. ligo o ar? estou distante de tudo. ligo o ar? sempre estive distante de tudo. lembro que eu precisava perguntar a meus pais se estava frio, para ligar ou não o ar. o ar me desliga.
o cabelo preto no sofá branco. a agonia e o terror do cabelo preto no sofá branco que tanto incomodava, agora fazer eu quase querer deixar o cabelo preto no sofá branco.
a casa branca. tão branquinha que nem precisou de empregada essa semana. o blindex do banheiro sem respingos, a pasta de dente fechada, a pia sem milhares de cremes, o quarto onde se pode caminhar… a casa toda branca como as nuvens do céu. silenciosa e branca. fria e branca. terror branco.
(quando penso em meditação, rio caudaloso.)
a casa está pronta pra receber a rainha da Inglaterra, só não há espaço para ser feliz nela.
encho as garrafas de água que sempre se esvaziam. como pouco o dia todo. guardo a louça que você lavou e sempre se suja. mantenho a ilusão de colocar ordem nas coisas para que, com as coisas arrumadas, eu possa descansar. mas nunca estão arrumadas em definitivo. e nunca descanso. nem durmo direito.
(quando virei um metódico?)
há infinitos textos por fazer. se eu não fizer, vou esquecer. há contas a pagar, problemas com empresas a sanar, matérias a estudar, prosas a rimar… arrumando as almofadas manchadas lembro dos morangos mofados de Caio: “O caminho é in, não out.” Vontade de viajar. há tudo e não há você.
há também os poemas não publicados, que agora não publico da mesma forma. há os segredos que nunca houve. e a pergunta imensa: o que diabos eu queria fazer e não podia?
hoje tem curso o dia todo no trabalho. mas é sobre o gerenciamento de projetos, não é sobre o amor.
e se o amor for simples demais para mim? talvez eu precise complicar a fera para fugir da pantera… talvez eu devesse voltar pra terapia.
guardo, enfim, a foto na gaveta.
há seres em estado depressivo constante que acham que isso é charme ou literatura. arrastam um medo enorme da felicidade. não pela felicidade em si, mas por sua finitude. algo como abrir mão de um pastel por ser o último, porque o pastel vai se acabar e não há outro para comprar... se refugiam em uma aura cinza e repetem exaustivamente outros sem cor ou sabor (e nada literários) falando que a felicidade acaba como papagaios. um choro sem fim de crianças mimadas.
não sei se essa felicidade ocasionada por motivos externos e voláteis deveria ser chamada de felicidade. de qualquer modo, eu escolho as cores. e prefiro criar a repetir.